Em Debate
Publicado: 19/07/04
VoIP - Breves considerações sobre alguns modelos de negócio
Edson Duffles
1. Introdução
A transmissão de voz sobre a Internet iniciou-se nos meados da década de 90, com a comunicação entre usuários de dois computadores que dispunham de recursos multimídia. Naquela época o que mais caracterizava este tipo de comunicação era a baixa qualidade de voz e as sempre presentes quedas de conexão. Afinal a Internet, uma rede caracterizada pelo modelo " best effort ", foi desenvolvida para cursar tráfego de dados, sem prever a transmissão de sinais tais como voz e vídeo, aonde são fundamentais, para garantir a integridade da comunicação, a ordem e a taxa de chegada dos pacotes. Durante certo tempo existiu a tendência de se concentrar o desenvolvimento de tráfego de voz por pacotes preferencialmente sobre a rede ATM, que, por sua característica intrínseca, poderia garantir o necessário QoS. Mas, como era esperado, a transmissão de voz sobre IP - VoIP - triunfou, basicamente pela sua larga adoção nas redes de dados em todo o mundo. Mas para isto foi necessário um enorme esforço no desenvolvimento de técnicas que pudessem garantir um nível mínimo de qualidade de serviço considerando, inicialmente, a transmissão da voz sobre uma rede IP controlada e, logo a seguir, sobre a própria rede mundial (Internet).
2. Alguns dos atuais modelos de negócio que utilizam VoIP
Modelo NGN - Operadora de STFC operando sua própria rede com tecnologia IP. A Empresa Operadora substitui parte ou toda a sua rede TDM por uma rede IP, operando normalmente como uma rede telefônica. São as já conhecidas NGN (New Generation Network). Os investimentos necessários para implantação de uma rede IP são muito menores que aqueles necessários à implantação da mesma rede, em tecnologia TDM. Porém, isto somente se justifica, no momento, no caso de novas implantações ou no caso de se desejar oferecer serviços diferenciados a uma camada de clientes, visando, principalmente, a fidelização dos mesmos.
Modelo Carrier de Carriers. A Empresa Carrier estabelece Pontos de presença (POP) em locais importantes nos países em que pretende atuar. Estes POP's correspondem a Gateways que conectam as redes de outras Carriers ou de operadoras locais (os clientes desta Empresa) à Internet, cursando o tráfego entre as mesmas, via rede mundial ou sobre uma rede IP própria.
Modelo Corporativo. Atendimento a corporações com o serviço de longa distância nacional e internacional através da rede IP. Neste caso, a Empresa conecta saídas do PABX dos clientes (em geral grandes corporações) à Internet ou a uma rede IP própria, através de Gateways colocados nas instalações do mesmo (ou o cliente substitui seu PABX por um PABX IP). Através de seus controladores de rede a Empresa encaminha as chamadas pela rede IP até o destino. A Empresa deve possuir POPs nos principais pontos de destino das chamadas de longa distância nacionais e internacionais, ou acordos com provedores que tenham estes POPs.
Modelo By-Pass. Provimento de terminações internacionais em VoIP. Neste caso a Empresa instala Gateways nos destinos de maior interesse de tráfego, e termina as ligações internacionais como se fossem chamadas locais, se interligando ao STFC através de terminais telefônicos comuns. Este serviço é hoje muito utilizado no atendimento ao tráfego originado, através de Calling Card, nos Estados Unidos.
Modelo Internet Telephony - Operadora atendendo ao mercado residencial e SOHO com serviço de telefonia fixa utilizando como "última milha" conexões broadband pré-existentes no assinante. Este serviço, que normalmente é baseado no protocolo SIP, funciona como um parasita à rede de telefonia fixa. Se apodera de séries de numeração (normalmente através de acordo com empresa do tipo "Espelho"), e permite que telefones comuns, conectados à Internet através de Gateways, possam gerar tráfego, tanto para telefones da rede IP desta operadora, como para telefones pertencentes à rede de telefonia fixa ou celular.
Modelo Pier to Pier - Comunicação entre computadores via SW VoIP. Dois computadores com acesso Broadband, e utilizando um mesmo SW VoIP, podem hoje efetuar comunicação de voz de boa qualidade. Diversos destes Softwares estão disponíveis para serem baixados gratuitamente pela Internet. O custo das ligações sejam elas locais, nacionais ou internacionais, é zero. As empresas que fornecem o software garantem a lucratividade do negócio instalando, obrigatoriamente uma série de programas nos computadores dos usuários.
3. Regulamentação
Muito se tem escrito sobre a necessidade, ou não, de se regulamentar a telefonia que utiliza a tecnologia VoIP.
Alguns modelos de negócio como, por exemplo, os modelos NGN e Carrier de Carriers, se caracterizam apenas pela utilização de uma nova tecnologia. Esta tecnologia permite estabelecer os serviços existentes, como o tráfego normal de voz, com custos mais baixos, e adicionalmente introduz novos serviços, apenas viáveis com a utilização da tecnologia de pacotes em um ambiente de integração de voz, vídeo e dados.
O modelo Pier to Pier pode ser caracterizado como um tráfego decorrente de uma conexão à Internet em banda larga, com a utilização de um software adequado. Apesar de cursar comunicação de voz (muitas vezes também vídeo) em tempo real, não deve ser tratado como telefonia e sim como uma utilização avançada da Internet.
Já os modelos, Corporativo, By-Pass e Internet Telephony devem merecer bastante atenção dos órgãos reguladores e fiscalizadores.
No caso dos modelos Corporativo e By-Pass, existe claramente um by-pass das interconexões regulares com as operadoras locais. O tráfego de longa distância (nacional e internacional) é tarifado como tráfego local. Existem casos em que, uma ligação dos Estados Unidos para um destino internacional (para o Brasil, por ex.) é mais barata que uma ligação local, no Brasil. Empresas de telefonia fixa, localizadas em países (em geral da América Latina) aonde uma parcela razoável das entradas de recursos externos advém de remessas efetuadas por emigrantes, enfrentam hoje uma queda substancial em suas receitas, que são muito dependentes do tráfego entrante internacional. Apesar de existir nestes paises uma forte estrutura para coibir esta atividade (by-pass), o que se vê é cada vez mais esta atividade sendo aumentada, ajudado pelas facilidades proporcionadas pelo avanço tecnológico. Muitas vezes telefones celulares clonados são utilizados para a interconexão dos gateways com o STFC. As empresas que detêm os Gateways nos destinos de tráfego também se associam às empresas que oferecem o modelo Corporativo (que oficialmente permite apenas que o tráfego interno entre as diversas instalações da corporação não curse o STFC), fazendo com que as ligações de longa distância originadas nestas corporações tenham um tratamento tarifário diferenciado, próximo dos custos do tráfego local.
Também o modelo Internet Telephony se utiliza deste recurso para a terminação das chamadas de longa distância.
O modelo Internet Telephony, nos Estados Unidos, é o que está recebendo mais atenção, não só da mídia quanto também do FCC , do congresso e dos governos municipais. No momento este modelo de negócio está sendo considerado como tráfego de dados através da Internet, havendo diversas empresas já oferecendo o serviço. A tendência é que todas as operadoras de TV a cabo, aproveitando-se da sua forte presença no ambiente do cliente, estejam oferecendo o serviço telefônico VoIP, nesta modalidade. Uma empresa, hoje considerada um ícone no setor, apesar da sua atual pequena participação no mercado (não mais que 200.000 assinantes), tem crescido mensalmente em número de assinantes, a uma expressiva taxa superior a 10%. Segundo projeção da Teleco mmunications Industry Association, em 2007 haverá mais de 19 milhões de telefones utilizando Internet Telephony, nos Estados Unidos. O FCC tem mantido a posição de uma "regulação leve", sendo que a principal preocupação tem sido garantir o oferecimento do serviço 911, no formato que hoje é obrigatório para as operadoras de telefonia fixa. Além disto, existe também a preocupação com o não pagamento das taxas de universalização, que garantem a oferta do serviço de telefonia a baixo custo, principalmente para as comunidades rurais distantes. Até o momento estas taxas não existem para este modelo de negócio. Contra esta "regulação leve" se insurgem as ILEC ( Regional Bells), que vêm a sua base de assinantes se erodir, assim como também os governos municipais, que deixam de arrecadar substanciais recursos em impostos. Tudo leva a crer que esta polêmica irá durar ainda por muito tempo, sendo que a tendência é que, de alguma forma, a tecnologia VoIP saia vencedora. No Brasil, de acordo com a regulamentação vigente, este modelo de negócio só é possível para uma empresa detentora de licença STFC. Porém, todo o tráfego de longa distância para ser terminado em assinantes de outra empresa de telefonia fixa tem que passar através dos meios de interconexão, formalmente contratados entre as empresas envolvidas. Com isto, o tráfego de longa distância, nacional e internacional, não pode ser tarifado como tráfego local nem com tarifas excessivamente baixas. Isto reduz em muito a atratividade do negócio. Existe, porém, a grande probabilidade da empresa de VoIP utilizar, de forma irregular, também os By-pass citados nos modelos Corporativo e By-Pass.
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