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2/2013

Impressões sobre o MWC em Barcelona

Eduardo Tude

Terminou hoje o Mobile World Congress realizado anualmente em Barcelona.


Comentamos neste Blog como foi a abertura do evento e os temas principais em debate. Apresento a seguir alguns comentários fruto da minha participação no Congresso, reuniões e visitas a Stands.


Participação dos  vários continentes do mundo


Nota-se no MWC a crescente importância da Ásia para o setor. Não só pela participação massiva de empresas e profissionais deste continente, mas pelo espaço ocupado pelo seus players.


O CEO da China Mobile, maior operadora de celular da China (e do mundo), tem sido um dos palestrantes na principal sessão de key notes speakers do Congresso há alguns anos. Neste ano, pela primeira vez, o novo CEO fez uma palestra em inglês e não em Chinês.


As operadoras Coreanas estão sendo reconhecidas como as mais avançadas no mundo em banda larga móvel. Os Coreanos estão vivendo no futuro. Em 2012 o uso de SMS na KT caiu 75% e o de voz 16%. O consumo de dados por usuário por mês é de 1,7 GByte.


No Japão a NTT DoCoMo, que criou um modelo de sucesso com o compartilhamento de receita com desenvolvedores para a Internet móvel, está sob forte pressão da Softbank e resolveu trilhar um novo caminho oferecendo ela mesma serviços de valor adicionado e competindo com os Over The Top (OTT) providers. Não creio que esteja no caminho certo.


Estados Unidos com a AT&T e Europa com os CEOs das principais operadoras (Telecom Italia, Telefonica, DT, Vodafone) também tiveram papel de destaque.


A América Latina apareceu pouco nos debates gerais. A África acabou tendo mais destaque. Aconteceu um evento fechado “Latin America Regional Summit 2013” que contou com a participação do Ministro das Comunicações Paulo Bernardo.


O Brasil esteve presente no evento com o Ministro, Presidente da Anatel e representantes do Congresso como o Deputado Julio Semeguini, Presidentes de operadoras ( Valente, Rodrigo abreu, ...), jornalistas e profissionais. Várias empresas montaram seus stands, como o das empresas que tiveram o suporte da Softex e o Titans Group.



OTTs e operadoras

 

Em mais um capítulo do já tradicional debate entre Operadoras e OTTs o caminho vai apontando para ações colaborativas entre as partes. Afinal, um precisa do outro.


Como ilustração comparo a colocação do CEO da Vodafone ocorrida em um painel, com a do CEO do Viber feita em outro painel.


Vitorio Collao da Vodafone disse que para combater o Skype, What’up e outro aplicativos que permitem uma redução do custo das comunicações a Vodafone está lançando planos com voz e SMS ilimitados. Assim, os usuários podem continuar usando estes aplicativos por que gostam deles, mas não apenas para economizar.


O CEO da Viber apresentou como “Case” o principado de Mônaco, estado com alto poder aquisitivo onde a operadora oferece SMS ilimitado e mais de 90% dos usuários utilizam o Viber. Na visão dele o que atrai os usuários é a interface inovadora e não o preço. Para ele não é possível compatibilizar inovação com interoperabilidade. Os OTTs ficariam com a inovação e as operadoras com a interoperabilidade.


Esta certamente não é a visão dos CEOs das principais operadoras, que pediram mais regulação de mercado para os OTTS como forma de quebrar “monopólios”.


Redes


As novas arquiteturas de rede continuam sendo gestadas nos principais fornecedores (Alcatel-Lucent, Ericsson, Huawei e Nokia Siemens).


No ano passado a grande novidade era o avanço das “small cells” e de redes definidas por software (SDN). Esta nova arquitetura está sendo agora implementada ganhando cada vez mais importância a questão do backhaul para interconectar as macro e smal cells preferencialmente com fibra. A rede de fibra para oferecer banda larga fixa é cada vez mais importante para a banda larga móvel.


O que está em discussão agora é a virtualização das redes, ou seja, centralizar funções como se elas estivessem em seu próprio equipamento. Promove-se desta forma uma separação maior do hardware e do software. As funções que são hoje executadas pelos softwares dos vários equipamentos passariam a ser executadas de forma centralizadas em um data center. Migrariam para a nuvem.

 No limite, seria algo como acabar com todas as centrais telefônicas do Brasil e executar a função de estabelecimento de chamadas em um único data center ( com um outro como redundância).


Este é o conceito em linhas básicas, que deve passar agora por um longo processo de padronização e especificação.



Smartphones


Apesar do Samsung S3 ter sido escolhido o melhor dispositivo do ano na seção de premiação do Congresso, a realidade é que existe agora um leque grande de opções de Smartphone topo de linha que não ficam nada a dever ao iPhone ou ao Samsung S3. Entre eles destaca-se o Lumia da Nokia, o Experia da Sony e o novo Blackberry.


Cresce também a quantidade de modelos dos chamados featured phones. A Nokia, líder neste segmento, está lançando novos modelos com preços acessíveis para os mercados emergentes.



NFC, Mobile advertising, Internet das coisas e Mobile Enterprise


O NFC, utilizado para pagamentos móveis e outras aplicações, foi uma das estelas do evento. O GSMA está fazendo um grande esforço para sua difusão no mundo. Vamos ver se o Brasil acompanha esta onda.


Assisti uma apresentação do CEO da Jana, empresa especializada em recompensa por airtime móvel. Ele concluiu que é muito difícil conseguir um retorno do usuário por propaganda móvel em países emergentes, pois ele não tem como arcar com o custo da resposta, seja através de SMS ou link para um site. Para contornar este problema a empresa dele paga (dinheiro depositado no celular) para quem responder às mensagens. Apresentou vários cases de sucesso, inclusive no Brasil.


Existe quase que um consenso que a Internet das coisas ou M2M vai explodir. É a casa conectada, o carro conectado, bolsa com chip de localização, etc. Tecnologicamente parece estar tudo pronto para a explosão, mas parece que as operadoras ainda não conseguiram apresentar o modelo de como estes serviços vão ser pagos. A conta não fecha se o usuário tiver de pagar um “plus” por cada “coisa” conectada.


O painel sobre Mobile Enterprise deixou claro que o grande desafio dos CIOs hoje são os aplicativos móveis. O usuário está se acostumando em ter aplicativo para tudo no mercado de consumo e passar a querer o mesmo também no mercado corporativo.



Este não é um balanço do MWC, mas algumas impressões que colhi do evento. Estaremos apresentando as principais tendências no evento na workshop que a Teleco realizará no dia 19 de março.

 

 

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Eduardo Tude

Presidente e sócio da empresa de consultoria Teleco, atua desde 2002 como analista do mercado de Telecom, coordenando projetos de consultoria, publicando artigos semanais, preparando relatórios setoriais e apresentando workshops.

Engenheiro de Telecom (IME 78) e Mestre em Telecom (INPE 81) é membro da Comissão julgadora do Global Mobile Awards do Mobile World Congress em Barcelona e atuou como professor especialista visitante da Unicamp (2013).

Ocupou várias posições de Direção em empresas de Telecom em áreas como Sistemas Celulares (Ericsson), Redes Ópticas (Pegasus Telecom) e Satélites (INPE).

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