Em Debate
Publicado: 11/10/04
Um canal de TV com futuro
Alvaro Pacheco Jr
apj@uol.com.br
Você já prestou atenção na enorme evolução das bancas de revistas durante os últimos anos? De dezenas de títulos surgiram centenas. A taxa de mortalidade é alta, mas isto faz parte do negócio de atender à demanda de informação segmentada. Você leva e, paga, somente o que lhe interessa.
Persiste o sonho que alguma coisa parecida possa nos ser oferecida pela TV.
Entra em cena o VOD (vídeo-on-demand). Serviço operado pelas redes de TV a cabo que permite "baixar" para a sua TV o programa que você quiser, na hora que você puder.
A pergunta é: quanto este serviço irá transformar a forma com que nos relacionamos com a TV?
Será apenas um formato que possibilitará assistir aos programas e filmes que estamos acostumados, em outros horários? Empacotados de outra forma, com resumos de uma ou duas horas ao invés dos vários capítulos de uma mini-série, por exemplo? É possível a utilização além de um novo repositório de conteúdo?
No final de 2001 uma empresa norte-americana acreditou que sim. É a MagRack ( www.magrack.com ) o seu ponto de partida foram as revistas impressas e o sonho de torná-las uma experiência áudio visual mais rica e interativa. Partiu-se para o uso cuidadoso do recurso de pesquisas de mercado. Em seguida formou-se uma associação com uma grande empresa de publicação de revistas, guias e canais de TV, que é a Primedia (60 milhões de assinantes de revistas) (www.primedia.com)
A partir de então foram identificados nichos de mercado não atendidos por um canal de TV convencional, do tipo 24 horas por dia e 7 dias por semana. Constatou-se que no mercado norte-americano, existiam clubes e associações como por exemplo a de fotógrafos amadores, com 42 milhões de associados; ou a de observadores de pássaros com 70 milhões de associados; ou mesmo a de motociclistas com 20 milhões de associados. A oportunidade se apresentava no fato de que estes grupos estavam geograficamente dispersos por todo o território americano, com hábitos e rotinas distintas. Baseado nestes fatores seria pouco provável a futura concorrência com um canal de TV tradicional.
Transportando para a nossa realidade, podemos imaginar como seria difícil viabilizar um canal 24/ 7 das matérias do Info Etc. , também pela diversidade de hábitos de todos os seus leitores.
O desafio que se apresentou então foi o de como viabilizar a tradução desta oportunidade em um negócio?
Inicialmente foram 10 títulos/ "canais" , evoluindo para os 24 que estão disponíveis hoje e, com planos de chegar a 40 "canais" até o fim deste ano. Alguns dos títulos/ "canais" são: "Maximum Science", sobre ciência; "Wine World", sobre vinhos; ou o "Classic Cars", sobre carros antigos. O formato não tem restrições de tamanho, tendo tipicamente de 12 a 60 minutos de duração. A "mídia" VOD permite que o programa seja consumido em partes artigos como em uma revista impressa, ou mesmo um DVD. Na média as novas edições são mensais. Algumas como a "Inside Weddings", têm a característica de re-exibição de alguns programas, uma vez que a rotatividade ocorre naturalmente no público alvo, que são as pessoas que estejam planejando seus casamentos.
A venda de publicidade que é um motivo de grande frustração para os canais segmentados de TV por Assinatura, tem causado boas surpresas para a MagRack. Mantendo-se o paralelo com as revistas impressas segmentadas, o anúncio é visto como informação. Ou seja, dentro de um programa de fotografia é interessante saber sobre o lançamento de uma nova lente da Nikon. Em termos práticos, o anúncio faz parte do programa e não um bloco isolado como nos canais de TV convencionais.
Um assinante que tenha o serviço MagRack, pode acessar o serviço indo a um canal normal, que é o "portal" do serviço e, através dos recursos de interatividade dos decoders digitais para TV a cabo é possível fazer a seleção do que assistir. Uma outra opção é o guia de canais básico interativo (EPG), igual ao oferecido pela Sky e DirecTv no Brasil. Ou mesmo um "banner" na tela de outros canais.
A MagRack foi formatada para atender hoje a TV e, amanhã também o PC. Uma vez que os programas estão digitalizados em servidores de vídeo, o meio de exibição é indiferente. Assim que existir uma ampla infra-estrutura de banda larga de verdade (mínimo de 768kbps), ele estará disponível também para o meio PC.
A crença da empresa é que para a evolução da TV não basta ofertar mais canais que, oferecem a libertação de que o espectador possa assistir o que quiser, quando puder. Ou, como prometem os serviços básicos de VOD que apenas arrumam os seus conteúdos de forma diferente (novos horários ou versões compactadas). A MagRack acredita na mudança ainda maior do paradigma. A de que revistas e canais de televisão podem ter muito em comum e, até mesmo se complementarem.
Sem dúvida o "killer application" do VOD são os filmes. Porém, enquanto permanece a "pirraça" dos estúdios de Hollywood em disponibilizar os seus títulos para a exibição na "janela" de VOD, algumas empresas estão tendo a coragem de atender os espectadores de uma nova forma.
Pelo nosso bem, vida longa a elas !!
(Publicado originalmente no Globo em Junho de 2003.)
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