13/09/2012

Em Debate

 

 

 

 

 

Os principais desafios do setor de Telecom no Brasil

 

Aluizio Byrro

Chairman da Nokia Siemens Networks para América Latina

 

 

Há 10 anos era fundado o portal “Teleco”, uma consultoria especializada em Telecomunicações e que veio firmar-se no Brasil como uma das mais conceituadas empresas especializada em portais públicos de dados em telecom e outros serviços correlatos.

 

Naquele ano o setor de telecom no Brasil, importante e estratégica alavanca do progresso social e econômico das Nações, enfrentava , entre outros, o desafio de implantação das redes móveis GSM

 

A consolidação da universalização das redes fixas acabara de acontecer, gerando uma elevada ociosidade nas redes. Os terminais móveis ainda eram poucos e caros, a carga tributária extremamente elevada, a convergência das redes era um tema ainda iniciando. O uso da Internet era incipiente e o tráfego de dados irrelevante nas receitas das operadoras.

 

Apontava-se para a escassez de recursos humanos especializados e a politica industrial estava praticamente esquecida, observando-se uma forte redução do conteúdo local por absoluta falta de competitividade frente ao importado (Hw e Sw).

 

Decorridos 10 anos, alguns daqueles desafios persistem ainda hoje mas há que se admitir que a privatização foi uma decisão das mais acertadas, e notáveis progressos foram alcançados. Foram investidos (Capex), a valores atuais, segundo a Telebrasil, aprox R$390 bilhões desde a privatização. O numero de acessos fixos e móveis saltou de aprox.73mi em 2002 para 300mi atualmente. As conexões de banda larga (fixas e móveis), de 7,7mi em 2002 chegam atualmente a um total de 70mi, com velocidades médias de aprox 2Mbit/s(redes móveis) e devendo chegar brevemente a dezenas de Mbit/s com a implantação da tecnologia LTE , também chamada de geração 4G.Um extraordinário crescimento de aprox. 360% em 10anos!

 

A despeito de todo este sucesso, este setor, de elevada e sofisticada dinâmica tecnológica, e altamente inovador, deve enfrentar, ainda neste e nos próximos anos, inúmeros desafios para seu continuo desenvolvimento e progresso, entre os quais os seguintes:

 

# Legislação de Infraestrutura: A expressiva multiplicação do número de ERB's no acesso, inclusive com a proliferação das “small cells”,deverá ser da maior relevância na viabilização do aumento da capacidade no acesso wireless, requerendo urgente aperfeiçoamento e harmonização da legislação de infraestrutura vigente.

 

# Carga Tributária: Os freios cada vez maiores impostos ao desenvolvimento das Telecomunicações face à elevada carga tributária(superior a 46% da receita liquida das operadoras e a segunda maior do mundo), precisam ser removidos. Urge uma reforma que resulte em reduções expressivas dos impostos, ao menos no médio/ longo prazo.

 

# Espectro Internacionalmente Harmonizado: Faixas de espectro adicional, cujo conjunto esteja internacionalmente harmonizado com os grandes mercados internacionais.

 

# Eficiência Espectral: A indústria de equipamentos continuará trabalhando para viabilizar o aumento da eficiência de uso do espectro disponível .Trabalha-se atualmente para ultrapassar os limites teóricos calculados por Shannon ,através de desenvolvimentos inovadores e pouco convencionais.

 

# Neutralidade de Rede: Provocando na indústria das Telecomunicações enormes investimentos em Banda Larga, a indústria virtual dos OTTs (Over The Tops) deles se prevalece para gerar lucros sem precedentes, que acabam direcionados ao exterior. É necessário discutir, no contexto da Neutralidade da Rede, um equilíbrio mais justo da receita auferida entre as indústrias envolvidas.

 

# Novos modelos de negócios: Sacudido e renovado pela convergência com o mundo IP e da Mídia, o mundo das Telecomunicações defronta-se com a possibilidade de exploração de cadeias de valor horizontais e verticais, muito diferente daquele caracterizado pela exploração de um modelo de negócios verticalmente integrado e controlado. Disputando negócios com os atores do fluido mundo dos OTTs, certamente acabará avançando para o oferecimento de novos serviços como o IPTV, para citar o mais simples e evidente deles.

 

# Capacidade de Investimento: A Banda Larga cada vez mais larga corresponde a um negócio de demanda insaciável, de forma que a fórmula do sucesso estará na capacidade de estrategicamente harmonizar o investimento em diferenciais competitivos com os recursos disponíveis.

 

# Competitividade do Conteúdo Local: As oportunidades de agregação de valor se dão horizontalmente sobre as cadeias de valor das indústrias globalizadas de telecomunicações e também verticalmente quanto à possibilidade de desenvolver competitividade internacional em determinados segmentos inteiros das telecomunicações. Cada um dos casos exige soluções customizadas e planejadas para o longo prazo. Para que tenham sustentabilidade há que se promover e incentivar a sua instalação em regime de competição internacional, o que passa ao largo da imposição de cotas ou reservas de mercado.

 

# Recursos humanos: O progressivo aumento da complexidade do setor de Telecomunicações naturalmente demanda do Governo uma melhor preparação quantitativa e qualitativa dos recursos humanos de nível técnico no país, mediante, entre outros, da intensificação de parcerias entre universidades, indústria e centros de pesquisas.

 

# Marco Regulatório: Com a forte transformação do setor, cujos bens tornam-se cada vez mais intangíveis, faz-se necessário adaptar o marco regulatório nessa direção, incentivando e protegendo a aceleração de investimentos em inovação e capacidade competitiva, suprimindo-se velhos paradigmas do arcabouço legal e regulatório, como por exemplo, o da reversibilidade de bens.

 

O setor de telecom vive um momento decisivo e o futuro mostra-se promissor , em que pese os diversos desafios a enfrentar, com o tráfego de dados mais do que duplicando a cada ano e inúmeras novas aplicações surgindo a cada momento.

 

É responsável por aprox 5% do PIB nacional, gerador de aprox 470mil empregos e recolhe impostos totais pelas operadoras num total de R$ 58 bilhões/ano.

 

São, portanto inúmeras as oportunidades para todos que participam e contribuem para o setor. Oferecer serviços inovadores, com alta qualidade e a preços adequados para os usuários é o principal objetivo de todos os que nele atuam. Aos fornecedores cabe desenvolver e fornecer serviços e equipamentos cada vez mais inovadores , com qualidade assegurada e preços compatíveis. Às operadoras cabe adaptar-se aos novos modelos de negócios, garantir excelência no atendimento aos usuários finais e oferecer serviços inovadores e também a preços justos. À agencia reguladora cabe garantir um marco regulatório transparente e duradouro, com atuação ágil , estimulando assim os crescentes investimentos .

 

Em resumo, o futuro do setor de Telecomunicações é desafiador, mas também promissor, repleto de oportunidades e estará em constante mutação. Vamos construi-lo. Juntos!

 

 

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