Atualizado em: 08/04/2007
A venda da Telecom Italia e o futuro de operadoras nacionais
O setor de telecomunicações passou por grandes transformações nos anos 90 com a privatização das operadoras estatais e o fim do monopólio nos principais países do mundo. O mercado de telecom destes países continuou, no entanto sendo dominado por estas operadoras privatizadas em mãos de investidores nacionais. Assim ocorreu na Alemanha (Deutsche Telekom), na Espanha (Telefonica), na França (France Telecom), na Itália (Telecom Italia), no Japão (NTT) e no Reino Unido (BT).
O processo de consolidação ainda não foi forte o suficiente para derrubar as barreiras nacionais e criar operadoras globais, a exemplo do que ocorreu no mercado de fornecedores de redes (Vendors). A fusão da Alcatel com a Lucent e da Nokia com a Siemens são os exemplos mais recentes de um longo processo neste segmento.
São poucos os grandes grupos de telecom do mundo que obtêm grande parte da sua receita fora de seu país de origem. Entre eles estão a Vodafone (84%) e Telefonica (62%). As grandes operadoras dos Estados Unidos AT&T, Verizon, Qwest e Sprint possuem pouca presença internacional.
A porção nacional destas operadoras, é sustentada em grande parte por uma posição dominante na telefonia fixa, que está, no entanto sendo ameaçada pela concorrência estabelecida no celular e na banda larga. A Deutsche Telekom, por exemplo, perdeu mais de 2 milhões de clientes em 2006. Esta concorrência tem afetado o desempenho das ações das operadoras na bolsa. Para enfrentar este cenário, as operadoras têm procurado se internacionalizar, principalmente na área de celular, cuja receita passa a superar a da telefonia fixa.
Neste cenário, uma possível venda da participação da Pirelli na Telecom Italia para a AT&T e a América Móvil pode representar um divisor de águas e desencadear um processo de consolidação entre as principais operadoras européias.
Por que a Telecom Italia está à venda?
A Telecom Italia passou por uma série de reestruturações societárias desde que foi privatizada:
A Telecom Italia vem enfrentando uma séria crise provocada pela dívida da Empresa. A dívida líquida da operadora subiu de 27,4 bilhões de euros em 1999 para 46,5 bilhões de euros em 2005. O alto endividamento obrigou a Telecom Italia a vender suas operações no exterior, em especial na América Latina e na Grécia. Em 2006 a dívida era de 40,6 bilhões de euros e a empresa está sendo pressionada a se desfazer da Tim no Brasil, principal ativo da Telecom Italia no exterior.
Este cenário e a competição no setor promovida pelo celular e pela banda larga provocaram uma desvalorização das ações da Telecom Italia na bolsa. Quando a Pirelli, através da Olimpia, adquiriu o controle da Telecom Italia em 2001 as ações da operadora valiam mais de 4 euros. Hoje elas valem menos de 3 euros. Em 2006 a Pirelli registrou em seu balanço uma perda de 1,17 bilhões de euros, relativa a uma revisão do valor da sua participação na Olimpia.
Quem vai comprar?
América Móvil, do empresário mexicano Carlos Slim (Claro no Brasil) e a AT&T fizeram uma proposta para adquirirem a participação da Pirelli na Olímpia, controladora da Telecom Itália. Se concretizada, a América Móvil, AT&T e Pirelli passariam a ter cada uma 1/3 da participação atual da Pirelli na Olímpia.
Esta proposta enfrenta resistência do governo italiano, que na impossibilidade de manter a operadora nas mãos de investidores italianos, tem preferência por uma solução européia. Telefonica, France Telecom e Deutsche Telekom demonstraram interesse.
Consequências para o Brasil e para a Argentina
A aquisição de uma participação na Telecom Italia por parte da América Móvil ou da Telefonica terá grande impacto no ambiente competitivo do Brasil e da Argentina. Telefonica, América Móvil e Telecom Italia controlam as principais operadoras de celular destes países (mais detalhes). A Telecom Italia e Telefonica controlam também as duas principais operadoras de telefonia fixa da Argentina.
O processo por que passa a Telecom Itália pode servir também de exemplo para o caminho a ser tomado por Telemar e Brasil Telecom no Brasil. As duas são operadoras regionais com a maior parte da receita (85,7% e 90,6%) sendo proveniente da Telefonia fixa (inclui banda larga).
Após o insucesso no processo de reestruturação societária, que não foi aprovado pelos acionistas minoritários, a Telemar poderá estar apostando as suas fichas em uma fusão com a Brasil Telecom e a formação de uma grande operadora nacional para concorrer com os grupos da Telefonica e da América Móvil/Telmex. No entanto, seria necessária uma mudança na legislação para permitir esta fusão.
Diante deste quadro pergunta-se:
Gostaria de acrescentar que esse tema, como vocês sabem, envolve não apenas questões nacionais, mas vão ao âmago da dinâmica competitiva das telecomunicações contemporâneas. Além do rescaldo da crise 2000/2003 e da forte concorrência tradicional intra-setor, agora alavancada pelo Triple Play, há que se registrar ainda o tsunami competitivo das "operadoras" de voz sobre IP, como o Skipe. A banda larga (BL), se por um lado é vetor tecnológico de retomada do crescimento, é também um desafio tipo "decifra-me ou devoro-te".
Ou seja, se por um lado a BL contribui para aumentar a receita, por outro lado, ao viabilizar os portais gigantes da Internet (Google, e-bay, Skipe etc), os quais passam a oferecer serviços de comunicação (retirando receita das operadoras) como complemento aos seus serviços (busca, compras, videos, etc) financiados por propaganda, nota-se que a banda larga também propicia uma substituição de produtos em desfavor das operadoras. Esse dilema deve aumentar cada vez mais.
Como se isso não bastasse, há um grande debate em relação ao tema do incentivo ao investimento em redes novas e muito mais rápidas, tipo NGN. Mantido o atual modelo de negócio das operadopras, esse incentivo pode ser reduzido, caso os novos aplicativos ampliem a substituição de produtos (em desfavor das operadoras). Esse incentivo à inovação ainda pode diminuir diante da eventual estratégia regulatória de favorecer entrantes "oportunistas" (free rider problem), que não querem correr o risco de investir em redes tecnológicamente avançadas.
Aproveito a oportunidade para dizer que os temas acima indicados fazem parte da linha de investigação que coordeno aqui na CEPAL (Santiado do Chile), no âmbito do projeto Sociedade da Informação (www.eclac.cl/socinfo). No nosso caso, a preocupação é com o fortalecimento da América Latina como região econômica e política, obviamente sem a perda das identidades nacionais.
Nesse futuro enigmático ainda haverá um investidor que sem muito nome ou investimento poderá se sobressair, basta fazer o cálculo VoIP + WiMax. Mesmo o serviço de voip não tendo toda aquela qualidade que o sistema convencional de comunicação possui ele oferece algo admirável, o preço, podendo chegar ao custo apenas da conexão à internet, e se a rede WiMax for implantada com sucesso que todos esperam a cobertura vai ser mundial e rapidamente aparelhos móveis de VoIP semelhantes a celulares irão se espalhar como uma peste oferecendo ligações por um preço fixo que é apenas o da conexão a internet.
Com a clara vantagem de que se vc não tem cobertura vc mesmo pode montar a sua rede e cobrir bairros inteiros a um custo apenas de sua banda larga. E esse futuro não está muito distante vai ganhar quem chegar primeiro, se aparecer alguem investindo nesse setor para alguns talvez pode até parecer tolice mas na minha opnião essa pessoa vai surgir do nada e se tornar bilionário assim como os fundadores do google ou microsoft.
É esperar pra ver.
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