Em Debate Especial

Publicado: 11/08/2008

 

 

A Banda Larga incrementa
o desenvolvimento econômico?

 

Parte 1

 

 

 

Eduardo Prado

Parte 1 :: Parte 2

 

“A desk is a dangerous place from which to watch the world” – John Le Carré ... dá-lhe Brasil!!!

 

A massificação da Banda Larga é (e será cada vez mais) imprescindível na vida de qualquer País. O Japão já teve 02 planos de Banda Larga (BL) nesta década, o 1º em 2000 chamado “e-Japan Strategy” e o 2º chamado “u-Japan” (Ubiquitous Japan) ... a Coréia do Sul também tem seu esforço de disseminação de BL chamado “Broadband Convergence Network” (BcN) ... a Suécia tornou-se a 1ª nação na Europa a fazer do acesso a BL uma prioridade nacional. Uma das iniciativas deste País nórdico foi garantir altas taxas de descontos de impostos federais para aquelas empresas que doassem computadores aos seus funcionários ... e o Brasil hein minha gente, o que está fazendo pela massificação da BL? Nada simplesmente ou se você quiser ser mais suave, muito pouco! Nenhuma ação Federal ampla e coerente! Muito “blá-blá-blá” de vários proeminentes Ministérios mas de fato nenhum Plano agressivo de massificação da BL para nosotros brasileiros e ainda temos uma pífia taxa de penetração de BL de menos de 10% que nem dá para “fazer cócegas”. Um País precisa de no mínimo 30% de penetração de BL para tirar a “cabeça de fora” na massificação da BL. Para dizer que não está fazendo nada, o Governo Federal celebrou em Abril de 2008 um acordo com as grandes telcos do Brasil para levar a Internet a 56,9 mil escolas públicas de educação básica do país até 2010 e o ministro Hélio Costa – sempre loquaz - promete banda larga em todo o País até 2010 ... tem Pai que é cego né?

 

Uma das formas de aumentar a massificação da BL no Brasil seria aumentar a competição retirando das incumbentes o poder oligopolista da BL. Mas neste segmento acreditamos que muita coisa ainda tem que mudar nesta “Cabrália”! Um ponto positivo aqui: a ANATEL tá se coçando: Banda Larga também terá Poder Significativo de Mercado, Convergência Digital, 08.jul.2008.

 

Por quê a BL é importante em qualquer País? Veja só um exemplinho aqui no Brasil: nos dias 02 e 03 de julho a Telefônica promoveu o grande apagão da Internet brasileira (ver Referências do Google sobre o Apagão da Telefônica). O estado de São Paulo viveu um caos de comunicação. Muitas empresas privadas e públicas perderam suas comunicações. Muitos usuários e Provedores Públicos de Internet não tiveram conexão de Internet. Vários serviços do Governo paulista foram prejudicados com a queda da Banda Larga (BL) Speedy da Telefônica. Atualmente vários serviços de E-Gov no mundo são muito dependentes da infra-estrutura privada de BL (ver The pros and cons of e-government, The Economist, 14.fev.2008).

 

Este evento da Telefônica em São Paulo no início de Julho de 2008 traz alguns questionamentos para nós brasileiros, a saber: (1) o modelo atual de privatização brasileiro, aonde fornecedores praticamente ÚNICOS de telecom como Oi e Telefônica dominam a prestação de serviços nas suas áreas de atuação, é o que nós queremos? (muitas outras perguntas são derivadas daqui como por exemplo, Por que a ANATEL não faz nada para mudar este cenário? Outra aqui ... Articular um novo PGO de Telecom como quer Nosso Guia para legitimar a compra da BrT pela Oi é fazer algo concreto pela competividade das telecomunicações no País?); (2) qual a importância da disseminação da BL para o desenvolvimento econômico de um País? É a resposta a esta pergunta que vamos endereçar nesta matéria e ressaltar que um apagão como o da Telefônica pode causar atualmente grandes perdas para Estados, Municípios, Empresas e Cidadãos pela dependência da engrenagem da BL nas nossas vidas e, como conseqüência, os Órgãos Reguladores de Telecom deveriam ter uma grande responsabilidade em assegurar a competição na oferta de serviços de BL e manter uma forte fiscalização e aplicar severas punições a seus Provedores (ver Apenas no mercado residencial, pane da Internet causou prejuízo de R$ 24 milhões à Telefônica, Convergência Digital, 25.jul.2008). No final de Julho passado, a Telefônica informou o motivo da pane que provocou o apagão do Speedy (ver "Rara combinação de fatores técnicos" causou pane na rede da Telefônica, Convergência Digital, 25.jul.2008).

 

A BL hoje tem uma penetração forte em diversos países pelo mundo afora.

 

A revista Forbes Magazine classifica  Os 10 países mais conectados em BL. A classificação é baseada em dados do ITU (International Telecommunications Union) e a uma pesquisa do World Economic Forum. De acordo com a Revista Forbes, os países nórdicos são os campeões da lista devido aos benefícios governamentais no suporte a evolução de tecnologia e a um forte foco em educação e inovação (que pena que Nosso Guia queira resolver “tudo” com a miopia dele focada em Bolsa Escola e Bolsa Família, não é mesmo?). O Suécia está em 1º lugar, a Suíça em 3º, a Holanda em 4º e a Dinamarca em 5º seguidos de Hong Kong e Coréia do Sul em 6º e 7º lugares e os EUA só aparecem em 10º lugar. Em termos de Telefonia Móvel, o Brasil aparece na lista dos 10 mais emergentes (ver The World’s 10 Most Wired Countries, Dailywireless, 27.jun.2008 e Top 10 Emerging Mobile Markets 2007, Light Reading, 30.abr.2008). No Brasil,o número de internautas com banda larga no Brasil cresce 53% em um ano. De acordo levantamento do IBOPE/NetRatings, em Abril de 2008, 18,3 milhões dos internautas (82% do total) navegaram por banda larga. No mesmo período do ano passado, o número correspondeu a 11,9 milhões (ver Número de internautas com banda larga no Brasil cresce 53% em um ano, Último Segundo, 28.mai.2008 e Referências do Google). Mais informações sobre BL no Brasil ver aqui: Referências do Google (Speedy + Velox + BrTurbo + Números + Banda Larga + Brasil); Ibope: 35,5 milhões de brasileiros podem acessar à Internet de suas casas, Convergência Digital, 24.jul.2008; NET supera BrT e assume terceiro lugar no ranking nacional da banda larga, Convergência Digital, 21.jul.2008; e Referências do Google (Banda Larga + Brasil + Número).

 

Em 1987, Robert Solow, um famoso Prêmio Nobel de Economia disse o seguinte: “Você pode ver a Idade da Computação em qualquer lugar mas apenas nas estatísticas de produtividade” (e não na produtividade de fato). Foi somente em 2003 que o “paradoxo da produtividade” foi resolvido. Como Dr Solow observou, muitos países viam apenas a produtividade crescer lentamente nos anos 1980 e início dos anos 1990, numa época em que os computadores começaram a serem largamente utilizados. Os tecnólogos murmuravam, os economistas apontavam seus lápis e os homens de negócios ignoravam os argumentos e compravam os kits de computação. Mas a conclusão era clara: novas tecnologias por elas próprias não aumentavam a produtividade ... Ponto! Ao invés disto, as empresas e os indivíduos deveriam concluir como fazer melhor utilização destes novos artefatos para colherem as recompensas dos investimentos.

 

Existem importantes lições para o debate atual sobre BL. A OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) liberou recentemente um relatório sobre o ranking da penetração de BL, velocidades e preços através dos seus 30 países membros. Neste relatório, o número de assinantes de BL no mundo cresceu 18% para alcançar 235 milhões o que representa 1/5 da população daqueles 30 países. Entre 2005 e 2006, os preços caíram uma média de 19% para conexões de ADSL e 16% para linhas de cabos. No final de 2004, a velocidade média era de 2 Mbps; em 2007 ela tinha aumentado para 9 Mbps. Apesar vários tópicos interessantes no relatório ele causou um pouco de polêmica e muita reação (talvez pelo fato de ter colocado os EUA em 10º no ranking) e inclusive vários questionamentos de que maior velocidade de BL não implica necessariamente em desenvolvimento e o fato de que os seis primeiros colocados terem apenas 30 - 35% de penetração de BL. O relatório da OECD pode ser acessado aqui: OECD Communications Outlook 2007 [arquivo pdf] ... guarde contigo!  Vamos ainda continuar analisando nesta matéria, o relacionamento entre BL e desenvolvimento econômico mas é interessante ter outras opiniões de especialistas do mercado. Paul David, um economista da Universidade de Oxford na Inglaterra, destaca que a energia elétrica foi introduzida nos anos 1880, e não colaborou imediatamente para melhorar a produtividade. Somente no final de 1920 – quando metade do maquinário industrial nos EUA tinha sido alimentado por energia elétrica – é que a eficiência da energia elétrica começou a incrementar a produtividade. Segundo David,  novas tecnologias precisam de uma taxa de adoção de 50% antes que que os efeitos possam ser vistos.

 

De qualquer forma, acreditamos que entre os mais importantes atributos da banda larga está a sua habilidade de servir como propulsora do desenvolvimento econômico, habilitar comunidades, regiões, nações, e até mesmo continentes a se desenvolverem, atrair, reter, e expandir os negócios de criação de empregos e instituições. A BL também melhora a produtividade e a lucratividade dos negócios e instituições de todas as espécies em uma variedade infinita de novas maneiras. Isto não somente aplica-se a grandes corporações, como também ao mercado da pequena e média empresa (mercado PME). O mercado PME compreende uma parcela considerável de negócios em todos os países do mundo.

 

Nos EUA já houve o tempo em que as grandes telcos e empresas de cabo, tentaram  persuadir os legisladores a banirem (ou restringirem) as iniciativas de BL das redes de Cidades Digitais insistindo que não existia nenhuma relação entre a BL e desenvolvimento econômico. Para suportar suas argumentações na briga com as telcos americanas, as municipalidades baseavam-se em estudos de especialistas que atacavam estudos anteriores mostrando que tal relação existia (ver Municipally Owned Broadband Networks: A Critical Evaluation, Heartland Institute, 16.out.2004).

 

Atualmente, e parece que não existem dúvidas, as evidências mostram que a BL e o desenvolvimento econômico andam lado a lado. Uma percepção cada vez mais crescente mostra que as redes de BL têm um efeito muito pronunciado no desenvolvimento econômico.

 

A seguir apresentaremos alguns estudos mostrando o relacionamento entre a BL e o desenvolvimento econômico, a saber:

 

Em Julho de 2001, o analista de indústria Criterion Economics liberou uma versão de um estudo solicitado pela telco americana Verizon mostrando que o acesso a Internet em todas as suas variações – ADSL, cabo, modems e vários serviços wireless – trarão enorme benefício para a economia. O estudo calcula que a adoção da BL em grande escala em 2013 resultaria em um valor presente de mais de 500 BUS$ (ver The $500 Billion Opportunity: The Potential Economic Benefit of Widespread Diffusion of Broadband Internet Access, Brookings Institution, 2001).

 

Em Fevereiro de 2002, o analista de Indústria TeleNomic Research publicou um estudo concluindo que uma rede nacional de BL nos EUA resultaria na adição de 1,2 milhão de empregos permanentes distribuídos da seguinte forma: 166.000 empregos seriam criados diretamente no setor de telecomunicações, 72.000 empregos de fabricação que seriam gerados pela compra direta da rede de BL e pelos dispositivos de CPE (Customer Premise Equipment) e 974.000 empregos indiretos que seriam criados se uma rede de alta capacidade fôsse construída (ver Building a Nationwide Broadband Network: Speeding Job Growth, TeleNomic Research, Fev.2002).

 

Em Setembro de 2002, o Departamento de Comércio americano (DoC) publicou um relatório sobre a demanda de BL nos EUA. O DoC revisou os relatórios anteriores do Criterion Economics e TeleNomic citados acima, como também vários outros relatórios existentes na época e concluiu que a massificação da implantação da BL e sua adoção seriam críticos para “promover empregos, produtividade, e crescimento sustentado” para “permitir o aprendizado de estudantes em qualquer lugar e a qualquer hora”, para “transformar o serviço de saúde”, para “atualizar os militares com a ameaça de terroristas”, para a “segurança residencial” e para “trazer novas possibilidades e esperança” para as pessoas mais necessitadas, deficientes e idosos”. O DoC, a partir deste relatório, articulou uma numerosa série de ações em todos os níveis de governo, líderes de negócios, inovadores e empreendedores que poderiam estimular a demanda de BL (ver Office of Technology Policy, U.S. Dep’t of Commerce, Understanding Broadband Demand: A Review of Critical Issues, 25.set.2002). Notadamente, depois de revisar o que ele chamou de U.S. Supply of Current Generation od Broadband (Cable & ADSL), o DoC orientou que era “importante destacar que as gerações atuais de BL (Cabo e ADSL) provariam ser insuficientes para suportar as aplicações avançadas que comandariam as futuras demandas de BL. A BL de hoje será o congestionamento de tráfego de amanhã, e a necessidade de velocidade persistirá quando as novas aplicações e serviços atravancarem a BL existente”. Hoje em dia já tem vários países no mundo abondonando a BL em ADSL e implantando fibra. A França já está implantando FTTH nos últimos 02 anos e comercializando atualmente acesso de 100 Mbps. A Telia Sonera na Suécia começou a ofertar FTTH. A Coréia do Sul mudou de ADSL para fibra como o meio de comunicação de BL do futuro (ver algumas referências do Dailywireless sobre FTTH: Be Your Own Fiber Net, 01.ago.2008;  City Fiber Networks, 14.nov.2007; e FTTH Comes Home, 25.mai.2007).

 

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