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Comentário
publicado em 27/09/2004
Qual o Futuro das Revendas Especializadas
em Celular?
As operadoras de Celular têm
utilizado diversos canais de distribuição
para aparelhos celulares e cartão/recarga de
pré-pago. Entre estes canais, a tradicional “Revenda
Especializada” ou “dealer”, as grandes
cadeias de varejo, lojas próprias, televendas,
etc.
Num cenário de 2-3 operadores
de GSM mais 1 operador de CDMA por região, com
o pré-pago sendo procurado por mais de 90% dos
novos clientes e com alta concentração
nas classes C, D e E, qual será o futuro das
revendas especializadas, canal de propriedade de pequenos
empresários brasileiros, muitos deles ex-funcionários
de empresas de telecomunicações?
No Brasil há mais de 15.000
lojas especializadas na venda de aparelhos e serviços
de telefonia celular, respondendo por 20 a 30% das vendas
das operadoras, dependendo da área de atuação
e da operadora, com forte concentração
na venda de planos pós-pagos. No passado este
canal era responsável por mais de 50% das vendas
totais.
Um dos fatores que influenciaram
o share de vendas dos “dealers” especializados
(a maioria com contrato de exclusividade com uma operadora),
foi a entrada do grande varejo (lojas de departamento
como a Casas Bahia) na venda de aparelhos celulares.
Responsável por 45 a 55% das vendas, dependendo
da região e da operadora, o grande varejo tem
sido um verdadeiro campeão na venda de pré-pagos,
pela facilidade de venda deste produto, que dispensa
a aprovação do cliente pela operadora.
O que favorece as vendas do grande
varejo?
- Grande capacidade de financiar
o cliente
- Elevada capilaridade e qualidade
dos pontos de venda
- Alta capacidade de compra em
volume e variedade de modelos de aparelhos
- Grande volume de propaganda veiculada
em mídia de massa
A crescente variedade de modelos
de aparelhos, no entanto, vem tendo impacto negativo
em todos os canais de venda, devido ao aumento dos estoques
e ao conhecimento cada vez menor do funcionamento dos
modelos a serem vendidos. Por outro lado, as operadoras
sentem o impacto da venda não especializada que
informa pouco sobre o produto vendido e faz com que
o novo cliente tenha que tirar suas dúvidas nas
suas lojas e nas lojas especializadas, além dos
call centers.
Alguns dos pontos fortes das revendas
especializadas são:
- Venda concentrada em clientes
de maior valor para a operadora
- Venda qualificada, gerando fidelidade
do cliente ao operador
- Ponto de visibilidade da marca
da operadora
As dificuldades do canal especializado,
no entanto, são de grande impacto no negócio,
principalmente para as lojas com exclusividade com operadoras,
tais como:
- Crescente necessidade de capital
de giro
- Pressão nos custos de
aluguel, mão de obra e estoque
- Maior procura por planos pré-pagos
com financiamento em 10 e mais prestações
- Peço padronizado pelo
operador para todos os canais
- Dificuldade de comunicação
com os níveis hierárquicos mais altos
das operadoras
Este quadro tem levado a insatisfações
das partes na condução do negócio.
As lojas especializadas reclamam da falta dos aparelhos
mais vendáveis nos períodos de promoção,
o que as faz perder vendas; reclamam da lentidão
das operadoras no pagamento de comissões; dos
baixos limites de crédito; dos menores incentivos
ao financiamento da venda em relação ao
grande varejo, etc.
Pressionadas pelos crescentes custos
de venda as operadoras, por outro lado, reclamam da
baixa agressividade comercial das lojas especializadas;
reclamam da inadimplência; do descumprimento de
metas de vendas; do cuidado com o merchandising; do
volume de reclamações dos dealers com
questões de menor importância para o negócio;
do pouco investimento em treinamento de pessoal, etc.
A questão de fundo, no entanto,
é que o mercado mudou completamente desde a implantação
das primeiras operadoras de celular nos anos 90, está
passando por novas mudanças e tende a se tornar
bem diferente do que é com as operações
convergentes móvel-fixa. Este fenômeno
está ocorrendo em nível mundial e não
apenas no Brasil. A necessidade de adaptação
constante dos canais de distribuição é,
portanto, fator relevante no negócio de telefonia
celular.
Diante deste quadro pergunta-se:
- Há viabilidade para dealers
exclusivos num mercado fundamentalmente de pré-pagos?
- Que fatores poderiam levar ao
aumento da procura por planos pós-pagos?
- O foco das operadoras na venda
de serviços de dados pode levar à preferência
de compra em lojas especializadas?
- O modelo de cooperativa poderia
transformar os dealers individuais em “grandes
cadeias”?
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Comentário de
Marcos Picolomini |
O autor tem razão quando expõe
os fatores atuais do mercado de prestação
de serviços celulares, onde os "dealers"
estão inseridos.
Já era esperada, desde da
década de 90, a mudança do cenário
competitivo no varejo, dada a portabilidade do SMC.
Já era conhecida a diversidade de aparelhos que
poderíamos alcançar, apenas traçando
um paralelo junto ao mercado de televisores: todos fazem
a mesma coisa e vejam quantos modelos diferentes!!!
O que sempre vemos demorar para acontecer
é a adaptação do empresário
(a maioria não percebe que estão "mexendo
em seu queijo"), frente aos novos cenários.
As queixas são basicamente as mesmas para todas
as operadoras (distribuição, comissão,
rebate de juros, price protection, etc) alguns chegam
a dizer que o mercado está "saturado"!!!!
Não discutirei o mérito das queixas neste
instante.
O que temos que enxergar é
um pouco além: Vamos esquecer, por alguns instantes
os pontos negativos do canal e vamos "desanuviar"
a "bola de cristal" .
- Teoria da Exclusividade: Nunca
foi boa e é baseada na conveniência exclusivamente
(desculpe o trocadilho!!). No momento em que houver
um mínimo de entendimento entre os dealers,
a exclusividade cai por terra e o canal passará
a ser um centro de soluções em telecom
para o cliente final.
- Efeito Grande Varejo: Desculpem-me
os dealers - isto vai piorar. A competência
de ceder crédito aos borbotões é
do varejo e não do pequeno comerciante. O que
o dealer deve fazer é parar de esperar o cliente
bater à sua porta e ir à luta: vamos
fazer uma venda no corredor daquela faculdade, à
noite? Vamos buscar o operário daquela montadora
esta tarde? Vamos sair da loja!!! Seu pdv deve começar
a ser visto como uma base operacional, de onde saem
os "leads" para visita (visita consultiva,
diga-se de passagem!).
- Baixo índice de cessão
de crédito: A menos que os índices de
inadimplência caiam drasticamente e haja uma
recuperação assombrosa da economia,
o quadro do crédito manter-se-á inflexível.
O relacionamento com a operadora é que vai
ditar o quanto será investido por parte desta
junto ao dealer. A lição de casa que
fica para o Dealer é que ele deve agregar valor
a tudo que oferece, justificando o menor número
de parcelas pela qualidade do atendimento e outras
facilidades que o diferenciem do varejo (entrega a
domicílio, brinde exclusivo, etc).
- Tecnologias emergentes: o dealer
está fadado a dois destinos: ou ele se adapta
e procura oferecer o que há de mais moderno,
ainda que seja "sob encomenda", apelando
para seu relacionamento junto ao consultor da operadora
ou ficará no bloco dos que choram as lamúrias
da infinidade de modelos que as operadoras lançam...e
nada farão para (bem) vendê-los. Resumo:
tem que haver a profissionalização da
área.
- Mix de produtos: Será que
o dealer conhece tudo o que sua operadora tem para
oferecer? Ainda que não tenha capacidade de
investimento para adquirir todos os lançamentos,
será que ele tem os acessórios correspondentes
a 70 ou 80% dos serviços que a operadora oferece?
Aquele "maldito" cabo de dados que não
se acha em nenhum magazine não poderia ser
o elo de fidelização que faltava para
aquele cliente heavy user de anteontem??
- Por último e não
menos doloroso - RH!!!: é, doi menos em mim
do que no dealer, reconheço. Mas eu ouvi de
um dealer estes dias que "...ninguém trabalha
de graça!!" depois que eu elogiei o ânimo
e dedicação com que a equipe do lojista
trabalhava. Junta há dois anos, ainda não
houve turn over de empregados, pelo contrário,
contratou-se mais dois...e isto no interior de SPaulo,
onde teimamos em imaginar um mercado mais "lento".
Tudo isto só pra dizer que funcionário
sem perspectiva de ganho tem o mesmo interesse que
um cliente sem perspectiva de atendimento.
Se houvesse uma palavra chave para
todo esse problema, essa palavra seria "profissionalização"
do canal.
Meu nome é Marcos Picolomini
e sou formado pela Unicamp em Ed. Física, com
pós graduação em Gerenciamento
de Marketing com 10 anos na área comercial. Tenho
37 anos e 5 de experiência no mercado de telecom,
tendo participado de 2 start ups em operadoras celular
(SMC e SMP). Hoje estou Consultor de Vendas em Telecom. |