Em Debate Especial

Publicado: 12/05/08

 

Mobile Payment em 3G:
Uma avaliação de aplicações killer

 

 

 

Eduardo Prado

Consultor

 

Aonde vai estar o sucesso das aplicações de 3G? Na massificação do uso da banda larga móvel na tecnologia 3G! ... e com o passar do tempo, cada vez mais que um usuário(a) utilizar um celular 3G para acessar banda larga (com qualidade de nível serviço e preço competitivo) ele(a) vai fazer para si próprio(a) a seguinte pergunta: Cadê a minha aplicação que pode facilitar a minha vida cotidiana? Cada vez mais que as telcos móveis ofertarem a conexão 3G com qualidade - a um custo que caiba no bolso de um usuário(a) qualquer com escorpião dentro deste bolso - e as aplicações diferenciadas para o povão mais ela vai ter sucesso nesta empreitada. Isto vai ser igual a água morro abaixo e fogo morro acima ... ninguém segura!

 

E pelo que vemos depois do sucesso do Leilão de 3G no Brasil (ver O 3G chegou no Brasil!, Teleco, 14.jan.2008), as telcos móveis brasileiras estão acreditando muito na tecnologia 3G. Elas estarão investindo a bagatela de 14 BR$ ao longo deste ano nas suas redes 3G (ver Celulares assinam contratos de 3G e afirmam que preço só cai com segurança jurídica e redução de custos, Convergência Digital, 29.abr.2008). Veja também aqui os 10 mercados mais emergentes de telefonia móvel no mundo (India 2nd Largest Mobile Market, Dailywireless, 30.abr.2008).

 

Um serviço de valor adicionado que terá vida longa na tecnologia 3G é o Mobile Payment (MP).

 

Veja aqui alguns números de analistas de indústria sobre o assunto:

  1. (1)Atualmente nos EUA, apenas 10 milhões de usuários (3,8% do total) verificam seus saldos bancários, recebem alerta de bancos ou enviam pagamentos através de seus aparelhos celulares. Esta pequena fatia evoluirá para 108 milhões de usuários em 2012 ... O brilho dos serviços financeiros através da telefonia móvel estará mais fortemente concentrado entre assinantes na faixa etária de 25 a 34 anos – Javellin Strategy & Research;
  2. MP é um serviço que no seu estágio inicial em 2008 terá 32,9 milhões de usuários no mundo, crescendo para 103,9 milhões de usuários em 2011. O SMS que é um serviço de MP dominante atualmente, comandado pela transferência de fundos, permanecerá a tecnologia dominante de MP em 2011 (ver Gartner Says Worldwide Mobile Payment Users to Total 33 Million in 2008, 21.abr.2008) – Gartner Group;
  3. Hoje em dia no mundo as telco móveis, os bancos e os varejistas estão ansiosos para pegarem a sua fatia nas transações financeiras através dos aparelhos celulares ... Apenas as telcos móveis no mundo verão sua receita em MP alcançarem 8 BUS$ em 2012 a partir de 65 MUS$ no ano passado – ABI Research.

Vários serviços de MP têm aparecido no mundo. Veja alguns deles aqui:

  1. A Western Union nos EUA tem tornado a vida mais fácil de imigrantes nos EUA que podem remeter fundos para seus parentes fora do território americano. Em 2007, esta empresa lançou um Projeto Piloto nos EUA com a operadora Trumpet Mobile para permitir que fôsse enviado dinheiro através do telefone celular. Segundo o gerente do Western Union Mobile Matt Dill “existe uma nova base de clientes, que está interessada em transferir dinheiro através de handsets por diferentes razões”. A Western Union já tem até uma página em português focada no Brasil (ver Referências sobre a Western Union no site Payment News);
  2. No dia 02.abr.2008, o famoso site Amazon.com lançou seu serviço chamado Amazon TextBuyIt, um serviço que deixa seus usuários comprarem itens através de mensagens de texto no aparelho celular (ver Amazon TextBuyIt - Use Mobile SMS to Shop on Amazon.com, Payment News);
  3. Neste mesmo 02.abr.2008, o Citibank lançou um Projeto Piloto com a empresa de MP Obopay que permite usuários de telefonia móvel transferirem dinheiro entre contas bancárias (Citibank, Obopay to Pilot Mobile Person-to-Person Payment Service, Payment News);
  4. A 2ª maior telco móvel americana Verizon Wireless (empresa da Verizon Communications e da inglesa Vodafone) - que já está oferecendo um serviço MP tipo P2P com a Obopay desde 2007 (ver Referências sobra a parceria Verizon + Obopay no site Payment News) - anunciou no início de 2008 que lançou um serviço de MP com a Firethorn (ver Verizon Wireless Launches Mobile Banking Services, Payment News, 03.jan.2008). É bom lembrar que a Firethorn foi adquirida recentemente pela gigante Qualcomm (ver Qualcomm Buys Mobile Banking Firm Firethorn For $210 Million, MoCo News, 14.nov.2007). Parece que a perda de mercado da Qualcomm no segmento de CDMA (ver Vivo admite que EVDO dará lugar à 3G WCDMA em três anos, Convergência Digital, 30.abr.2008) está levando-a a fazer investimentos em novas áreas. É sempre bom relembrar que a Verizon Wireless rifou o CDMA da sua planta no futuro do 4G (ver Verizon: It’s LTE, Dailywireless, 29.nov.2008);
  5. A telco móvel Sprint lançou uma aplicação de MP chamada Sprint Nextel's MyMoneyManager com o famoso serviço Americano PayPal (ver PayPal, Sprint Nextel Work Together on Mobile Payments Application, Payment News, 24.abr.2008);
  6. No Reino Unido, 03 bancos, HSBC, First Direct e Alliance & Leicester, estão utilizando atualmente uma nova plataforma de MP chamada Monilink. Este serviço foi desenvolvido pela Monitise – uma joint-venture entre a Link (provedor britânico do serviço de caixa eletrônico britânico) e a Morse. A Monitise afirma que sua tecnologia é a 1a plataforma de MP no mundo cruzada entre operadoras de telecom e bancos e tem uma interface móvel com a rede da caixas eletrônicos da Link no Reino Unido. A Monitise tem significantes desenvolvimentos internacionais em vários países incluindo EUA, África do Sul, Singapura, Hong Kong, Índia, Alemanha e Turquia. A empresa vê o MP como o quinto canal bancário (depois da agência, caixa eletrônico, telefone e Internet) enfatizando a sua flexibilidade e funcionalidade quando conectada com a rede de caixas eletrônicos (ver Referências sobre Monitise no site Payment News);
  7. Um outro exemplo interessante de MP no Reino Unido é o serviço chamado JourneyPay BuyVoice, que permite aos motoristas de taxi britânicos aceitarem cartão de crédito utilizando aparelhos celulares, e proporcionando a conveniência aos passageiros de pagarem suas corridas com cartão de crédito sem a necessidade de utilizar um terminal de cartão. Desenvolvido pela Planet Payment, uma processadora de pagamentos e dados dos EUA, e a Journey Pay, uma empresa britânica especializada em pagamentos de transportes, o serviço tem sido projetado como uma solução turnkey completamente gerenciada, que combina uma interface amigável via voz com uma robusta plataforma de pagamentos fornecendo uma solução de pagamentos simples, segura e rápida;
  8. O analista de indústria Booz Allen and Hamilton acredita que em países aonde o mercado varejista é mais baseado em moeda cash do que em cartão de crédito e a telefonia móvel tem alta penetração, os sistemas de MP terão alta possibilidade de sucesso. Um exemplo disto é nas Filipinas. Neste país 02 grandes telcos móveis, a Smart Telecom e a Globe estão ofertando os serviços Smart´s Money (ver Referências do Google) e Globe GCash respectivamente e em torno de 5 milhões de usuários nas duas telcos já assinaram os serviços, o que permite a eles fazerem transferências e pagamentos utilizando o aparelho celular. Uma grande percentagem de filipinos têm telefone celular – até mesmo o segmento de baixa renda – e utilizam bastante o serviço de SMS. Os filipinos enviam mais SMS por dia por usuário (uma estimativa de 15) do que qualquer outro país, o que faz com que eles sejam bastante familiares na utilização do aparelho celular;
  9. Na África do Sul apenas bancos podem prestar o serviço de fazer depósitos, e desta forma as telcos móveis que querem entrar no negócio de MP precisam fazer alianças com os bancos. Uma destas alianças é o serviço MTN que é operado pela telco móvel MTN e o banco Standard Bank. O Mobile Banking (MB) também abre oportunidades para alguns empreendedores. O Wizzit é um serviço de MB focado em usuários de baixa renda e não servidos por bancos. Em um survey recente 09 entre 10 clientes do Wizzit dizem que o serviço é barato, e três quartos dos clientes dizem que o MB é o mais perto do ideal deles de fazerem operações bancárias pois é mais barato, mais rápido e mais seguro que uma agência bancária ou caixa eletrônico. O estudo também confirmou que o serviço Wizzit está na média 1/3 mais barato quando comparado a uma conta bancária em 04 bancos sul africanos (ver Referências do Google sobre o serviço Wizzit e Encouraging transformational m-banking in developing countries, Asobancaria Regional Seminar, 6 a 7 de setembro de 2007 [um arquivo ppt]);
  10. Uma situação pitoresca ocorre em alguns países da África. No Congo e no Quênia, o serviço de MP é bem promissor pois o setor bancário é sub-desenvolvido. No Congo, por exemplo, existe um total de 30.000 contas bancárias e 3 milhões de aparelhos celulares. No Congo o serviço de MP CelPay registra 500.000 transações por mês. Relatórios dizem que a quantidade de dinheiro nas contas do CelPay é maior que todos os depósitos em todo sistema bancário (ver Referências do Google sobre o CelPay). No Quênia, a 2ª maior telco do mundo, a Vodafone, desenvolveu o sistema chamado M-Pesa de MB em parceria com o provedor de serviços de rede local Safaricom, o Commercial Bank of Africa e a Faula, uma organização de micro-crédito local. O serviço M-PESA permite aos clientes tomarem dinheiro emprestado, checar as suas contas e tranferir dinheiro utilizando o telefone celular (ver Referências sobre M-PESA no site Payment News e Referências do Google sobre o M-Pesa);
  11. No Brasil nós já temos algumas experiências na área de MP (ou MB), a saber: (a) o Banco do Brasil tem uma parceria com a Visanet na área de MP (ver Banco do Brasil ativa pagamento via celular, Convergência Digital, 17.mar.2008); (b) a Oi tem uma empresa própria focada em MP chamada Paggo (ver referência do site Convergência Digital: Paggo, da Oi, quer ser a rede nacional de transação via celular, 31.mar.2008; Oi Paggo soma 900 mil clientes, 24.mar.2008; e Oi adquire a Paggo por R$ 75 milhões, 19.dez.2008); e (c) a telco CTBC anunciou recentemente sua oferta de MP com tecnologia da Gemalto (ver Chip 3G da CTBC atrai a atenção da concorrência no Brasil, Convergência Digital, 14.abr.2008).

Pelo que vimos acima o mundo todo está procurando os seus serviços simples de MP (ou MB) ... mas Qual o serviço fará sucesso e em que condições? Quais serão as aplicações killers de MP? Uma coisa é certa na minha humilde opinião: o serviço de MP (ou MB) terá que ser simples e agregar valor para a grande comunidade de pré-pago que representa a bagatela de 80% (aproximadamente 98,4 milhões) da base de assinantes de telefonia móvel no Brasil. Vimos acima que na opinião do analista de indústria Gartner Group, o SMS vai ser um serviço de MP dominante no futuro. O povão vai querer mesmo aplicações de MP tipo KISS (leia-se KISS = Keep It Simple, Stupid!).

 

Uma aplicação muito cotada para ser killer é a que possibilitaria a habilidade de comprar crédito de pré-pago diretamente da conta bancária utilizando o telefone celular. Na matéria Mobile Payment em 3G: Players & Procedimentos, Teleco, 14.abr.2008 destacamos que muito dinheiro é gasto na venda convencional de cartões pré-pagos. Alguns observadores acham que esta aplicação não é tão killer assim quanto nós achamos, mas alguns estudos de caso mostram o seu grande potencial.

 

Outras que já tem sido implementadas e têm provado seu sucesso são o pagamento de contas (manter baixas margens aqui é o maior desafio), transferência de valores (muita grana existe aqui), alguns exemplos de pagamentos de varejo (veja acima o caso da Amazon.com ... no nosso país grandes magazines tipos Casas Bahia não poderiam explorar a oportunidade do MP? Fica aqui a pergunta!), e pagamentos de outros serviços de pré-pago (temos presenciado alguns movimentos no mercado de venda de energia elétrica na modalidade pré-paga mas algo bem incipiente ainda).

 

Pagamentos de loteria (p. ex., Loterias da Caixa) e outras opções de jogos de aposta (p. ex., a Raspadinha da LOTERJ). Estas aplicações já têm sido implementadas por algumas telcos móveis no mundo mas ainda não têm transformado-se em aplicações killer. No Brasil poderia ser um caso a ser explorado através de jogos bem populares (é possível implementar a Mega Sena no celular? E a Raspadinha ou a Timemania? Será que seria necessário desenvolver um novo jogo aposta talhado para o aparelho celular?) ... muita água ainda pode rolar debaixo desta ponte!

 

Não tenha dúvida … a remessa de dinheiro é (e será) uma aplicação popular. No caso do Brasil, algum serviço poderia ser explorado com os Correios que permitisse que o povão pudesse passar em alguma agência dos Correios para pegar a sua graninha. Por que não? Não é mesmo? Taí uma idéia popular!

 

Um outro serviço que poderia fazer sucesso no Brasil seria o de micro-empréstimo (olha aí você dona Losango ou Banco Panamericano).

 

Finalmente uma boa idéia seria a de implantar um Banco Popular móvel para oferta de micro-crédito. A Lei no. 10.735 de 2003 instituiu as bases para as operações de microfinanças, determinando que os bancos destinem no mínimo 2% dos depósitos à vista ao microcrédito: empréstimos de até R$ 500,00 para pessoas físicas e de até R$ 1.000,00 para microempresas, com taxas de juros não superiores a 2% ao mês. O Banco do Nordeste (BNB) já desenvolveu uma experiência bem-sucedida de microcrédito orientado (de forma normal sem telefonia móvel).

 

Aqui pode existir uma grande filão para o MB. Os usuários podem submeter um pré-consulta de microcrédito via aparelho celular e se o empréstimo for aprovado, um(a) usuário(a) pode receber um mensagem de confirmação para comparecer a uma agência do banco mais próxima para levar os documentos adicionais (p. ex., cadastro atualizado) para receberem o dinheiro. Gente ... isto aqui pode ser um filet-mignon para MB. Vamos apostar nesta onda?

 

Enfim ... vamos colocar as nossas cabeças para viajar e descobrir quais poderiam ser as aplicações killers de MP (ou MB) que pudessem interessar a nossa grande comunidade de pré-pago no Brasil!

 

Eduardo Prado é Publisher da Revista de WiMAX.

 

 

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Nota: As informações expressadas nos artigos publicados nesta seção são de responsabilidade exclusiva do autor.

 

 

 

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