Em Debate Especial O setor de Telecom no Brasil em 2008
Publicado em: 14/01/2008
O 3G chegou no Brasil!
Parte 2
Eduardo Prado
Consultor
E o WiMAX, como fica hein?
A disseminação do WiMAX no mundo tem sido prejudicada por uma série de fatores tais como: a própria competição com o 3G, atraso na homologação dos equipamentos de WiMAX Móvel programada para o 2S07 e que só deve ocorrer no 1S08 para os equipamentos de 2,5 GHz e no 2S08 para os equipamentos de 3,5 GHz, o revés ocorrido ocorrido na Sprint dos EUA (demissão do CEO da Sprint Gary Forsee recentemente e o conseqüente encerramento da negociação da aliança com o provedor americano Clearwire) e o desinteresse de autoridades governamentais no mundo todo em estimular a penetração do WiMAX.
Neste último, inclua-se também o Brasil. Para conhecer mais dos problemas do WiMAX no Brasil ver WiMAX: "Brasil, mostra tua cara!", Teleco, 22.out.2007. Enquanto o WiMAX “patina no Brasil na lerdeza das nossas autoridades”, a Tanzânia monta rede de WiMAX nas suas 06 maiores cidades (ver A WiMax Network Goes Live In Tanzania (Africa), Information Week, 15.nov.2007) - veja aqui quem é e onde fica a Tanzânia na África e, o Peru na América Latina lançou Leilão em Dezembro de 2007 na banda de 2,5 GHz – aquela que é “filet mignon” para o WiMAX Móvel e no Brasil as empresas de MMDS estão “sentadas em cima” (ver WiMAX auction planned for December, TeleGeography, 19.nov.2007.
No Brasil pode ser que o recente acordo entre o Governo Federal e as telcos ajude a acelerar as coisas para o lado do WiMAX (ver Governo e teles fecham acordo por rede nacional de Banda Larga, Convergência Digital, 21.dez.2007). A ANATEL já esteve anunciando que o “famoso” Edital de 3,5 GHZ sai no 1º trimestre de 2008 (Anatel quer decisão sobre WiMAX no primeiro trimestre de 2008, Convergência Digital, 10.dez.2007). Atualmente existem diversas opiniões no mundo sobre a convivência do 3G e WiMAX Móvel. Algumas vão na linha que elas são tecnologias complementares, outras vão na linha da competição.
De qualquer forma, a nível de mercado, a diferença entre as 02 tecnologias é muito pouca. Embora o 3G tenha evoluído a partir de circuito de voz, enquanto que o WiMAX Móvel tenha sido projetado com a comunicações de dados IP em mente, elas se prestam para o mesmo fim: proporcionar conexão banda larga móvel permitindo as telcos venderem aplicações de dados de alta velocidade para seus clientes. O WiMAX Móvel opera em velocidades maiores que o 3G, e os defensores dele apregoam que ele é um “serviço 4G”, mas de fato existem duas correntes neste racional.
A primeira parte do pressuposto que os usuários precisam de uma banda maior no serviço móvel. De fato, a evidência sugere que ainda não existe muita demanda para altas taxas de transmissão: a voz ainda é responsável por 80% da receita em muitas telcos móveis, e o SMS é o único serviço que poderia ser descrito como “mercado de massa”.
Existem alguns sinais que este mercado está mudando em partes da Ásia e da Europa com o aumento do ARPU de serviços de dados, mas eles ainda estão bem abaixo do nível em que as telcos poderiam estar condenando a tecnologia atual. Existem opiniões de que o problema está mais associado com a capacidade das telcos móveis em oferecerem aplicações e serviços de dados mais atrativos do que a tecnologia em si.
A segunda, segue na linha de superestimar a banda que o WiMAX Móvel pode tornar disponível. Embora o WiMAX Forum tenha propagado que taxas de 15 Mbps estarão disponíveis inicialmente, a realidade pode ser menor em uma rede comercial congestionada. Já se foi o tempo que o HSDPA (o 3,5G do GSM) esforçou-se para assegurar 128 Kbps.
Atualmente existem várias telcos anunciando 7,2 Mbps no sinal de downlink (a Claro terá em breve 7,2 Mbps) e no ano de 2008, quando os primeiros equipamentos certificados de WiMAX Móvel chegarem ao mercado, já existirão operadoras anunciando que operando 3G em 28 Mbps. Do ponto de vista de transmissão de dados, taxas como estas não deixarão o HSDPA em nenhuma desvantagem imediata com o WiMAX Móvel.
Do ponto de vista de competição, a coisa pode ainda ser pior para o WiMAX Móvel. Vários vendors de equipamentos de 3G – liderados pela a Ericsson – já estão tentando avançar com a versão 4G da família GSM – a plataforma LTE (Long Term Evolution). A 2ª maior operadora móvel americana – a Verizon Wireless – anunciou que vai abondonar a família CDMA, não optando pelo 4G do CDMA – o UMB – e “virando a casaca” para o LTE (Verizon: It’s LTE, Dailywireless, 29.nov.2007 e The Top 5 Mobile Stories Of 2007, Information Week, 21.dez.2007). A Nokia – uma das 03 fornecedoras de WiMAX Móvel da Sprint juntamente com a Samsung e Motorola – anunciou recentemente seus testes com a plataforma LTE (Nokia Siemens: LTE Works, Dailywireless, 21.dez.2007).
A plataforma ainda tem um grande problema: o padrão LTE ainda não foi consolidado. Na ausência de especificações técnicas consolidadas, seus críticos questionam o quanto ela terá em comum com o 3G. Eles apontam que o LTE utiliza uma nova interface aérea o OFDMA (que é a mesma do WiMAX Móvel) e que desta forma não não é possível utilizar muito da infra-estrutura atual do 3G, tornando a implantação do LTE tão custosa quanto aquela de WiMAX Móvel.
Caso as telcos móveis se convençam, elas poderão começar a considerar o LTE nos seus planos futuros após o tão propalado 3G. O fato é que: as especificações técnicas da plataforma LTE não estão consolidadas (devem ficar prontas no 4T08) e as primeiras instalações comerciais devem ocorrer no final de 2009, exatamente 18 meses depois da Sprint lançar sua rede de WiMAX Móvel nos EUA.
A grande chance do WiMAX Móvel na arena com o 3G (e LTE no futuro) é ter um espaço diferenciado na área de dispositivos móveis de consumo. O que isto significa: que os grandes “fiadores” do WiMAX – como a Intel – devem estimular a criação de um ecosistema de mobilidade aonde os chipsets de WiMAX Móvel sejam disseminados em um grande conjunto de dispostivos móveis como laptops e PDAs a dispositvos de MP3 e aparelhos celulares, de forma a encorajar a criação da espécie de um novo mercado.
O diferencial do WiMAX Móvel aqui – comparado a família GSM – é ter uma grande varidedade de fabricantes de chipsets tais como: Intel, Fujitsu, Wavesat, Sequans, Beecem, Runcom e outros. É aqui que vai residir o grande diferencial do WiMAX: Mobilidade no Consumo ... será a palavra chave! (Um exemplo: dos 403 dispositivos de HSDPA disponíveis em Outubro de 2007 tínhamos apenas 3 dispositivos de mídia e 1 câmera. Ver aqui: GSA Surveys confirm over 400 HSDPA devices launched; faster network speeds, GSA, 22.out.2007 [sob registro grátis]).
3G no Mundo
As redes 3,5G (HSDPA) têm se espalhado pelo mundo numa velocidade muito grande (ver HSDPA Used by 110, Unstrung, 01.mai.2007) e em Outubro de 2007 já contava com 154 operações comerciais em 71 países (ver HSDPA Operator Commitements, GSA Association, 19.nov.2007 [acesso sob registro grátis] [arquivo pdf]).
Oito anos depois do 3GPP (3rd Generation Partnership Project) ter completado o padrão de 3G, e quatro anos depois da 1ª rede ter ser implantada, as redes HSDPA já ofertam Serviços de Banda Larga Móvel pelo mundo afora com destaque nos EUA (AT&T e T-Mobile), Europa (Vodafone, T-Mobile, 3, Orange e O2) e Ásia (NTT DoCoMo e Softbank Mobile – ex-Vodafone, Japão; SingTel, Singapura; PCCW, Hong Kong e SK Telecom, Coréia do Sul). Na América Latina já temos as telcos Entel, Chile; Personal, Argentina; Movistar, Argentina, México e Uruguai; Claro, Peru; e Ancel, Uruguai ofertando serviços de dados em 3,5G.
Vodafone
A Vodafone é um player muito forte de HSDPA na Europa. Atualmente, a Vodafone está ofertando serviços de dados em 3,5G em 11 mercados europeus. A Vodafone tem um foco maior em clientes do mercado corporativo.
Veja alguns dados desta telco no 1S07:
(a) Os serviços de dados cresceram 48,8% para uma receita de 2 BUS$ que representa 6% do total de vendas da Operadora (33,3 BUS$); (b) Na Europa, os serviços corporativos representaram 28% da receita de serviços da Opredora. O total da receita de serviços foi de 25 BUS$; (c) Os serviços corporativos tiveram uma boa proliferação. A Vodafone tem atualmente 1,7 milhões de cartões de PC para conexão móvel (incluindo versões GPRS e HSDPA) que representam um aumento de 72% em relação ao 1S06. Já o mercado de handheld business devices (tipo BlackBerry) cresceu 112% para 1,9 milhão de dispositivos.
(a) Os serviços de dados cresceram 48,8% para uma receita de 2 BUS$ que representa 6% do total de vendas da Operadora (33,3 BUS$);
(b) Na Europa, os serviços corporativos representaram 28% da receita de serviços da Opredora. O total da receita de serviços foi de 25 BUS$;
(c) Os serviços corporativos tiveram uma boa proliferação. A Vodafone tem atualmente 1,7 milhões de cartões de PC para conexão móvel (incluindo versões GPRS e HSDPA) que representam um aumento de 72% em relação ao 1S06. Já o mercado de handheld business devices (tipo BlackBerry) cresceu 112% para 1,9 milhão de dispositivos.
Conheça mais sobre o 3,5G na Vodafone aqui nestas referências: Vodafone Offers Flat Rate, Light Reading; Vodafone Flattens Rate, Unstrung, 18.jun.2007; Vodafone Prices Data Roaming, Unstrung, 29.jun.2007 e Vodafone Soups Up HSDPA, Unstrung, 28.ago.2007.
3
Com várias telcos ofertando serviços de dados em HSDPA, a disputa na Europa já é forte e a pressão por tarifas menores já começou.
A telco britânica 3 (do grupo KDDI de Hong Kong) – sempre agressiva e inovadora no mercado de telefonia móvel (p. ex., lançou o primeiro Skype Phone Móvel em 2007) – reduziu bastante os preços dos serviços HSDPA em Setembro de 2007. O movimento da 3 pode disparar a primeira guerra no mercado de banda larga móvel do Reino Unido.
A 3 começou a ofertar serviços de HSDPA com velocidades acima de 2,8 Mbps por US$ 20 por mês para 1 Gb de dados. Outras tarifas da 3 são a de US$ 30 por mês para 3 Gb e o serviço de 7 Gb por US$ 50 mensais.
Conheça mais sobre as ofertas da 3 aqui: 3 Heats Up HSDPA in UK, Unstrung, 21.ago.2007.
Competição em Banda Larga
A chegada do 3G no Brasil e a sua consequente oferta de Serviços de Banda Larga Móvel, dependendo da agressividade dos preços e das ofertas de pacotes bundles destes serviços pode provocar um “Deus nos acuda” no mercado de banda larga do País, a saber:
(1) Banda Larga Fixa: este serviço vai ter impacto muito grande na sua penetração nas classes A e B no curto prazo pois não tem sentido um usuário manter uma banda larga fixa (tipo Velox, Speedy e BrTurbo) quanto ele pode ter uma conexão quando ele pode ter um serviço com taxa de transmissão equivalente e com a mobilidade do HSDPA. No médio e longo prazo, os serviços de dados de 3G vão “comer” o mercado nas classes mais baixas. Quem vendeu ADSL, vendeu ... quem não vendeu vai enfrentar dificuldades! Como já falamos diversas vezes, a oportunidade aqui é as Telcos Fixas pressionarem a ANATEL para dar uma sobrevida a sua rede de banda larga enterrada através de outros serviços como o IPTV;
(2) Wi-Fi: este serviço também vai sofrer um impacto semelhante ao da Banda Larga Fixa. A limitação de alcance do Wi-Fi (200 metros) vai ser um forte limitador na sua competição com o 3G. Veja matéria que trata do assunto aqui: Will Wi-Fi hot spots survive WiMax and 3G?, Computerworld, 16.nov.2007;
(3) WiMAX: esta tecnologia vai sofrer um impacto muito forte. O WiMAX Nomádico – que não decolou no Brasil por causa do alto custo de CPE e pelo fato do famoso Leilão de 3,5 GHz da ANATEL estar até agora “encalacrado” – vai ter um impacto muito forte dependendo da agressividade das ofertas comerciais dos serviços de dados em 3G das telcos móveis (esta é a hora da vingança rapazes!). E agora TELCOMP, como fica a democratização do acesso de banda larga que você tanto pregou no caso do Leilão de 3,5 GHz de WiMAX? É como diz o outro: “Nem o mel, nem a cabaça”! No caso do WiMAX Móvel a situação pode ser um pouco diferente. Apesar da ANATEL ainda não ter ampliado a disponibilidade de espectro na frequência de 2,5 GHz, o WiMAX Móvel em 2,5 GHZ pode ser complementar aos serviços de dados de HSDPA (ver A convivência entre o 3G e o WiMAX Móvel, Convergência Digital, Nov.2007). Uma grande diferença do WiMAX Móvel em relação ao HSDPA – e que o mercado brasileiro ainda não percebeu - é que existirão muito mais dispositivos móveis para o WiMAX Móvel do que para o HSDPA (atualmente os dispositivos de 3G são predominantemente cartões de dados, modems residenciais e notebooks).
Para finalizar veja aqui este relatório que trata do grande sucesso da Internet Móvel nos próximos anos: Mobile Internet Utopia: Imagine if Supply Could Satisfy Demand, Yankee Group, Novembro de 2007.
Agora só resta esperar e ver como as grandes telcos brasileiras vão comportar-se no mercado brasileiro de 3G!
Referências
GSA - The Global Mobile Suppliers Association
GSM World
3G Americas
3G Today
UMTS Forum
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