08/02/2010
Em Debate:
A Telefónica deveria vender a sua participação na Vivo
Eduardo Prado
Consultor
Este é uma afirmação que vista assim pode parecer sem sentido mas queremos mostrar nesta matéria através de movimentos recentes no mercado mundial que uma operação isolada de telefonia móvel e sem outras sinergias, como a Vivo, não faz sentido e aponta em uma direção na qual a cellco vai perder valor de mercado (e do seu ativo) nos próximos anos que serão marcados por ofertas inovadoras de convergência e de triple-play ou quadruple-play (ver Segundo IDC, oferta triple-play será o foco para o Brasil em 2010, IP News, 22.jan.2010). Uma operadora apenas móvel fica limitada para participar deste jogo futuro.
O futuro do negócio de telecomunicações vai estar baseado na combinação de uma operação que consiga compor: uma Telco Fixa (ou Provedor de Cabo) + uma Telco Móvel + 1 TV + Produção de Conteúdo. O serviço de Banda Larga estará suportado pelas operações fixa e móvel. A TV poderá utilizar os meios de Telco Fixa, Provedor de Cabo ou Telco Móvel.
Recentemente, o nosso conceituado (e estimado) José Fernandes Pauletti (Presidente da ABRAFIX) já sinalizou um pouco desta tendência no final de 2009 quando ao comentar que com a aprovação do PL 29, as teles ficariam proibidas de produzir conteúdos que, na opinião de Pauletti, é o mercado do futuro. No dia que as telcos deixarem de ser apenas pipes e controlarem os shows de televisão e filmes que entram nas residências dos seus assinantes, elas terão o Nirvana! (este era o sonho do co-fundador da Comcast Mr. Ralph J. Roberts (ver abaixo sobre merger da Comcast & NBCU).
A história da Telefónica e da Vivo tem mostrado que os “conquistadores espanhóis” não se entendem com os “conquisadores portugueses” na formulação de ofertas convergentes. Ponto! Temos notícias do mercado que há 2 anos atrás eles tentaram o Projeto Inova que fez “água”.
A Telefónica vive hoje um grande drama. Ela tem 50% do negócio da Vivo, que tem excelente performance no mercado brasileiro, mas não pode fazer este negócio florescer por causa da falta de entendimento dos dois “conquistadores” como citamos acima. A Vivo hoje em dia representa 70% do negócio da Portugal Telecom. Os “conquistadores portugueses” não desistirão NUNCA da Vivo! Enquanto isto a Telefónica perde seu tempo pois não evolue na área de telefonia móvel – importante pilar da oferta de serviços convergentes – no nosso país.
E teria saída para a Telefónica no Brasil? Ela teria duas opções (1) comprar uma operação de Telefonia Móvel que poderia ser a TIM. Será que a Telefónica virá por aqui? (ver Imprensa italiana especula sobre compra da Telecom Italia
pela Telefónica, Teletime, 22.jan.2010) ou (2) participar do Leilão da Banda H anunciado recentemente (ver Anatel
publica consulta para operadores virtuais e banda H, Teletime, 23.dez.2009) e montar uma operação de Telefonia Móvel do zero que teria um alto custo.
Um outra opção também seria – desde que não esteja no capital da Vivo – partir para uma operação neo-novíssima de MVNO (a Consulta Pública no. 50 está na praça). Acredito que seria prudente que a Telefónica parta logo para a viabilização de uma operação móvel e não fique perdendo tempo na Vivo. Ela está ganhando um bom dinheiro nesta cellco mas a médio e longo prazo está perdendo muito em termos estratégicos no Brasil – o maior mercado da América do Sul.
Para corroborar com nossa visão da situação anacrônica que a Telefónica vive no Brasil, veja a recente matéria do Valor Econômico: Vivo ganha atenção com resultado e dilema de sócios, 20.jan.2010. O valor de mercado da Vivo atualmente é de 20,6 BR$ que seria quase igual ao valor da dívida de 21,5 BR$ da supertele Oi (ver Pedra no sapato da supertele, O Globo, 16.jan.2010).
Vários movimentos recentes no mercado mundial apontam na direção do que expomos acima, a saber:
[1] Chegada no Brasil do Grupo Francês Vivendi
O que a Vivendi quer no Brasil? Vamos “pinçar” algumas partes da reportagem sobre a compra da GVT pela Vivendi na matéria O Plano da Vivendi para o Brasil da revista Isto É Dinheiro, 18.nov.2009:
"Podem esperar preços menores", CEO da Vivendi, Jean-Bernard Lévy
O plano Vivendi inclui serviços de telefonia, banda larga e tevê por assinatura - em pacotes mais econômicos do que os da concorrência.
E um dos principais alvos de Lévy é o mercado de banda larga no Brasil. Na França, o principal pacote da Vivendi inclui 20 megas de internet, ligações telefônicas ilimitadas e mais 140 canais de tevê a cabo. Custa cerca de R$ 77,praticamente o mesmo que a Telefónica cobra para oferecer dois megas de internet por meio do Speedy, sem serviços adicionais de cabo ou telefonia.
Se a GVT já estava dando trabalho para as incumbentes fixas brasileiras com suas ofertas agressivas de ultra banda larga, imagine agora com a oferta diferenciada de TV (embora tenha que esperar a aprovação da colcha de retalhos chamada PL 29 que está em tramitação na Câmara). Além disto, o que a Vivendi tem no bolso do colete para utilizar no Brasil quando for necessário?
Ela tem uma grande experiência em Telefonia Móvel com a telco SFR (2ª operadora móvel e fixa da França), na área de TV a Cabo com a Canal+, empresa líder em canais de TV por Assinatura na França e, na área de Conteúdo de Games com a Activision Blizzard, a número 1 em vídeo games no mundo (ver Por que a Vivendi está comprando a
GVT?, Teleco, 04.out.2009).
A Vivendi ainda tinha um pedaço (19%) na toda-poderosa Universal americana mas vendeu em Novembro de 2009 quando a Universal se aliou com a Comcast americana (ver Vivendi-GE Reach Tentative Agreement On NBCU Sale,
Paid Content, 30.nov.2009). O que falta ainda para a Vivendi trazer para a GVT em curto prazo? Telefonia Móvel na cabeça! E não vai demorar muito pois já estão na praça para Consulta Pública os regulamentos de MVNO e Banda H. Nesta nova Banda H, a idéia da ANATEL é atrair novos operadores de SMP para esta faixa (ver Anatel publica consulta
para operadores virtuais e banda H, Teletime, 22.dez.2009).
Para onde vai a GVT? Para MVNO e/ou Banda H? Esperemos e veremos! Imagine a banda larga da GVT – que já é sucesso atualmente onde está disponível – dentro de um bundle de quadruple play: Fixa + Móvel + Banda Larga + TV? Uma grande “dor de cabeça” para seus competidores sem nenhuma sombra de dúvida. Podem apostar, isto é bilhete premiado de Mega-Sena!
[2] Comcast + Universal
Recentemente assistimos a um grande merger nos EUA – que envolveu também a Vivendi – entre a GE (acionista majoritária da NBCU, leia-se Universal) e a gigante Comcast (maior operadora de cabo dos EUA). Mr. Ralph J. Roberts, um senhor de 89 anos que é co-fundador da Comcast e também o seu COO vinha perseguindo um operação similar a esta desde que fez a mal-sucedida OPA (Oferta Pública de Aquisição) pela Disney em 2004. Algumas premissas norteavam a cabeça do Sr Roberts recentemente, a saber (ver In Secret Meetings, Comcast Wooed G.E. and Won NBC, The New York Times, 02.dec.2009):
Mr. Roberts had long wanted to control not just the pipes into people’s homes, but the television shows and movies that flow over them.
Broadcast television was suffering through ratings declines, and a falloff in DVD sales had dented profits in Hollywood. But cable channels, of which NBC Universal has many, were flourishing.
NBC Universal, whose cable channels continued to do well but whose flagship broadcast network was deteriorating,
O que vimos nas frases acima: a televisão de radiodifusão está perdendo cada vez mais o seu valor e as empresas de cabo estão cada florescendo mais e mais! Triste realidade mas é verdade. Por que isto? Na televisão de radiodifusão você não agrega nada mais que seu conteúdo ao contrário que em uma operação a cabo você pode ter telefonia convencional e banda larga além da TV a Cabo.
Isto mostra que a televisão de radiodifusão como negócio isolado só manterá parte do seu valor em cima do seu conteúdo premium. Por isso que as TVs brasileiras se agarram com unhas e dentes em cima da colcha de retalhos do PL 29 como a sua tábua de salvação!
Veja mais aqui sobre a potência e abrangência deste merger da Comcast com a Universal aqui: Comcast-NBCU: The
Slide Show, Paid Content, 03.dec.2009 e Comcast has agreed to buy a majority stake in NBC Universal, Dailywireless, 03.dec.2009).
[3] América Móvil: Consolidação no Império Mexicano de Telecom
O bilionário mexicano Carlos Slim (ver The Secrets of the World's Richest Man, The Wall Street Journal, 04.aug.2007) decidiu em meados de Janeiro de 2010 consolidar todos seus ativos de telefonia fixa e telefonia móvel sob o guarda- chuva da América Móvil (a operação de telefonia móvel do Grupo). Com esta consolidação, a empresa estaria apta a ofertar serviços de comunicações convergentes, independente da plataforma que eles são gerados (ver Press Release da América Móvil aqui: Oferta de América Móvil por Carso Global Telecom y Telmex Internacional).
Ele demorou a agir nesta linha mas … agiu. Seu Grupo não cresceu significativamente em 2009 (alcançou 2 dígitos de crescimento em 2008) mas Slim começou a ficar atento para a realidade futura de serviços convergentes.
O objetivo de Slim é poder vender pacotes bundle triple-play ou quadruple-play que vai além da telefonia móvel. Muitas telcos no mundo estão tentando aumentar sua receita tentando convencer aos clientes a adquirir um serviço triple-play composto de serviços de telefonia fixa, banda larga e televisão. Algumas outras telcos estão ofertando serviços quadruple-play adicionando a telefonia móvel.
Ver mais detalhes deste movimento de consolidação do Grupo mexicano aqui: Carlos Slim Integrating Telecom
Companies, Dailywireless, 14.jan.2009 e Slim launches bid to consolidate telecoms empire, Financial Times, 14.jan.2010.
No Brasil, o Grupo mexicano tem os componentes básicos para suas ofertas convergentes através da empresas Claro, EMBRATEL e Net (jóia da “Coroa”). Estas três empresas terão que ter uma operação única no Brasil provavelmente sob o controle da Claro (ou uma nova holding). Interessante! Vamos esperar para ver o que acontecerá nestas empresas brasileiras do Grupo.
Ainda neste tema, veja um movimento interessante noticiado em Dezembro de 2009 sobre a ampliação da rede HFC da Net: Embratel planeja rede HFC própria para banda larga e voz, Teletime, 04.dez.2009. Uma nova e interessante estratégia da EMBRATEL para o mercado de serviços triple-play já começava a se desenhar no 2º semestre de 2009. Mais uma aqui que passou despercebida do mercado: Antonio Vega Sandoval deixou o posto de CIO para tocar um
grande projeto dentro da companhia, em Brasília, IT Web, 28.set.2009. Este anúncio do Slim parece-nos que já vinha sendo trabalhado há mais tempo no Grupo, não? O que você acha?
[4] Provedores de TV a Cabo nos EUA já sacaram a “nova onda”
Além da Comcast vários outros provedores de TV a Cabo já sacaram a importância de ter uma operação de Mobilidade há mais de um ano. As três maiores TVs a Cabo dos EUA (Comcast Cable, Time Warner Cable, Cox Communications) continuam a sua saga de sobrevivência para competir com as empresas AT&T e Verizon que estão lançando seus serviços de TV (Triple Play) via banda larga fixa.
Elas fazem diferentes do que o pessoal de TV daki do Brasil ... em vez de ficarem “olhando para o umbigo”, elas vão a luta e tentam competir na telefonia móvel e na Internet em alta velocidade com as telcos incumbentes. A Comcast e a Time Warner apostaram no WiMAX Móvel da Clearwire (ver Time Warner WiMAX Expands, Dailywireless, 28.jan.2010).
A Cox Communications lançou recentemente seu serviço de 3G mas já “paquera” a plataforma 4G/LTE (ver LTE: Cox
Cable Calling, Dailywireless, 25.jan.2010). Nós tratamos deste assunto aqui nesta matéria do Teleco: Televisão do
Brasil ... Você quer continuar “olhando pro seu umbigo” ou “dar um tiro no seu pé”?, Novembro de 2008).
Nos EUA estas três TVs a Cabo tentam suprir o complemento de Telefonia Móvel para as suas operações de Telefonia Fixa, Banda Larga, TV e Conteúdo. Cabe registrar que a Comcast em Julho de 2008 já era a 4ª telco americana ser serviço de voz residencial (ver Voice Over Comcast: Big, Dailywireless, 30.jul.2008).
São tantas emoções, não são? Não sabemos aonde esta busca por serviços convergentes vão chegar mas, uma coisa é certa: não teremos um vida de marcada por tédio neste segmento pois o dia-a-dia daqui para a frente será de “grandes emoções”. Tenha certeza!
Para finalizar gostaríamos de registrar que no dia 08.DEZ.2009 fizemos alguns posts no Twitter (Username: eprado_melo) exatamente sobre este tema tratado aqui! Aqui você tem também algumas matérias de Triple Play do Teleco: Triple Play na Europa , 08.mai.2006 e Triple Play na Terra do “Tio Sam”, 10.abr.2006).
Nota: Um registro apenas sobre o “futuro” da Telefonia Fixa: AT&T quiere abandonar la telefonía fija, El País, 04.jan.2010.
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O artigo analisa com bastante propriedade o tema, evidentetemente que a oferta múltipla de serviços é o futuro deste setor, e outros artigo e numeros mostram o quase limite de pentetração dos celulares, e onde existem um enorme market share para cresimento é para o acesso de banda larga , hoje na casa de 10%. Alem do que o consumidor pela participação da Telefonica na TIm fica se perguntando se isso vai durar ate quando?. Neste quesito a OI e Claro sairam na frente a Claro com sua fusão com a Embraetel me parece natural tende a se tornar a proxima lider? É esperar pra ver.
O Brasil replica o já consagrado modelo integrado mundial, mas de forma "tropicalizada". Por travas regulatórias, não teremos ofertas convergentes explícitas, mas o que já acontece hoje (Claro + Embratel + Net, por exemplo).
Tomara que o PL29, a possibilidade de existência de MVNOs e o leilão da Banda H sejam, juntos, o primeiro passo para a modernização regulatória, sempre com foco em nós, consumidores.
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