28/09/2009

Em Debate

 

 

Reserva de espectro para 2,5 GHz: a importância de planejar o futuro

 

Francisco Giacomini Soares

Diretor Sênior de relações governamentais da Qualcomm do Brasil

 

 

 

Omercado de telecomunicações móveis continua fazendo significativos avanços no desempenho geral das redes celulares. Pelo menos doze operadoras de telefonia móvel de vários países estão se preparando para lançar, já no começo do ano que vem, suas primeiras operações comerciais com LTE (Long Term Evolution), a tecnologia de quarta geração.

 

LTE é uma evolução natural das tecnologias 3G existentes. Quase 40 operadoras de telefonia móvel já estão comprometidas a implementar a LTE¹. Testes com LTE têm sido anunciados por fabricantes, e 14 operadoras em diversas partes do mundo - de países como Japão, Estados Unidos, Canadá, Suécia e Noruega - planejam lançar operações já em 2010¹.

 

A Qualcomm prepara-se para em breve equipar dispositivos compatíveis com LTE com seus chipsets multimodo, os primeiros do mercado a suportar tanto o padrão LTE quanto 3GPP/3GPP2 em um único chipset. Esses chipsets devem ser lançados em 2009/2010.

 

O Brasil corre um grande risco de atrasar, novamente, a chegada da quarta geração da tecnologia sem fio, como aconteceu no passado com a terceira geração. E por um motivo simples: nós ainda não reservamos espectro suficiente para a indústria móvel crescer e estar posicionada na vanguarda da oferta de recursos e serviços avançados.

 

Muitos países já fizeram isso, depois que a UIT identificou a faixa de 2,6 GHz (genericamente chamada de 2,5 GHz) no ano 2000 e outras faixas adicionais em 800 MHz, 900 MHz e 1,8/1,9 GHz para o IMT (International Mobile Telecommunication)², que abrangem as tecnologias 3G e 4G. No ano 2000, estas faixas adicionais menores foram utilizadas com as tecnologias 2G e começaram a migrar para a geração seguinte (3G). A faixa de 2,6 GHz começou a ser reservada por vários países para as gerações que viriam em seguida.

 

A freqüência de 2,6 GHz no Brasil é utilizada hoje para o MMDS, padrão da TV por assinatura via rádio que vem sendo descontinuado no Brasil e no mundo inteiro, enquanto os serviços de TV a cabo e via satélite continuam crescendo. De acordo com a Anatel, em 2008 a telefonia celular registrou um crescimento de 24,5%, atingindo todas as classes sociais da população. Também de acordo com a Anatel, até julho de 2009 havia 161,9 milhões de usuários de telefonia celular.

 

A maneira mais democrática de usar o espectro de 2,6 GHz seria destinando a faixa de 190 MHz para o Serviço Móvel Pessoal (SMP) e dividindo-a em dois blocos de 70 MHz cada no modo FDD* e em um bloco de 50 MHz no modo TDD ** para o SMP,mantendo a destinação atual de 50 MHz no centro da banda para o MMDS e o SCM (Serviço de Comunicação Multimídia), e permitindo a mobilidade. Essa configuração deixaria os operadores de MMDS com 50 MHz para serviços de TV por assinatura e/ou banda larga (fixa/móvel).

 

O bloco de 50 MHz do centro da banda poderia ser utilizado pelas operadoras de MMDS, e os blocos 70+70MHz seriam, então, destinados para as tecnologias de 4ª geração,  que serão especificadas pela UIT,  tal como o  LTE. Para aqueles que consideram os 50 MHz insuficientes para as tecnologias e aplicações TDD , é importante lembrar que há  espectro de TDD na faixa de 3,4 MHz já sendo usado por tecnologias TDD existentes e ainda mais está sendo considerado e regulamentado pela Anatel.  Ainda, no leilão de 2,6 GHz na Suécia e em Hong Kong, o espectro mais valioso eram os blocos de FDD, que mostra a preferência do mercado pelo FDD.

 

A próxima geração do WiMAX - o  WiMAX Advanced,  que inclui recursos de mobilidade    no modo FDD, conforme proposta feita pelo WiMAX Forum - também poderá se beneficiar com  a reserva de 70+70 MHz na faixa de 2,6 GHz. Como a UIT continua sua avaliação para as tecnologias de próxima geração, o WiMAX Advanced e o LTE irão  disputar  os blocos de 70MHz das bandas de FDD na faixa de 2,6 GHz, e competição é bom para o consumidor, para a indústria e para o Brasil.

 

A banda larga de hoje é a banda estreita de amanhã

 

O Brasil levou 16 anos para implementar o 3G nas faixas de 1.9/2.1GHZ, identificadas pela UIT para o IMT-2000 em 1992. Porém, a reserva da faixa para o 3G no Brasil ocorreu apenas no ano 2000; o leilão aconteceu em novembro de 2007; e as primeiras redes 3G foram implementadas comercialmente em 2008. Àquela altura, o Japão completava 8 anos de operações comerciais 3G, e hoje está se preparado para implementar o LTE.

 

Reserva de espectro significa planejamento. Quando se reserva um espectro, as operadoras se programam para investir em novas redes com essas tecnologias futuras e em remanejamento de equipamentos, que ainda estarão em sua vida útil ou que ainda não foram devidamente amortizados. O custo de todas essas mudanças é alto. Quanto antes melhor: mesmo que o uso do espectro de 2,6 GHz seja definido agora, a tecnologia de 4ª geração ainda levará uns dois anos para chegar efetivamente ao Brasil, pois segundo a Anatel, o processo de regulação e licitação demanda tempo.

 

Reservando e definindo espectro suficiente, o Brasil mostrará ao mundo como está comprometido em seguir as tendências internacionais. Já que o Brasil faz parte da UIT e participa das discussões, o país poderia ser mais ágil na hora de implementar as novas tecnologias que trarão benefícios para a sociedade.

 

Esta é a hora de tomarmos as decisões frente à nova realidade e seguirmos em frente rumo ao desenvolvimento, preparando-nos melhor para as próximas gerações de tecnologias.Até por conta de uma imposição do usuário, pois não podemos esquecer que a banda larga de hoje será a banda estreita de amanhã.

 

Além disso, as novas aplicações vão exigir capacidades maiores que serão obtidas quando tecnologias como LTE estiverem disponíveis em toda sua plenitude.

 

Francisco Giacomini Soares, Diretor Sênior de Relações Governamentais da Qualcomm.

 

* FDD – o uplink e o downlink são em faixas separadas.
** TDD – o uplink e o downlink são em faixas contíguas.
¹ Press Release da GSA (Associação Global de Fornecedores Móveis) de 27 de agosto de 2009.
² IMT é o termo adotado pela UIT em 2007. Em 2000, o termo usado era IMT-2000.

 

 

Comente!

Para enviar sua opinião para publicação como comentário a esta matéria para nosso site, clique aqui!

 

Nota: As informações expressadas nos artigos publicados nesta seção são de responsabilidade exclusiva do autor.

 

 

 

GLOSSÁRIO DE TERMOS

NEWSLETTER

Newsletters anteriores

Enquete

Qual a velocidade de acesso à Internet que seria suficiente para você no celular?

  <10 Mbps
  10 a 50 Mbps
  50 a 100 Mbps
  100 a 500 Mbps
  500 a 1 Gbps
  <1 Gbps

EVENTOS

 

 

Mais Eventos

TelecomWebinar

Mais Webinares

NOTÍCIAS

SEÇÃO HUAWEI