Em Debate
Publicado: 12/07/04
A Quem Chamar Quando Wi-Fi Virar uma Torre de Babel?
Eduardo Prado
Weblog: Smart Convergence
A Agência Reguladora de Telecomunicações? O Síndico? O Administrador? A Polícia? Ou o Bispo? É claro que é uma brincadeira mas o assunto é sério e você verá. O que é a Torre de Babel? Veja aqui .
Recentemente a imprensa americana publicou uma matéria mostrando o choque que está havendo entre aeroportos e empresas aéreas/empresas de transporte de cargas nos EUA por causa do fervor na utilização da tecnologia de Wi-Fi nos aeroportos. Gente, não tem mais jeito!. Wi-Fi é uma realidade sem volta e a neccesidade de conectividade pública convivendo com aplicações de dados vai virar uma Torre de Babel em áreas públicas densas se não tiver um controle e/ou orientação mais apropriada.
Prestem atenção. O que está acontecendo nos EUA acontecerá também no Brasil em futuro próximo. Será nosso "Efeito Vodka". O problema é muito simples: a tecnologia mais difundida de Wireless LAN é o Wi-Fi que é o padrão IEEE 802.11b não é? É sim. E este padrão só tem 3 canais que não têm overlaping (os canais 1, 6 e 11). Veja Referências do Google sobre os Canais do 802.11 . Levando ao extremo só poderíamos colocar 03 antenas (AP = Access Point ) de Wi-Fi concêntricas sem uma interferir na outra. Se vier alguém e colocar mais uma outra antena em qualquer um dos outros 11 canais do Wi-Fi diferentes daqueles haverá interferência e como o padrão 802.11 usa a freqüência não licenciada de 2,4 GHZ a quem reclamar? Logo pensamos: ao "Bispo"!. Só que a seriedade do problema é que ela envolve grandes empresas aéreas (como American Airlines , Delta Airlines , United Airlines , etc), grandes empresas de transportes de cargas (como UPS ) e grandes aeroportos (como o JFK em Nova Jersey, o LAX em Los Angeles, o MIA em Miami, o de Fort Worth Dallas etc). Tá bom para você? Ou quer mais.
Voltando ao caso americano. O rápido espalhamento da tecnologia de Internet móvel nos EUA tem sido um boom para os viajantes (notadamente homens de negócios em viagens) querendo conectividade dos seus laptops e outros dispositivos móveis (como PDAs ou Smartphones ). Mas isto está começando a lançar faíscas em uma batalha sobre o controle das lucrativas - mas limitadas - ondas de RF (rádio freqüência) dos terminais aeroviários.
Os manipuladores de bagagem da empresa aérea Northwest Airlines no Aeroporto Metropolitano de Detroit recentemente descobriram que o Sistema de Wi-Fi da empresa aérea que envia informações de bagagens para o banco de dados central da empresa aérea parou de funcionar. Que bom não é? Quem foi o culpado? Simplesmente uma nova antena de Wi-Fi, diretamente posicionada através da área de manipulação de bagagens da Northwest Airlines, utilizada pela Operadora de Telefonia Móvel americana AT&T Wireless como parte de seu serviço de telefonia celular. Segundo um executivo da Concourse Communications Group (uma empresa de Chicago que instala redes de Wi-Fi em aeroportos americanos) o Access Point da AT&T Wireless varreu o sistema da Northwest Airlines do ar. Como foi resolvido? Depois que os níveis de potências foram ajustados, o sistema da empresa aérea voltou a operar.
Várias outras empresas aéreas como a Delta Airlines e a United Airlines têm criado sistemas baseados na tecnologia de Wi-Fi para rastrear bagagens ou outras funções operacionais "nobres" para elas. O Sistema Bullseye da United Airlines permite que os funcionários "escaneie" as bagagens com PDAs no "check-in" e em vários outros pontos do despacho de bagagens. O sistema é inteligente e sinaliza através de "bIps" para os funcionários quando eles tentam colocar a bagagem no vôo errado - uma grande preocupação hoje em dia em climas rígidos de segurança - ou se o passageiro alterou sua viagem. Grande idéia para aumentar a eficiência operacional com a conseqüente redução de custos!.
As fontes destes sinais espúrios de outras redes continuarão a proliferar-se continuamente e vão ameaçar a operação de muitas redes de Wi-Fi nos aeroportos. Um ponto importante: Quem decide o alcance das ondas de RF de Wi-Fi? Desde que os sinais de Wi-Fi não ultrapassem um raio de 300 pés (70 metros) ou menos e operem sob níveis de potências legais (definidos pelas Agências Reguladoras) os problemas de interferência tendem a ser localizados e as Agências não se envolvem pois a banda de freqüência do Wi-Fi é livre por ser não licenciada.
As autoridades dos aeroportos americanos ( FAA que por aqui é a Infraero ) dizem que eles têm pouca opção para tomar o controle das ondas de RF de Wi-Fi. Várias autoridades dos aeroportos estão insistindo que as empresas aéreas devem obter autorização antes de instalar suas próprias aplicações de serviços de dados de tal forma que os administradores dos aeroportos possam prevenir as interferências danosas. Outras estão solicitando para as empresas aéreas estarem seguras aos estabelecerem limites operacionais para os seus sinais de Wi-Fi dentro dos espaços alocados para elas nos aeroportos - um pedido que muitas empresas aéreas consideram não razoável. E com toda razão pois a banda do Wi-Fi é não licenciada e se elas operarem com potência adequada nos seus sinais de RF estão dentro da lei.
E agora seu Síndico, como resolver?
Alguns aeroportos já estão tendo a noção de como gerenciar o problema olhando um pouco a frente. Eles estão instalando as suas próprias redes como é o caso do Aeroporto Internacional de Nova Iorque JFK e o Aeroporto Internacional Boston Logan - entre outros - que já têm Sistemas de Wi-Fi nas suas instalações.
O Aeroporto Internacional de Orlando está investindo KUS$ 225 na sua instalação de Wi-Fi com 200 APs nas áreas de terminais e de bagagens e deve iniciar sua operação até o final deste ano. Neste aeroporto as empresas aéreas que querem utilizar Wi-Fi para qualquer fim - desde suas operações internas bem como fornecer acesso a Internet aos laptops e PDAs dos seus passageiros - devem pagar uma licença de uso a administração do aeroporto. Esta é uma das maneiras de disciplinar a Torre de Babel que está ocorrendo ou ocorrerá em qualquer aeroporto no futuro em relação ao assunto Wi-Fi. O problema desta gerência é que a administração do aeroporto está se tornando o Síndico de algo que não lhe pertence que são as ondas não licenciadas de RF.
Por exemplo, no Terminal 1 do Aeroporto Internacional de Orlando, 18 empresas aéreas compartilham 25 terminais, e segundo os administradores do aeroporto é impossível para cada uma delas operar sua própria rede. A Virgin Atlantic e a JetBlue Airways já concordaram em migrar as suas operações wireless para o sistema do aeroporto quando este ficar pronto. Segundo o Diretor de Tecnologia da Informação (TI) do aeroporto "existem muitos interesses em jogo, para qualquer fazer sua própria rede". É por aí gente. O interesse em utilizar a tecnologia de Wi-Fi para aumento de eficiência operacional, redução de custo ou para a conveniência de clientes vai causar várias disputas em lugares públicos que precisarão ser melhor gerenciadas. Esta "ponta do iceberg". Este tipo de contenda vai ocorrer em milhares de outras situações em ambientes públicos no futuro.
Existe também o outro verso da moeda. Algumas empresas aéreas estão "enraivecidas" afirmando que os aeroportos não têm autoridade legal para racionalizar a utilização das ondas de RF. Elas estão preocupadas que seus sistemas de informática multi-milionários sejam submetidos a riscos. As empresas aéreas também afirmam que se um equipamento de Wi-Fi que ela utiliza não é compatível com o que está instalado no aeroporto, a empresa teria que comprar um novo sistema. Este "choro" pode não ser razoável pois o Wi-Fi é baseado no padrão IEEE 802.11b e padrão é padrão. Os equipamentos são interoperáveis e ponto!. Por outro lado, as empresas aéreas devem ter custos adicionais para instalar seus sistemas "caseiros" ( home made ) em diferentes aeroportos. Isto com certeza vai incomodá-las pois terão custos adicionais e procedimentos diferentes e vão - com certeza - perder em escala.
Como se não bastasse os problemas que as empresas aéreas enfrentam, existem um outro player nesta "festa". Quem? As grandes empresas internacionais de tranporte de cargas tais como UPS e FedEx . Estas empresas foram uma das primeiras a descobrirem a importância da tecnologia de Wi-Fi e investiram milhões de dólares nos seus sistemas de automação. Nesta discussão de Wi-Fi, a UPS afirma que sua rede UPScan de MUS$ 120, que rastreia encomendas, pode não funcionar em algumas das redes de Wi-Fi dos aeroportos. A UPS está instalando seu sistema em 1.700 localidades em todo o mundo. Ela utiliza a combinação do Wi-Fi com o Bluetooth (padrão IEEE 802.15.1 ), e afirma que sua rede é incompatível com alguns equipamentos de rede dos aeroportos. Aqui o problema é mais sério pois o Wi-Fi e o Bluetooth operam na mesma freqüência de 2,4 GHZ e em condições normais uma tecnologia interfere na outra e a UPS teve que desenvolver com um ou mais vendors equipamentos wireless especiais para seu sistema UPScan.
E agora seu Administrador, como resolver?
Nos EUA a coisa está subindo de nível. A UPS e algumas empresas aéreas estão pressionando a FCC (a ANATEL americana) para impedirem que os aeroportos limitem a utilização de Wi-Fi e de forçá-las a "comprar acesso" dos sistemas proprietários dos aeroportos. Elas argumentam que as administrações dos aeroportos não têm o direito de regularem sobre seus sistemas, e somente o FCC tem!. Elas reclamam também que as regras da FCC que permitem as mesmas colocarem suas pequenas antenas de satélites nos seus balcões de atendimento devem permitir que elas tenham direto de instalar seus Access Points no espaço que elas alugam do aeroporto. Imagina se a moda "pega"!.
Se a FCC tomar partido, esta ação poderia ter implicações mais amplas para a disseminação da tecnologia de Wi-Fi, isto por que as empresas aéreas estão submetendo a FCC uma questão crucial: "se um locador tem o direito de legislar sobre as redes de Wi-Fi privadas de um locatário". Como diz Laura Smith Presidente da ITA ( Industrial Telecommunications Association ) - que apóia o pleito das empresas aéreas e está pedidndo ao FCC para legislar em favor delas: "Esta é uma questão de direitos de locador e locatário e será que um locador pode ditar para um inquilino como utilizar bandas de freqüências não licenciadas?". Boa pergunta.
E agora "dona" Agência Reguladora, como resolver?
Os aeroportos argumentam que o Wi-Fi não tem diferença nenhuma de outras utilidades das suas instalações, tais como eletricidade, e que seus administradores devem ser o juiz para todos os assuntos referentes as interferências de RF causadas pelo Wi-Fi. E como diz Samuel Ingalis Diretor de TI do Aeroporto Internacional McCarran de Las Vegas: "A última coisa que nós queremos é que alguém conecte seu sistema na tomada, ligue a energia e subitamente você tem um sistema de missão crítica de outrem que deixa de funcionar". Este aeroporto planeja lançar seus próprio sistema de Wi-Fi ainda este ano.
Pois é né, esta briga vai ser "feia" pelos diversos interesses dos poderosos envolvidos na contenda.
Existem algumas formas de reduzir esta celeuma (mas nunca eliminá-la totalmente é bom você já ficar ciente diante mão), a saber:
[a] Wireless LAN (WLAN) hoje em dia tem 03 padrões definidos: o IEEE 802.11b (que é o Wi-Fi) que opera em 2,4 GHz, modulação DSSS ( Direct Sequence ) e tem taxa de transmissão de 11 Mbps. o IEEE 802.11a que opera em 5,0 GHz, modulação OFDM e tem taxa de transmissão de 54 Mbps e o IEEE 802.11g que opera em 2,4 GHz, modulação OFDM e tem taxa de transmissão de 54 Mbps. A grande maioria dos projetistas de redes WLAN escolhe o padrão 802.11b pela grande disponibilidade de equipamentos e seu menor custo. O padrão 802.11a de 5,0 GHZ embora tenha frequência diferente do 802.11b quando comparado a este tem maior custo, menor alcance (precisa-se de mais APs) e maior consumo de bateria . A solução inicial nesta confusão dos aeroportos é utilizar uma mesclagem de WI-Fi com o padrão 802.11a para reduzir as contenções quando todas as instalações utilizam o Wi-Fi. O padrão 802.11a tem mais vantagem além desta da diversidade de freqüência? Tem sim. Ao contrário do 802.11b que tem apenas 03 canais sem overlap o padrão 802.11a tem 12 canais: 08 canais para uso indoor e 04 canais para uso outdoor . Estes 04 canais de outdoor ainda trazem uma vantagem adicional para as empresas aéreas nos aeroportos por que eles podem ser utilizados para montagens de redes prédio-para-prédio ( building-to-building ). Ainda existe desvantagem para o padrão 802.11a?. Sim existe uma. Ele não funciona na Europa (por problemas na época da sua concepção do padrão). Neste continente deve ser investigado o padrão europeu HiperLAN2. Veja as referências Is There a Place for 802.11a? e Choosing a WLAN Standard: 802.11a vs. 802.11b da Computerworld. Veja Referências do Google sobre a Comparação dos Padrões 802.11a e 802.11b ;
Veja matéria recente da Computerworld sobre o assunto Airlines, airports battle over Wi-Fi spectrum oversight .
Como esta estória está acabando?
Digo acabando pois pode ter próximos passos. Você quer saber?
No final do mês de JUN.2004 o Departamento de Engenharia e Tecnologia do FCC informou que locadores ou associações não podem regulamentar sobre freqüências não licenciadas (a famosa Part 15 ) e que a função de regular e coordenar a utilização destas freqüências é exclusivamente do FCC. Este é um posicionamento claro para shopping centers , aeroportos e associações de condomínio que pretendam limitar o uso de Wi-Fi e outras tecnologias sem fio.
Veja partes do parecer do FCC:
(1) The FCC has exclusive authority to resolve matters involving radio frequency interference [RFI] when unlicensed devices are being used, regardless of venue. We also affirm that the rights that consumers have under our rules to install and operate customer antennas one meter or less in size apply to the operation of unlicensed equipment, such as Wi-Fi access points - just as they do to the use of equipment in connection with fixed wireless services licensed by the FCC.
(2) The rules prohibit homeowner associations, landlords, state and local governments, or any other third parties from placing restrictions that impair a customer antenna user's ability to install, maintain, or use such customer antennas transmitting and/or receiving commercial nonbroadcast communications signals when the antenna is located "on property within the exclusive use or control" of the user where the user has a "direct or indirect ownership or leasehold interest in the property, except under certain exceptions for safety and historic preservation.
Enfim este parecer do FCC pode estar criando jurisprudência para outros países sobre a utilização de freqüências de RF não licenciadas.
Veja o parecer completo do FCC em 24.JUN.2004 sobre este caso aqui: formato DOC e formato PDF .
Mais sobre a decisão do FCC na Computerworld: Airlines win Wi-Fi management battle with airports .
Esperemos que as "coisas" melhorem no futuro para todos que pretendem utilizar estas (e outras) freqüências de RF não licenciadas!.
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