Em Debate

Publicado em: 10/12/2007

 

 

 

O Google & as Telcos

 

Parte 1

 

 

 

Eduardo Prado

Consultor

Parte 1 :: Parte 2

 

Operadoras de Telefonia Móvel preparem-se! Chegou um novo player que não é do vosso ramo mas quer entrar no vosso “castelo com muros altos” e pegar parte da sua “grana” e relacionar-se (como também conhecer os hábitos de consumo) do vosso maior patrimônio: vosso Cliente. Ponto! Este player chama-se Google.

 

Para começar colocando emoção nesta estória, gostaria de perguntar aqui: Vocês conhecem algum vendor de handset ou telco móvel no mundo que tenha doado 10 MUS$ para desenvolvedores de aplicações desenvolver software para seus handsets? Não conhece? Eu também não ... até agora!

 

Apenas o Google é o primeiro a oferecer este “pequeno estímulo” em toda a história das telecomunicações para o seu handset gPhone (ver Android Developer Challenge — $10M, Dailywireless, 12.nov.2007). Conheça um pouco deste tal do gPhone aqui neste vídeo do Sergey Brin (Acionista e Presidente, Tecnologia) e Steve Horowitz (Diretor de Engenharia) ambos do Google: Android Developers, You Tube, 09.nov.2007 [arquivo de vídeo].

 

Vocês entenderam como a “banda vai tocar a daqui pra frente”? Pois é ... o Google vai lançar mão de novas formas de fazer business que serão inovadoras para todo mundo ... inclusive para as telcos! E aí vai uma pergunta para as telcos brasileiras fazerem para elas mesmas: Como vai a minha área de Novos Negócios & Inovação? (sic!). Ué, eu tenho isto?

 

O ano de 2007 será um marco na história de grandes anúncios no mercado de Telecom & Mídia. Foi neste ano que começaram grandes (e inusitados) movimentos que vão marcar o setor de telecom “para sempre”. Anote isto para não esquecer:

  1. o primeiro foi o lançamento do iPhone da Apple em Junho de 2007 (ver Walt Likes the iPhone, Dailywireless, 26.jun.2007) que fez muito sucesso nos EUA (na telco AT&T) e na Europa (na telco O2, Apple iPhone hits O2 in the UK on November 9th, Engadget, 18.set.2007). O iPhone trouxe para o mercado um novo conceito de interface tipo “touch panel” (ver Apple Ushers in Era of the Fluid UI, GigaOM, 18.jan.2007) que marcará o mercado de handsets para sempre. Para vocês entenderem a importância do que o iPhone representou no mercado de telefonia móvel podemos destacar que em uma época em que a base de assinantes de telefonia móvel crescia lentamente nos EUA, a base de assinantes da AT&T (que lanlou o iPhone nos EUA) cresceu 1,2 milhões capitaneada pelo design e aplicações do iPhone, que vão desde ao browsing em Wi-Fi e na Web, como também pelo iPod que este handset carrega embutido nele. Adicionalmente, veja como está a “saúde financeira” da Apple impulsionada pelos números do iPhone (ver Apple posts $6.22 billion Q4 revenue; $904 million profit, MacMinute, 22.out.2007);
  2. o segundo foi o lançamento do Skype Phone em 29.out.2007 na telco 3 da Inglaterra (do grupo KDDI de Hong Kong) (ver GSM/CDMA/Skype/Google Phone, Dailywireless, 29.out.2007). O telefone móvel da Skype permite ligações gratuitas para outros usuários do serviço em qualquer lugar do mundo. Na telco 3, o Skype Phone – com tecnologia da Qualcomm - custa de US$ 100. Com esta notícia você vai perguntar: Explica para mim qual o segredo de uma telco móvel ofertar um handset que permite fazer ligações gratuitas? Não é elementar meu caro Watson? Não, não é não! A resposta é que os tempos são outros e o mercado de telecom tem que adaptar-se. Um ponto importante aqui é que à medida que as telcos móveis expandem-se, atingem um bom patamar de qualidade e a competição aumenta, o grande diferencial na fidelização (e captura de novos) clientes é a oferta de serviços diferenciados. É aqui que entra o Skype Phone. Um destaque: O Skype Phone só pode ser utilizado em redes 3,5G (no caso da 3 utiliza a plataforma HSDPA da família GSM). Notem também que a telco inglesa 3 não está praticando nenuma filantropia. No seu plano mais básico, ela fornece o handset do Skype grátis mas cobra uma tarifa promocional (ver Planos do Skype Phone aqui). Ninguém é “bobinho” nesta área! (ver mais detalhes do Skype Phone aqui no FAQ do site). O Skype que tanto mal já causou nas receitas LDI e LDN das telcos fixas pelo mundo afora (elas sabem exatamente “how deep is the hole”. Perguntem a elas!). Está no mercado desde 2003 ofertando ligações telefônicas gratuitas ou mais baratas via VoIP foi comprado em 2005 pelo portal de leilão eBay por 2,6 BUS$. Ver mais aqui sobre o Skype Phone: Skype Goes Mobile, Business Week, 18.out.2007 e Skype And 3 launch Mobile Phone Service; In UK and 8 Other Countries, MoCo News, 29.out.2007);
  3. o último foi o anúncio da plataforma de software livre Android (ou gPhone) do Google e alianças com “peso pesados” da indústria de telecom (como China Telecom, NTT DoCoMo, SprintNextel, Telecom Itália, Telefônica, KDDI, Motorola, Qualcomm, Intel, Texas Instruments, Samsung, LG Electronics para citar apenas alguns) em 05.nov.2007 (ver Google Android hits G-Spot, Dailywireless, 05.nov.2007). A aliança do Google é chamada OHA (Open Handset Alliance). Tem “gente grande” que ainda não entrou na OHA como a Vodaphone, Verizon, AT&T, Nokia, por exemplo. A Verizon e AT&T têm 52% do mercado americano de Telecom. A Nokia tratou logo de avisar que sempre está de “ouvidos abertos” para uma boa proposta (ver Nokia says door open to Google alliance, Yahoo News, 06.nov.2007). Vejam mais aqui a repercussão do anúncio do Google na indústria (Reactions To Android: Nokia, LiMo, Carriers, MoCo News, 06.nov.2007).

Os principais pontos anunciados pela Google sobre a sua plataforma gPhone foram os seguintes:

  1. o GPhone será produzido pela coreana HTC – a mesma do Windows Mobile – e estará disponível no mercado segundo semestre de 2008 e a expectativa é que ele seja comercializado por US$100;
  2. a plataforma do GPhone será baseada no Sistema Operacional Linux com a linguagem Java;
  3. foi anunciado a Aliança OHA (Open Handset Alliance) com 34 membros incluindo as telcos móveis T-Mobile, SprintNextel, NTT DoCoMo, KDDI, Telecom Italia e Telefônica como também fabricantes do porte da Qualcomm, Intel, Texas Instruments, Motorola e Samsung;
  4. o kit de desenvolvimento foi anunciado que estará disponível ainda em Novembro de 2007.

O que o Google realmente almeja? O objetivo principal do Google é mudar o negócio wireless. Eles querem que as telcos móveis abram (abram mesmo, viu?) o negócio para o mercado. Isto é uma outra maneira de direcionar o mercado para aonde eles realmente querem!

 

Conheça mais detalhes do anúncio de 05.nov.2007 do Google aqui nestas referências: Conference Call: ‘Google’ Phone Platform Official, Available Next Week, First Devices Through 2008, MoCo News, 05.nov.2007; Google Phone: A Business-Tech Nightmare Waiting to Happen, The Wall Street Journal, Business Technology, 05.nov.2007; Members of Google-OHA, and Their Respective Roles, MoCo News, 05.nov.2007; What is Android: The Google Phone Video Explanation, MoCo News, 05.nov.2007; Google sends Android to conquer mobile world, News.com, 05.nov.2007; Google Competitors Not Concerned, MoCo News, 05.nov.2007; Google Phone Round-Up: Many Partners; Increasing Speed; New Apps; Winners & Losers, MoCo News, 04.nov.2007; e Google to unveil 'Android' phone software, News.com, 02.nov.2007.

 

Apesar do gPhone estar disponível apenas no 2S08 e ter gente achando que o anúncio na Google não passa de um “estardalhaço de marketing” (ver 5 Open Questions About the Google Phone aka Android, GigaOM, 05.nov.2007), nós acreditamos que o Google não está “bricando” neste novo negócio.

 

Ele veio para marcar sua presença com destaque no segmento wireless. Ele sabe que a Internet, um dia no futuro, vai ser móvel (As web content migrates to mobile internet, Communities Dominate Brands, 31.jan.2007 e Yahoo says mobile Internet use to overtake fixed in 10 years, Total Telecom, 23.nov.2007) e eles não pode deixar de ser um player importante nesta arena! Sacou?

 

G-Phone: Uma Plataforma Aberta

 

O Android utiliza uma plataforma Linux sobre a linguagem Java. Ele é projetado para que programadores desenvolvam suas aplicações que conectam serviços independentes na Web.

 

Os telefones móveis ainda são pouco utilizados para acessarem a Internet e fazerem coisas que seus “primos” PCs já fazem na Internet. Quando eles chegarem lá, será necessário software de busca e aplicações Web.

 

Aqui é que é a “praia” do Google! Atualmente – segundo o analista de indústria Juniper Research – nos EUA, 155 dos consumidores navegam na Internet através dos seus handsets e apenas 3% utilizam seus aparelhos para fazerem buscas.

 

Como o Google começou com esta estória? Quando você tem muita “grana” como o Google, achar as coisas que você não tem, não é uma tarefa muito difícil, não é? Android foi o nome da empresa de software para telefonia móvel adquirida pelo Google em 2005.

 

Aparentemente, a comunidade de software livre está contribuindo muito com tecnologia para o Android. De acordo com especulações de mercado, o Google espera licenciar o Android na Fundação Apache License, Version 2.0.

 

Uma das empresas da OHA – a Wind River Systems, uma empresa especializada em desenvolver software para equipamentos de redes e telefones móveis – deverá ajudar a integrar o Android com hardwares específicos e também fornecer o suporte para as telcos utilizarem o software do gPhone. A Wind River está “rezando a cartilha” do Linux desde 2003.

 

Na telefonia móvel vários grupos têm aparecido nos últimos anos em torno da tecnologia Linux. Aqui tem alguns exemplos: o Linux Phone Standard (Lips) Forum, a Open Source Developer Labs e o Consumer Electronics Linux Forum (CELF). Mais recentemente em 2006 tivemos a LiMo Foundation, (formada pela Motorola, NEC, NTT DoCoMo, Panasonic Mobile Communications, Samsung, LG Electronics e Vodafone).

 

Alguns membros desta Fundação participam também da Aliança OHA do Google (ver LiMo (Linux for Mobiles) is Ready to Go Prime Time, GigaOm, 05.nov.2007). As telcos têm apostado muito na plataforma Linux Mobile. Elas querem padronizar – novidade né, elas adoram isto! – três plataformas de SOs (= Sistemas Operacionais) nos seus negócios: Symbian, Windows Mobile e Linux Mobile.

 

Os telefones móveis podem “rodar” qualquer software. O grande desafio é a bateria, e portanto o software deve ser projetado para “rodar” dentro de um ambiente restrito com quantidade de memória e capacidade de processamento limitadas a sua disposição.

 

O SO Linux está motivando o interesse dos fabricantes de handsets por que ele é modular, sendo relativamente fácil empacotar junto apenas a tecnologia que é necessária, e é relativamente barato adquirir as partes componentes.

 

Conquistando Desenvolvedores de Aplicação

 

O Google quer com seu novo SO Android estender seu business atual de “busca e marketing” - altamente lucrativo - na Internet para o mercado wireless. O Google lançou em Novembro de 2007, um kit de desenvolvimento de software para serviços inovadores de terceiros que poderiam ajudar a chamar consumidores de telefonia para o gPhone.

 

Hoje em dia, as telcos móveis, para prevenir seus clientes de navegarem livremente na Internet nos seus handsets, comandam seus usuários para portais móveis da sua própria marca e de uma seleção limitada de sites de parceiros que eles querem – um modelo remanescente da “ditadura do cesso” semelhante ao que o provedor AOL fez há 10 anos atrás, até seus clientes rebelaram-se. Este modelo não funciona mais na Internet convencional e não deve ter vida longa na Internet móvel!

 

Uma das alavancas do Google para disseminar seu gPhone é apostar em desenvolvedores de aplicativos para a telefonia móvel. O Google acredita que se o gPhone tiver uma grande penetração, os desenvolvedores de software podem gravitar para a sua plataforma e reduzir custos. Comparado com o mercado computacional, aonde existem uns três SOs amplamente utilizados, a indústria wireless é bastante fragmentada através de 40 plataformas de software.

 

Somente uns poucos deles como Symbian, Windows Mobile, Palm e Blackberry oferecem uma plataforma de desenvolvimento na qual os programadores podem escrever uma aplicação para múltiplos handsets com pouca customização. Como conseqüência, pequenos desenvolvedores são obrigados a criarem múltiplas versões de uma mesma aplicação para fazê-la compatível com até mesmo um pequeno subconjunto de centenas de modelos de handsets ... um processo ineficiente e bastante custoso!

 

Lembram do concurso do Google que falamos acima? Pois é ... se não viu o link ainda veja agora: Android Developer Challenge — $10M, Dailywireless, 12.nov.2007.

 

Objetivo do Google: Aplicações de Valor Adicionado

 

Depois do lançamento do iPhone, o mercado já sinaliza que este handset transformará o business wireless: 5 ways iPhone will change the wireless biz, GigaOM, 12.jun.2007. O mercado vai mudar bastante no próximo período de 12 a 18 meses. Os clientes vão fazer sua escolha pelo software e não pelo serviço.

 

As empresas que atraírem desenvolvedores de software e em conseqüência aplicações diferenciadas vão ser as vencedoras no final da corrida. O crescimento futuro e o preço Premium irá para o produto (com melhor software). O Google está estruturando a oferta do seu gPhone com este objetivo em mente.

 

Em 30 de Agosto de 2007, o escritório de patentes dos EUA publicou uma patente arquivada pelo Google para um sistema de Mobile Payment para permite as pessoas pagarem bens e serviços via SMS.

 

É esperado que o sistema de Mobile Payment do Google chamado gPay (ver Could GPay Be Google’s Killer Phone App?, Tech Crunch, 02.set.2007) seja integrado ao gPhone, simplificando o comércio de provedores a medida que permitem aos usuários pagarem seus serviços via SMS.

 

Atualmente, as telcos móveis forçam que a maioria das transações de pagamento sejam incorporadas na conta mensal do assinante, mantendo um bom quinhão (revenue share) por ofertar esta alternativa de pagamento e tornando-se um intermediário indesejável entre desenvolvedores e consumidores. Quando o Google estiver no cenário e cobrar menores taxas que as telcos móveis, o mercado de compra na Internet Móvel pode florescer.

 

Esta é apenas uma surpresa do Google em termos de serviços de valor adicionado!

 

Recentemente o Google anunciou que vai permitir que um usuário qualquer do Google Maps tenha acesso a sua localização sem utilizar o famoso GPS. Boa notícia, não? Veja mais aqui: Google Maps Tracks w/o GPS, Dailywireless, 28.nov.2007.

 

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