01/07/2022
Em Debate
Cartografia 5G : Fronteiras da tecnologia no mundo e na América Latina
Alejandro Raffaele
Líder da TME (Telecom, Mídias e Entretenimento) para a Red Hat América Latina
De uma simples ligação entre parentes e amigos mais próximos a uma importante decisão que pode influenciar no futuro de uma eleição, do país e, às vezes, do mundo inteiro, as telecomunicações são a chave-mestra para entender o papel e as possibilidades de transformação de nossa contemporaneidade. Essa tecnologia não apenas representa um setor estratégico para nações e governos reforçarem sua presença e consolidarem mensagens-chave, como nas últimas décadas tem encampado um novo paradigma no setor de serviços empresariais, com a chegada da internet em nossa casa e, principalmente, a um toque de nossos dedos.
O desembarcar da 5ª geração de internet móvel no cotidiano da indústria, o chamado 5G, dentro dos processos e aplicações do mundo empresarial e, em último caso, bem na palma de nossas mãos em nossos computadores, tablets e smartphones simboliza uma transformação radical no formato e na maneira de pensarmos as telecomunicações no nosso dia a dia. Segundo estudo recente da International Data Corporation (IDC), a inovação espera movimentar U$ 6 bilhões, até 2025, mediante o destravar de uma série de oportunidades de negócios e a criação de um enorme leque de produtos, serviços e aplicações para ambientes puramente digitais.
O trunfo da tecnologia está em oferecer uma banda mais larga e de velocidade, no mínimo, 100 vezes superior à encontrada no sistema de 4G, dentro de um ambiente de comunicação confiável e de baixa latência, ou seja, com uma conexão uniforme e pouco suscetível a problemas de rede. No entanto, nos últimos anos, sua implementação tem sido um obstáculo a setores da Tecnologia da Informação na esfera pública e dentro do ecossistema empresarial. Mais do que um desafio jurídico e econômico para governos e corporações, o relatório Implementação da Tecnologia 5G no Contexto da Transformação Digital e Indústria 4.0, realizado pela Ipea, aponta que há uma enorme fronteira cultural a ser cruzada por esses dois polos.
Os 3 desafios para implementação do 5G
O estabelecimento da 5ª onda tecnológica é pautado sob três eixos: tecnológico, cultural e de enablement (treinamento e capacitação de funcionários e colaboradores). O primeiro ponto diz respeito ao investimento a que empresas e governos empenham para aquisição de novos equipamentos e procedimentos tecnológicos para atuar nessa banda que, diferentemente das gerações anteriores, reúne ao menos quatro faixas em que o serviço possa ser executado — 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz — e, até o momento, possui poucos fornecedores de confiança para instalação das estruturas. Ou seja, é uma topologia nova a todos os agentes envolvidos na cadeia.
Não obstante a preocupação com os custos de implementação e manutenção da tecnologia, o maior desafio para o desembarcar do 5G está em seu aspecto cultural. Como bem aponta o Relatório do Ecossistema 5G Brasil, feito pela consultoria Deloitte em parceria com o Governo Federal, embora não exista uma fórmula definitiva para o sucesso, empresas e países que migraram suas culturas para uma estrutura horizontal colheram os melhores frutos com a tecnologia. Seja por implementarem dinâmicas e processos mais céleres dentro do ambiente de TI, seja por adequarem suas mentalidades ao funcionamento da tecnologia.
Em outras palavras, a adoção do 5G representa muito mais do que uma reforma no setor de telecomunicações e aplicações instantâneas, ela simboliza um novo paradigma para as equipes de TI e para a estrutura organizacional de empresas e departamentos públicos. Além de possibilitar que times e funcionários trabalhem com mais independência e liberdade de outros setores, permite que gestores e executivos dinamizem o fluxo de trabalho e potencializem o funcionamento de processos internos dentro de corporações, desburocratizando e introduzindo celeridade a velhas e antiquadas práticas dentro do ecossistema organizacional nos últimos 30 anos.
Dessa forma, a capacitação e enablement de equipes e quadros de direção também é favorecida com uma estrutura interna mais flexível, afinal, tecnologia e cultura sempre andaram numa via de mão única: a forma como pensamos e entendemos o papel dessas inovações influencia diretamente no jeito como nos organizamos e trabalhamos. Não à toa, como bem mostrou um levantamento realizado pela PWC, feito durante a pandemia e no momento que o sistema de teletrabalho vivia seu auge, 72% dos 3.200 entrevistados acreditam que a determinação de uma cultura corporativa flexível foi responsável por transformar o ambiente de trabalho de maneira ágil, proporcionando uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
América Latina: a uma distância segura para implementar mudanças
Ao contrário dos países que criaram a tecnologia de 5G e aqueles que logo cedo a adotaram, o Brasil e a América Latina ainda estão no estágio embrionário de sua implementação. Por outro lado, a região tem feito grandes progressos para a instalação de estruturas e no fomento de serviços baseados na tecnologia móvel de 5ª geração — cloud computing, computação de borda e Internet das Coisas (IoT), para dar alguns exemplos. Segundo o relatório da Mobile Economy deste ano, feito pela GMSA, serviços apoiados na inovação já representam mais 7,1% do PIB no contexto latino-americano e tendem a crescer mais e mais graças à grande vontade do território de querer se conectar com o mundo.
Ademais, esse relativo “atraso” da América Latina em relação ao norte geográfico pode ser vantajoso para empresas locais. No curto e médio prazos, saber com antecedência quais caminhos são válidos percorrer e quais atalhos evitar não apenas potencializa a curva de crescimento para setores de TI, mas oportuniza que gestores e empreendedores latino-americanos se transformem em modelos de gestão e referências de sucesso mundo afora, sem o ônus da descoberta. Desde que, claro, a mentalidade reinante seja aquela em constante evolução, tanto dentro do modelo empresarial quanto na maneira de adquirir novas tecnologias.
Na especificidade brasileira, espera-se que o país se torne líder da tecnologia 5G. De acordo com o levantamento Iot Snapshot 2022, produzido pela Logicallis, nos próximos 18 meses, 42% das empresas entrevistadas prometem investir em soluções de IoT voltadas para a indústria e o agronegócio. Ainda segundo a pesquisa, corporações brasileiras estudam adicionar recursos de inteligência artificial (IA) e Machine Learning (ML) para automatizar ainda mais seus processos. Seja como e aonde for, no Brasil, na América Latina ou em qualquer parte do globo, a mudança e a transformação cultural no seio de organizações públicas e no ambiente de empresas privadas devem ser, doravante, a bússola para navegar ao longo de qualquer geografia conhecida ou nova terra à vista nos mares e oceanos do porvir.
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