26/11/2012
Em Debate
Os desafios para o setor de telecom no Brasil
Almir Narcizo
Presidente da Nokia do Brasil
Trabalhar em uma área dinâmica e constante como a de telecomunicações significa estar acostumado com novas tecnologias que aparecem todos os dias. São mudanças que mexem com as vidas das pessoas. É difícil acreditar que, há 10 anos, tínhamos um cenário completamente diferente do que existe hoje em termos de conexão, velocidade, estrutura e mercado.
O mercado brasileiro já ultrapassou, há um bom tempo, a marca de 1 celular por habitante. Vivemos o mercado da reposição, em que o smartphone ganha cada vez mais importância – plataforma que foi criada e disseminada pela Nokia no país. Com a iminente chegada do 4G ao Brasil, entraremos em uma nova era, com um potencial de velocidade de conexão que, em muitos casos, supera a conexão por cabo. O consumidor brasileiro mostra-se cada vez mais exigente e maduro na escolha de seus produtos e serviços.
Mas, se por um lado estamos prestes a embarcar em uma nova fase da telefonia móvel, por outro ainda temos muito o que avançar em conceitos básicos. Os desafios não são poucos e, a convite do Teleco, listo aqui o que considero as principais barreiras no setor atualmente para que consigamos ser equiparados aos países líderes no uso da tecnologia móvel.
1. A questão tributária
Hoje, sem dúvida, o maior problema vivido pela indústria. Reconhecemos a disposição recente do Governo Federal em buscar a diminuição dos impostos, trabalho que, muitas vezes, é feito juntamente com atores da indústria. Parabenizamos a recém-criada Lei do Bem, que, por sinal, foi idealizada e sugerida pela Nokia como uma maneira de diminuir a carga tributária em alguns modelos de smartphone. Porém, apesar de todas as tentativas do Governo Federal, o maior desafio hoje reside na esfera estadual. E ele tem nome: ICMS. Alguns estados chegam a 35% de tributação com o ICMS. Gasto que, para o consumidor, chega dobrado: primeiro, com a compra do aparelho. Depois, todo mês, na conta de telefone. Há uma dificuldade latente das fabricantes e operadoras em trabalhar na diminuição do ICMS, já que ele varia por estado. Isso obriga a empresa a fazer um acordo individual por estado, o que se torna quase impossível na prática.
2. Fust
O ponto abordado no início do texto – que menciona a rapidez com que as mudanças na tecnologia chegam – cabe muito bem neste item. O FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) foi instituído na década de 1990 como uma forma de auxiliar no crescimento do setor. Quando criado, o FUST foi dirigido ao sistema de telecomunicações mais usado na época, a telefonia fixa. Os tempos mudaram e, hoje, sabemos que a linha fixa segue em queda. Há cada vez mais domicílios que abrem mão da linha fixa em prol de linhas móveis que, combinadas a aparelhos cada vez mais sofisticados, oferecem muito mais vantagens – além da mais óbvia, a mobilidade. O cenário mudou nas casas das pessoas, mas não para o governo, que continua privilegiando um sistema claramente em decadência. As verbas do FUST precisam privilegiar as linhas móveis ou, ainda, precisa-se criar um novo fundo voltado exclusivamente para a telefonia móvel.
3. Mais banda, mais riqueza
Investir em banda móvel gera riqueza. Estudos conduzidos pela GICT* mostram que, para cada 10% de crescimento no uso de banda larga em um país emergente, há o crescimento de 1,38% no PIB. Com o uso cada vez maior de smartphones e a popularização de planos de dados e acessos móveis, hoje vemos jovens que tiveram seu primeiro acesso a internet pelo celular – em alguns casos, o acesso é feito apenas pelo telefone.
Além de toda a vantagem citada, investir em uma estrutura sem fios, especialmente em países emergentes como o Brasil, é mais simples, rápido e barato do que investir em uma estrutura cabeada.
4. Pirataria
A pirataria, infelizmente, faz parte do cotidiano de muitas pessoas, em diferentes áreas. Com os celulares, não é diferente. Também aqui, reconhecemos que há um esforço do governo, integrado com os fabricantes e entidades como o Abinee, em diminuir esse grave problema. Mas ainda há muito a fazer.
Para o consumidor, muitas vezes apenas o preço importa. Nessa busca desenfreada pelo custo mais baixo, ele acaba encontrando celulares contrabandeados, falsos ou genéricos – os populares xing ling. Seja na 25 de Março em São Paulo, na Feira do Paraguai em Brasília ou no Camelódromo da Uruguaiana no Rio, é possível encontrar modelos muito parecidos com os originais. Por dentro, porém, tudo é bem diferente. A começar pela garantia – normalmente, limitada ao vendedor, que lhe deu “sete dias para troca”. Se você tiver algum problema com seu novo produto, tente a sorte de encontrá-lo novamente para reclamar. Mas o mais importante é a segurança. Muita gente acha que um aparelho homologado pela Anatel serve basicamente para fins tributários. Mas, para que um produto seja aprovado para comercialização no Brasil, testes são feitos e repetidos à exaustão. Usar um celular genérico, pirata ou contrabandeado não garante segurança, suporte, qualidade ou durabilidade alguma.
5. Infraestrutura
Por fim, outro grande desafio enfrentado pelo setor de telecomunicações no Brasil é, na verdade, um problema que aflige diversos e distintos setores: a infraestrutura. Para a Nokia, que tem fábrica em Manaus, há problemas para a chegada de matérias-primas, assim como para a saída dos produtos finais. Temos poucos voos internacionais, além de dificuldades para levar ou receber cargas em caminhões. É necessário que o governo trabalhe melhor a questão de investimentos em infraestrutura para que o mercado todo se beneficie.
O ano de 2013 será estratégico para as telecomunicações do Brasil. Há um ano da Copa do Mundo, os investimentos no setor devem aumentar e acelerar ainda mais o crescimento para a forte demanda que virá no ano seguinte. E você, assim como eu, também quer fazer bonito frente aos estrangeiros que estarão aqui. Dentro de campo e fora dele.
* Global Information and Communication Technologies - World Bank
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