05/10/2009

Em Debate

 

 

Banda Larga sem Fronteiras

 

Aluizio B. Byrro

Chairman da Nokia Siemens Networks para América Latina

 

  1. 1. Considerações gerais e situação atual

Muito tem sido dito, escrito e discutido ultimamente sobre acesso em banda larga,
(BL). Até porque esta é a área das telecomunicações e da tecnologia da informação (TIC’s) que tem provocado uma verdadeira revolução nos hábitos e comportamento dos cidadãos, empresas e instituições, além de apresentar as maiores taxas de crescimento nos negócios das operadoras de telecom.

 

O Brasil possui atualmente cerca de 15 milhões de acessos em BL, um crescimento nos últimos 6 anos de 54%/ano. Destes, aproximadamente ¼ já são acessos móveis. Apenas como comparação, mundialmente o total de acessos atinge 930 milhões, mas sendo os acessos móveis responsáveis por aproximadamente 40% do total.

 

Hoje o termo “Banda Larga” (BL) está associado a conexões mais rápidas do que as primeiras conexões discadas da Internet, mas fundamentalmente devemos nos referir à BL não apenas como uma velocidade de conexão ou como um serviço específico. Devem ser considerados todos os elementos da rede, tais como acesso (backhauls e backbones), servidores de conteúdo, etc.

 

A recomendação I.113 da UIT (União Internacional de Telecomunicações) define a BL como “capacidade de transmitir mais rápido que uma Interface de Aceso Primário da Rede Digital de Serviços Integrados (RDSI) a uma velocidade de 2.0 Mbit/s.

 

No Brasil ainda não dispomos de uma definição para o serviço de BL, o que leva o mercado a defini-lo como toda conexão acima de 256 Kbit/s e que possibilite “always-on”, ou seja, que o usuário esteja sempre conectado.

Sem dúvida alguma, a BL revolucionou o acesso à Internet, permitindo uma grande variedade de serviços até então inimagináveis em praticamente todas as áreas de atividade do ser humano: comércio, indústria, saúde, transportes, educação, entretenimento, finanças, governo, etc.

 

As pessoas conectam-se cada vez mais e por mais tempo. O brasileiro é um dos maiores usuários mundiais de computador (30,5 horas/mês/usuário residencial), certamente graças também às facilidades crescentes do acesso em BL à Internet.Entretanto, alguns pré-requisitos para que o uso maior da rede e a universalização dos serviços possam ser alcançados ainda carecem de  melhoria, tais como:

Iniciativas dos órgãos governamentais e ONGs tais como “Cidades Digitais”, “Plano Nacional de Banda Larga” e outros, certamente estimularão ainda mais a expansão das redes e a conseqüente redução dos custos, em função da escala alcançada e do aumento da competição.

 

Para os governos, tanto federal, estadual como municipal, a BL deve ser considerada como infra-estrutura essencial para o atingimento dos objetivos de desenvolvimento sócio-econômico e de inclusão social, promovendo a disponibilização de serviços públicos tais como educação, medicina à distância, governo eletrônico, etc, a todas as camadas da população, a custos compatíveis.

 

Para os usuários, a BL possibilita o uso de um número crescente de aplicações e serviços, especialmente quando altas velocidades são disponibilizadas.

Para os negócios, especialmente para as pequenas e médias empresas (PME’s), a BL representa vantagens antes somente encontradas nas grandes empresas, democratizando o uso das informações e inserindo-as no mercado global.

 

2. Tecnologias de BL atuais e futuras e suas aplicações
 

Diversas têm sido as tecnologias oferecidas ao mercado para o acesso em BL à Internet. O objetivo da indústria tem sido principalmente o de propiciar um uso cada vez mais otimizado do espectro de radiofreqüência (no caso das conexões “wireless”), redução dos custos e simplicidade no uso. Resume-se a seguir as principais tecnologias e suas características, atualmente em uso comercial ou experimental, bem como aquelas a serem disponibilizadas nos próximos anos:

 

3. Desafios e oportunidades

A chamada Web 2.0 torna as redes cada vez mais abertas, permitindo aos usuários participar ativamente em comunidades e dividir conteúdos. A rápida difusão dos acessos em BL está transformando aplicações “premium” em novas fontes de receitas, como os serviços de vídeo.

 

Por outro lado, banda larga e IP tornam os serviços cada vez mais independentes das redes. Como conseqüência, tradicionais fronteiras de mercado entre ISP’s (“Internet Service Providers”) e Operadores de telecom fixas e  móveis estão desaparecendo, levando a uma forte e crescente competição e mudança nos modelos de negócios, tais como os serviços de VoIP e mensagem instantânea.

 

Em outras palavras, não haverá mais um único operador oferecendo a totalidade dos serviços de acesso, aplicações e tarifação. O usuário quer e terá a liberdade de escolher o uso da variedade de aplicações disponibilizadas na Web. As operadoras e provedores terão que oferecer cada vez mais alternativas de preços e serviços, visando reduzir o “churm” (mudança de operadora/provedor), na busca da fidelização dos clientes usuários.

 

Adicionalmente, disponibilizar velocidades cada vez maiores e melhorar a cobertura/capilaridade das redes será decisivo para o crescimento das mesmas. As operadoras deverão também ampliar suas relações de parcerias, não apenas com os provedores de conteúdo, mas também com prestadores de serviços, o que permitiria a adição de receita ao “estilo” Google ou Yahoo. Neste novo modelo a operadora atuaria como uma integradora de serviços virtuais.

 

O advento das novas tecnologias, aumento das velocidades e o crescimento dos acessos móveis e “wireless” farão com que o conceito de conectividade se amplie ainda mais, passando dos dispositivos pessoais para todos aqueles onde se possa agregar microeletrônica, tais como máquinas fotográficas/filmagem, eletrodomésticos, equipamentos médicos, veículos, máquinas, dispositivos de segurança e monitoramento, etc. O expressivo crescimento do tráfego proporcionará novos campos de atuação e oportunidades para as redes, aplicativos, dispositivos, serviços, soluções, etc.

 

O explosivo crescimento das aplicações/serviços de vídeo também está ocupando cada vez mais banda nas redes de acesso (backbones e backhauls), exigindo novos investimentos para suas expansões. Até 2015 estima-se mundialmente que o tráfego crescerá aproximadamente 100 vezes! Os acessos poderão ser oferecidos de diferentes formas como anteriormente descrito, via, por exemplo, linhas fixas xDSL e tecnologias de fibras ópticas com elevadas taxas de transmissão ou via acessos móveis HSPA/LTE e WiMAX proporcionando elevada mobilidade e cobertura.

 

As oportunidades são enormes: a inclusão das camadas C/D/E da população brasileira (70% do total) poderá significar um crescimento estimado de pelo menos 60 milhões de novos acessos nos próximos 5 anos. Para tal, a utilização dos valores superiores a R$ 5 bilhões do FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) arrecadados, mas não utilizados no setor, poderiam servir como mais uma fonte de recursos para alavancar os investimentos necessários à expansão das redes.

 

É igualmente importante avaliar o grau de utilização da rede de BL por todos os usuários. Medir a BL somente pela densidade de usuários não é o melhor indicador, mas sim medir a densidade combinada com a utilização da rede. Nesse sentido, diversas metodologias podem ser encontradas, entre as quais se destaca a desenvolvida pelo Prof. Leonard Wavermann, da London Business School (www.connectivityscorecard.org). O trabalho classifica o Brasil em oitavo lugar entre as economias em desenvolvimento, atrás de países como Chile, México e Argentina, principalmente devido à ainda baixa densidade da BL no nosso País.

 

Os pontos chave para aumentar o uso dos serviços ofertados e capturar as oportunidades oferecidas nos negócios serão então, entre outros:

Torna-se também crucial uma revisão da carga tributaria incidente sobre os serviços de telecomunicações, superior a 43% e a segunda maior do mundo. O exemplo bem sucedido do crescimento do número de computadores vendidos no Brasil após a drástica redução dos impostos (vendas cresceram de 4 milhões para 12 milhões de unidades em 4 anos, reduzindo também drasticamente o contrabando) deve ser seguido, especialmente no caso dos impostos cobrados atualmente sobre os serviços de BL. Somente assim será possível alcançar-se a inclusão digital.

 

São também necessárias urgentes definições dos espectros de radiofreqüência a serem destinados para os novos serviços, tais como a liberação no mínimo de 140 MHz de banda para o LTE e de 50 MHz para o WiMAX na faixa de 2,6GHz, liberação da faixa de 3,5GHz para o WiMAX, regulamentação da faixa de 450MHz, etc. Tais medidas darão às operadoras/provedores, bem como aos fornecedores de equipamentos, serviços e soluções a segurança necessária para o planejamento e os conseqüentes investimentos nos seus negócios e a prestação de um serviço dada vez melhor e mais acessível a todos os usuários.

 

Concluindo, é necessário ressaltar que o Brasil carece de uma visão estratégica e um plano integrado de ações governamentais, sobre como e o que queremos das redes de BL, como suporte e alavancadoras poderosas do desenvolvimento sócio-econômico e cultural da Nação, a exemplo de outros países  tão bem sucedidos como a Coréia do Sul!

 

O governo federal anunciou recentemente sua intenção de publicar um “Plano Nacional de Banda Larga” – PNBL – nas próximas semanas.

 

Oxalá o mesmo venha a considerar a participação de todos os atores envolvidos, otimizando recursos financeiros, humanos e materiais e tendo as operadoras de telecom/provedores de Internet como parceiros e não como competidores. Tópicos aqui observados deverão certamente fazer parte do PNBL, tais como:

 

Temos todas as condições de construir redes de serviços que atendam às condições exigidas. Basta ter vontade política, formular conjuntamente o Plano e executá-lo. Já. Sem fronteiras!

 

 

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Comentário de Julio A. Nogueira

Excelentes e claras as colocações deste artigo. Não se pode pensar em Desenvolvimento, no Sec. XXI , sem levarmos em conta a importância das TICs.

 

Trabalho com software de conteúdo público para as Cidades Digitais, a falta de Políticas Públicas é um grande entrave nesta área. Espero que o Gov. Federal realmente defina estas Políticas, inclusive abordando a área tributária e a liberação do FUST, o que certamente dará grande impulso na Macro Inclusão Digital, ou as Cidades Digitais Sustentaveis, modelo já possivel, baseado no uso de tecnologias disponíveis e do Conteúdo Público ofertado, que abrirá importantes nichos de interesse a iniciativa privada.

 

Vamos continuar lutando para que a oferta de Serviços Páblicos pela Internet seja acompanhada de Programas de Macro Inclusão Digital pois se isto não ocorrer simultaneamente, estaremos alargando a exclusão Sócio Econômica, pela Exlusão Digital das populações menos favorecidas.

 

 

Comentário de Gustavo Lira

Usar os 450MHz? E os radioamadores? Favor revisar esse ponto de vista!

 

 

Comentário de Fabio Varela

Excelente artigo, muito esclarecedor. Torço para que essas políticas e um plano estratégico realmente eficiente, sejam implementados, o quanto antes.

 

Considero que, o ponto mais delicado de ser tocado nisso tudo, será a área tributária, pois temos em nosso país, uma classe política que é muito "resistente" a largar o filão, em prol do bem comum. E isso é reflexo do próprio povo. Vejam que no comentário anterior, do leitor Gustavo Lira, já se mostra resistência imediata, antes mesmo de se tentar entender a questão.

 

No artigo, não se coloca em pauta o "uso" da faixa de 450MHz e sim a "regulamentação" da mesma, que são coisas diferentes. A sociedade, nem iniciou uma reflexão sobre a questão, mas já apareceu um que é contra.

 

 

Comentário de Rafael Oliveira Lima Santana

Alguns pontos do 3G tem que ser revisados pelo fato mencionado de que o 3G alcança até 80 Mbit/s onde foram realizados alguns testes e que a estabilidade foi de apenas 1 Mbit/s em ótimas condições de tempo onde tbm os equipamentos alcançaram uma velocidade maior so que ate 7 Mbit/s com alguns aparelhos fora que as operadoras adotaram um termo onde o cliente que consumir 2G a velocidade mesmo 3G reduz para 128 Kbit/s.

 

 

Comentário de Fellippe Navega Ripoll

Louvores ao Governo de São Paulo por isentar 100% don ICMS para banda larga. Tal atitude deve ser seguida por outros estados.

 

 

Comentário de Marcos A. Santos

Bom Dia, Se a GVT utiliza a tecnologia xDSL, com velocidade media de 2Mbits/s, por que ela está comercializando 100Mbits/s? Ela realmente disponibiliza esta velocidade para o usuário final? Ou está cumprindo a risca as normas da ANATEL e entregando apenas 10%? Por que ela está com preços tão agressivos no mercado? Estratégia para aumentar a base de clientes e consequentemente aumentar o valor de mercado para ser vendida?

 

 

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