05/07/2010
Em Debate:
O Google vai invadir sua TV!
Eduardo Prado
Consultor
“We are reaching a perfect storm of converging trends where computers are behaving more like mobile devices, and phones are behaving more like small computers", Sundar Pichai, Google's VP of Product Management
No bom sentido é claro. Em outubro de 2009 publicamos a seguinte matéria aqui no Teleco: Televisão do Brasil ... Você
quer continuar “olhando pro seu umbigo” ou “dar um tiro no seu pé”?. Passaram-se quase dois anos e, nada mudou no cenário brasileiro de TV apesar da Banda Larga (BL) ter aumentado muito a sua penetração nas residências no mundo (com o 4G LTE quase batendo à “nossa porta”) e a tecnologia de entretenimento ter tido uma boa evolução (p. ex., a transmissão de TV em 3D já virou uma realidade agora na Copa do Mundo de 2010 da África do Sul).
Para piorar a situação do audiovisual no Brasil, o pessoal de TV por aqui acredita que a “colcha de retalho” chamada
Projeto PL 29 é a sua “Tábua de Salvação”. Uma pergunta que não quer calar: “O que acontece quando alguém naufraga em alto mar e resolve utilizar uma bóia furada?” A resposta é óbvia, não é meu caro Watson?
Nos EUA, durante anos, os programadores e distribuidores de TV convencional e de TV a cabo têm falado em vídeo na Web como se este não ameaçasse seus negócios, tipicamente argumentando que ele era complementar (ver Hulu and
TV Everywhere Remain ‘Complementary’ in Comcast-NBC Joint Venture, NewTeeVee, 03.dec.2009) e não competitivo (ver Comcast COO: We’re Not Competing with Google TV, NewTeeVee, 02.jun.2010).
As estatísticas pareciam indicar que de fato este era o caso – a quantidade de tempo que as pessoas gastavam para assistir televisão continua a aumentar enquanto o vídeo na Web permanecia marcadamente como apenas uma atividade de distração durante o dia.
Mas começaram a aparecer os primeiros sinais de que o vídeo na Web pode estar deslocando a audiência da TV tradicional pela primeira vez (ver Report: One Quarter of Online Videos Are Viewed in Primetime, NewTeeVee, 23.apr.2010). Uma reportagem recente (ver Web Series Tap Prime Time, The Wall Street Journal, 09.jun.2010) destaca na mudança do perfil do consumidor, mostrando que os distribuidores de vídeo estão percebendo que os seus produtos estão aumentando a audiência no mesmo período que os shows mais quentes dos programadores de TV tradicionais.
De acordo com o Wall Street, em apenas um ano as horas de pico de audiência dos shows distribuídos pelo site Blip.tv têm deslocado-se do horário nobre noturno de 20-23 horas para o horário de 12-15 horas. Enquanto isso, o analista de indústria Nielsen constatou que o número de telespectadores que assistiram vídeo online durante o horário nobre aumentou 14% para 62,4 milhões durante o último ano.
Um executivo da empresa Revision3 – um rede de televisão baseada na internet – disse ao Wall Street Journal que 40% da sua programação é assistida através de dispositivos que são conectados ao aparelho de TV, o que significa que os usuários estão assistindo vídeos na Web, ao invés de estarem assistindo a programação da TV convencional ou da TV a cabo.
É este filão de oportunidade de entretenimento que o gigante Google está descobrindo no negócio de TV. Em maio de 2010, o Google anunciou que vai estrear no segmento de TV juntamente com os parceiros Sony, Logitech e Intel entre outros (ver Google TV: everything you ever wanted to know, Engadget, 21.may.2010).
Alguns analistas expressaram surpresa com o interesse do Google pelo nicho de TV! Por que uma empresa sólida (e bastante lucrativa) com o faturamento anual de 27 BUS$ como o Google está querendo entrar na sua “sala de estar”? Por que o negócio de TV movimenta muito dinheiro. Anualmente, a TV movimenta 70 BUS$ em publicidade e uma quantidade igual em taxas de cabo e satélite, e mais 25 BUS$ em vendas de eletrônica de consumo. Além disto, os telespectadores gastam 4,5 horas diárias em média vendo televisão.
O objetivo do Google é entrar nesse mercado, eventualmente apropriando-se de um naco saudável de bilhões em publicidade que flui para e através da TV hoje em dia com uma sofrível ineficiência.
Ok, isto posto dessa forma concordamos que TV é um grande negócio! Mas por que isto agora com o Google terá um sabor diferente? Vários players já não tentaram isto antes? Esta é uma das razões pela qual o brilhante Steve Jobs acredita que o movimento do Google TV não dará certo (ver D8 Video: Steve Jobs on Why Apple TV Is a Hobby, All Things Digital, 01.jun.2010).
Pode ser que seja difícil! É correto que vários players já tentaram antes, mas Google TV não está fazendo da mesma forma que outros players como Roku, VUDU, Boxee, ou até mesmo Apple TV (ver Top Ten Alternatives to Cable, Business Week e The New Mac Mini — the Next Apple TV?, Giga OM, 15.jun.2010).
O Google TV tem uma proposta diferente! Ela é mais ambiciosa e mais ambiciosa e, mais provável de ter sucesso. Hoje em dia o cenário é bastante diferente. Com a penetração da banda larga em 2/3 das residências nos EUA – e uma penetração maior de banda larga em muitos mercados da Europa e Ásia – e com as redes residenciais em mais de 1/3 das residências americanas, a camada básica da concetividade de alta velocidade para e das residências pode suportar, com certeza, as ambições do Google.
Adicionalmente, existe bastante conteúdo online entre YouTube, Hulu and Netflix, para valer a pena perturbar a conexão de TV (que, por baixo, é por que 10 milhões de residências nos EUA conectam seus PCs para as TVs para assistir aquele conteúdo atualmente, de forma que o Google está querendo alguns milhões que já utilizam esta conexão).
Mas a mera combinação de conteúdo e tecnologia não é o bastante para fazer esse negócio do Google funcionar. Tem que existir um caminho para o mercado que permita ter sucesso e a lista dos parceiros do Google é que faz a diferença. Os parceiros do Google na oferta do Google TV são:
Sony: planeja fornecer TVs de Internet Bravia e dispositivos de reprodução Blu-ray para executar a plataforma;
Logitech: está construindo uma “Companion Box” para o Google TV que controla o rack inteiro de áudio e vídeo utilizando a tecnologia Harmony, e o telefone Android ou iPhone como dispositivo remoto;
Adobe: obviamente desenvolvendo o Flash 10.1 para a plataforma (ver Adobe Launches Flash 10.1, Dailywireless, 22.jun.2010);
Intel: fazendo o chip Atom CE4100 para ser utilizado em todos os dispositivos do Google TV;
Best Buy: famoso varejista nos EUA para comercializar os dispositivos nas suas lojas para estimular uma grande alavancagem de massa da oferta de TV do Google.
Além destas parcerias, o Google TV ainda tem a Dish Networks.
Um ponto de destaque nessa parceria é a presença da Sony. A Sony tem vendido TVs conectadas há mais tempo que qualquer outro fabricante de TV. Ela é obsessiva com pesqueisa & desenvolvimento (R&D) e suas TVs conectadas são relativamente mais robustas quando comparadas à dos outros fabricantes que utilizam uma eletrônica de silício mais barata e tem uma interface de usuário menos elegante.
O foco (e o investimento) da Sony neste empreendimento pode ser a “bala” para fazer a diferença na captura de milhões de residências no final de 2011. Espera-se no mercado, que o envolvimento da Sony no empreendimento provoque para que todos os outros parceiros acelerem seus próprios esforços.
Os outros fabricantes de TV devem ter também interesse em assinar a mesma parceria com o Google. As empresas de cabo devem acelerar as suas soluções everywhere para assegurar que elas não serão colocadas de lado desta nova oportunidade de mercado. Espera-se que até a própria Apple – que no primeiro momento desdenhou da oferta do Google – terá que responder.
É crítica a diferença que faz do Google TV uma oferta única comparativamente às tentativas anteriores de “Webtizar” a TV. E é a diferença que importará na escala, devido aos fabricantes de TV que suportará a iniciativa do Google. E é a diferença que importará aos desenvolvedores, que vão ter interesse de apelar a milhões de consumidores através de uma interface persistente, e não uma caixa qualquer na “sala de estar”. Isto é por que o Google TV é maior do que você pensa e ocupará mais a sua atenção e o seu tempo mais do que você pensa.
O recente movimento do Google na área de TV já está provocando movimentos dos concorrentes: o Hulu começou a descobrir que os tablets e os games eletrônicos podem ser uma grande oportunidade para programações de entretenimento: Hulu Plus Coming to iPad, Xbox & Playstation Next Week?, Giga OM, 25.jun.2010.
Referências:
Google TV: How Deep?, Dailywireless, 11.jun.2010
Why it's prime time for Apple TV, CNN News, 04.jun.2010
Ballmer Takes Control of Mobile, Dailywireless, 04.jun.2010
D8: Video: Steve Ballmer On iPad, Mobile and Google’s OS Efforts, MoCo News, 04.jun.2010
D8: Murdoch: ‘What’s An iPod Without Music?’, MoCo News, 02.jun.2010
The Zettabyte Era Is Getting Closer, Giga OM, 02.jun.2010
Once Again, Steve Ballmer Is Wrong — This Time About Android, Giga OM, 03.jun.2010
Visual Networking Index, Cisco, 02.jun.2010
D8: Qualcomm’s Jacobs Not Happy With MediaFlo—But Not Winding It Down, MoCo News, 02.jun.2010
Is Google TV WebTV Part Deux?, NewTeeVee, 01.jun.2010
D8 Video: Steve Jobs on Google, Android and the iPhone, All Things Digital, 01.jun.2010
Broadband Has Turned Our Homes Into Glass Houses, Giga Om, 29.may.2010
Everything you ever wanted to know about mobile, but were afraid to ask, Communities Dominate Brands, 28.may.2010
Google TV and Android 2.2, Dailywireless, 20.may.2010
Schmidt Says Google TV Ads Will Be a Cash Machine, Giga OM, 20.may.2010
Google News Bites, Dailywireless, 17.may.2010
Google TV Box, Dailywireless, 18.mar.2010
Google and Partners Seek TV Foothold, The New York Times, 17.mar.2010
http://www.nytimes.com/2010/03/18/technology/18webtv.html?ref=technology
Google TV Set-Top Box is Coming, Gizmodo, 17.mar.2010
Brin: Google's OSes likely to converge, CNET News, 20.nov.2009
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