21/05/07

Em Debate Especial: 3G

 

 

 

 

3G no Brasil

 

 

Almir Narcizo

Presidente da Nokia do Brasil

 

Desde 1998, com a privatização do sistema Telebrás, os usuários de telefonia no Brasil vivem um ciclo virtuoso no que diz respeito aos serviços de telecomunicações disponíveis e ao conseqüente impulso econômico que eles representam. Esta indústria foi privilegiada com intensos investimentos que possibilitaram a chegada do telefone fixo a áreas remotas, significando para muitos brasileiros a integração, pela voz, a outras regiões do país.

 

A telefonia móvel foi o passo seguinte, em um primeiro momento com a tecnologia analógica, passando pela digitalização do sistema e o serviço de SMS, até chegarmos à rede de dados GPRS/EDGE. Essa última fase representou, para muitas pessoas sem acesso a computadores, o primeiro contato com a Internet.

 

A seqüência, se tomarmos como exemplo mercados mais maduros, é a demanda por serviços mais avançados, incompatíveis com as atuais redes instaladas no país. A transformação por que o mercado nacional passa reforça essa expectativa.

 

O número de novos assinantes, cujo fenomenal crescimento dos últimos anos orientou estratégias de operadoras e fabricantes, já foi superado por aqueles que procuram novos aparelhos, o chamado mercado de reposição. A expectativa é que essa tendência se acentue e a troca de aparelhos aconteça em prazos cada vez mais curtos, trazendo, na mesma medida, exigência por novas funcionalidades.

 

Assim, para a confirmação dos ganhos conquistados até aqui e benefício de consumidores e operadoras, torna-se indispensável a implementação de redes mais velozes e com maior capacidade de banda.

 

Para as operadoras, a oferta de uma rede com mais recursos amplia as oportunidades de incremento do tráfego de dados, estimula o crescimento da receita com esses serviços e acelera o retorno de investimentos realizados na nova infra-estrutura.

 

Outra vantagem, às vezes pouco destacada, está no fato de que a operação de voz também é otimizada por uma rede de terceira geração, não só reduzindo os custos de manutenção, mas também propiciando melhores níveis de disponibilidade e qualidade de ligações.

 

Recursos para o usuário

 

Do ponto de vista do usuário, experimentaríamos uma revolução pela velocidade! A convergência de experiências, hoje vivenciadas separadamente, em uma única experiência muito mais rica.

 

É comum o consumidor acessar a Internet pelo dispositivo móvel para buscas rápidas, enquanto, para uma pesquisa mais apurada, o trabalho normalmente é finalizado quando se chega em casa ou no escritório, por um acesso em banda larga. Podemos considerar o uso atual de serviços avançados de dados como emergencial e muitas vezes incompleto.

 

Com redes e terminais de terceira geração, a experiência móvel torna-se completa e confortável. A navegação em alta velocidade traria, inclusive, novas possibilidades de inclusão social, já que muito dificilmente o serviço de banda larga fixa alcançará áreas afastadas dos grandes centros.

 

O serviço móvel se configuraria, assim, opção mais viável e acessível para, mais uma vez pela tecnologia, integrar parte daquela população ainda sem acesso à Internet. Recursos teoricamente óbvios de serem explorados, pelo apelo e facilidade de uso, como transferência de imagens ou downloads de conteúdo, são hoje subutilizados devido, em grande parte, à incapacidade das redes instaladas.

 

Não raro, ouvimos de usuários comuns (que são a maioria de nossos clientes) relatos de tentativas frustradas de transmissão de fotos ou download de arquivos mais pesados. Pesquisas apontam que a frustração e a impressão de ineficácia leva, inevitavelmente, à desistência de utilização do serviço.

 

Além de proporcionar velocidades incomparavelmente mais altas para a transferência de dados, a rede 3G abre novas possibilidades de negócios. Operadoras poderiam, por exemplo, oferecer aos clientes serviços de envio customizado de teasers e até filmes comerciais produzidos para esse fim.

 

A partir de um cadastro prévio tem-se a chance de sugerir ao consumidor ofertas ou promoções – por texto, fotos ou vídeos - de uma loja de seu interesse, próxima de onde ele está naquele momento. Esse novo nicho despertará uma indústria, ainda incipiente no Brasil, para produção desse conteúdo, que requer linguagem diferente da publicidade tradicional.

 

Já uma realidade no mercado atual, a utilização de telefones celulares como tocadores de música ganhará um impulso com a facilidade proporcionada pelas redes 3G. O compartilhamento das músicas será mais rápido e fácil e poderá ser feito durante a chamada de voz.

 

O download de arquivos diretamente das lojas virtuais para o dispositivo móvel será massificado. Hoje o mais comum é o usuário baixar a música no computador e só depois transferi-la para o celular.

 

Outra experiência de entretenimento que terá outra cara é a dos games, cada vez mais diversificados. Hoje individuais, eles poderão ser jogados em grupo por pessoas de diferentes locais. Com a infra-estrutura de rede e as funicionalidades dos aparelhos 3G, pode-se jogar, falar e transferir um arquivo de dados simultaneamente.

 

Crescem também as oportunidades de disseminação do Mobile Banking e demais aplicações corporativas, devido aos novos recursos e, principalmente, aos padrões de segurança, mais rígidos e criteriosos nas redes 3G.

 

Atualmente, este é um dos fatores críticos encontrados por operadoras e fabricantes na tentativa de quebra da barreira de implantação de soluções móveis em empresas e instituições bancárias.

 

Defasagem brasileira

 

Apesar de todas as vantagens, a evolução das redes no Brasil está estacionada. O primeiro passo, sem o qual a maioria dos players fica de mãos atadadas, é o licenciamento, pela Anatel, das faixas de freqüência para operação dos serviços de terceira geração. A despeito das diferentes preferências de operadoras e fabricantes, a finalização desse processo é uma questão urgente.

 

Nos últimos dois anos o uso de tecnologias de terceira geração teve grande expansão em mercados como o europeu, norte-americano e asiático, colocando os consumidores brasileiros em atraso tecnológico.

 

Sensação facilmente percebida por aqueles que, em viagens ao exterior, têm contato com aparelhos e serviços 3G. Vale lembrar que esse consumidor constitui uma fatia de mercado high-end, que abrange formadores de opinião, alvos potenciais de serviços de valor agregado.

 

A defasagem de infra-estrutura de tecnologias tem reflexos também na balança comercial do país, já que o mercado externo, notadamente o europeu, cada vez mais concentra suas compras em produtos compatíveis com o 3G.

 

No entanto, a fabricação desses modelos no Brasil apenas se justificaria caso houvesse a absorção de parte da produção internamente, inviabilizada pela ausência de redes 3G. Ou seja, não fabricamos terminais 3G e, assim, reduzimos as chances de atingirmos outros mercados.

 

Redes e Terminais WCDMA

 

De acordo com a GSM Association, em janeiro de 2007 existiam 146 redes 3G WCDMA em 67 países, metade das quais entregue pela Nokia e, hoje, sob a responsabilidade da Nokia-Siemens Networks, joint-venture entre as duas empresas que criou um dos líderes mundiais do mercado de infra-estrutura.

 

As pesquisas da Nokia envolvendo WCDMA, que começaram em 1999, estão na base do desenvolvimento dos serviços de terceira geração. O primeiro aparelho – Nokia 6630 – foi lançado em 2004. Dos modelos anunciados pela Nokia no ano passado, 1/3 são compatíveis com redes WCDMA. Para 2007, a expectativa é que esse índice chegue a 2/3, dados que demonstram o crescimento da utilização de serviços de terceira geração onde eles estão disponíveis.

 

A introdução de uma nova tecnologia não significa a extinção da anterior, mas, sim, que elas passarão a funcionar complementarmente. No caso dos terminais, essa situação é facilmente verificável à medida que os celulares de gama mais baixa não deixam de ser produzidos e vendidos com a chegada ao mercado de modelos com novas funcionalidades.

 

O que acontece é uma mudança de categoria. O celular “premium” de alguns anos (ou meses) é o básico de hoje. A vantagem é que esse “rebaixamento” traz consigo a queda no valor do aparelho, minimizando mais um fator apontado como impedimento para a adoção do 3G nos países emergentes.

 

A Nokia prevê, para o primeiro trimestre de 2008, a chegada ao mercado de aparelhos de terceira geração com custo entre US$ 100 e US$ 120, viabilizando a demanda por terminais GSM em países emergentes como o Brasil.

 

Não é difícil delinearmos o cenário das telecomunicações mundiais no curto/médio prazo e, por enquanto, não vemos o Brasil inserido nele. Por acreditar firmemente ser essa inserção indispensável e, principalmente, possível, a Nokia tem esforços voltados para ela e está pronta a atender demandas que viabilizem e acelerem esse processo.

 

 

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Comentário de Jorge Araújo

Com todo o respeito que o Sr. Narcizo merece, acho que está defendendo uma posição corporativista. Qual serviço de dados hoje no mundo que é IMPEDIDO de funcionar pela VELOCIDADE de dados do EDGE? Nenhum!!! O problema é que os TERMINAIS compatíveis com tais serviços e os SOFTWARES foram desenvolvidos para rodar com a plataforma UMTS-WCDMA, as operadoras por seu lado não querem investir mais na plataforma atual para implementar eventuais ajustes e os fabricantes "se fingem de mortos" quanto a prover tais adaptações já que querem vender a nova tecnologia.

 

PORÉM, o conceito 3GSM dita que haja compatibilidade entre GSM 2G, 2.5G e 3G, logo, deveria ser possível rodar tais serviços mesmo com a velocidade mais baixa DESDE QUE SE USE UM TERMINAL 3G NA ÁREA DE COBERTURA DE EDGE/GPRS E O SERVIÇO ESTEJA DISPONÍVEL NA REDE 2.5G. Seria mais produtivo as operadoras definirem um modelo de cobrança pelo consumo de dados mais justo e que estimule o usuário a usar e demandar serviços, e que tal simplesmente trazer aparelhos 3G da Europa para os high-end users brasileiros??? Garanto que funciona... mesmo sem os leilões de faixa de freqüência!

 

 

 

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