09/11/2009

Em Debate Especial: Banda Larga

 

Impacto do novo perfil de consumo nas redes de banda larga

 

 

Leila Loria

Diretora presidente da TVA

 

 

A discussão sobre o desenvolvimento da banda larga no Brasil passa por muitas questões   e aqui vamos abordar apenas alguns aspectos do mercado. É fato que as mudanças no comportamento do consumidor, a procura por novas formas de consumir conteúdo, entretenimento e informação, além da entrada massiva de  novos usuários no mercado de banda larga, têm gerado enormes impactos em toda a cadeia de valor, afetando o planejamento da infra-estrutura de rede.

 

Um dos elementos que tem passado por profundas mudanças é a distribuição de conteúdo na internet, que cresce vertiginosamente. Estudos amplamente divulgados ratificam esta tendência e um trabalho da Cisco em particular estima que em 2012 o vídeo será responsável por 90% do tráfego da internet. Dados da Júpiter Research destacam que hoje 43% dos usuários americanos gostariam de assistir programas de TV no computador e no Brasil mais da metade dos internautas já assiste vídeo na internet pelo menos uma vez por mês. Estudo da Deloitte realizado em diversos países demonstra que os consumidores brasileiros passam 82 horas semanais interagindo com diferentes mídias, entretenimento e tecnologia de modo geral, sendo que mais de 60% dos consumidores estão envolvidos em multitasking enquanto assistem televisão, principalmente navegando na internet.

 

De acordo com a consultoria Strategy Analytics, o consumo de streams no HULU cresceu 375% no último ano. No iTunes, os downloads de filmes cresceram 223%, enquanto que os de programas de TV tiveram um incremento de 71% entre jan/08 e mar/09. A base de assinantes do Netflix cresceu 52% nos últimos dois anos, a partir do início da distribuição digital. E segundo a comScore, em julho deste ano foram assistidos 11,4 bilhões de vídeos, num total de 558 milhões de horas, sendo que o site You Tube correspondeu a 45% desta audiência.

 

Todos estes movimentos impactam o modelo de negócio dos produtores de conteúdo e alteram a dinâmica entre produção e distribuição de conteúdo. Enquanto as formas mais usuais de distribuição de vídeo (TV aberta e por assinatura) trabalham no conceito broadcast com redes gerenciadas e, portanto, controladas, o vídeo na internet trafega pela rede pública sem garantia de banda. Em paralelo com o aumento do consumo, melhorou também a qualidade dos vídeos que trafegam pela internet, inclusive com o surgimento de conteúdos em alta definição.

 

Por outro lado, a indústria de eletroeletrônicos tem evoluído muito e desenvolvido inúmeros devices que facilitam o acesso das pessoas ao consumo de mídia em diferentes plataformas, criando ainda mais desafios para os modelos de negócio existentes. Os consumidores cada vez têm mais poder para escolher como, onde, quando e em que device vão acessar seus conteúdos, interagir com suas comunidades e realizar suas atividades online.

 

É importante ressaltar que as redes atuais têm que evoluir constantemente para suportar a transformação desse mercado além do surgimento de novas infra-estruturas. Evidentemente, a fibra óptica atende a essas novas demandas, seja pela capacidade de distribuição, interatividade total e possibilidade de integração entre plataformas. Porém, redes de fibra óptica exigem investimentos altos e retornos a longo prazo.

 

Ao mesmo tempo em que estas mudanças acontecem, novos públicos se incorporam à internet, principalmente das classes C e D, que passam a integrar este universo, estimulados pela inclusão digital, incentivos do governo e positivos fatores econômicos. Hoje, a penetração da banda larga nestas classes já é maior que na TV por assinatura e certamente se ampliará ainda mais daqui para frente. Portanto, esta será a forma de acesso a conteúdos diferenciados e segmentados mais utilizada por estes novos consumidores. Estudos globais reforçam a tendência de crescimento no consumo de vídeo em redes IP nos próximos anos, e cabe lembrar que também serão necessários investimentos significativos para garantir a produção de conteúdo audiovisual de qualidade nessas novas plataformas fixas e móveis.

 

Enfrentamos, assim, um enorme desafio para construir novos modelos de negócios que viabilizem os investimentos necessários. Os preços de acesso à banda larga têm caído ao longo do tempo, a receita total de voz também decresce, o consumidor tem reagido a pagar por conteúdos e serviços na internet e a receita de publicidade não acompanha o crescimento da audiência na internet – fatores que exigirão cada vez mais soluções inovadoras, tanto em produtos e serviços, quanto em tecnologias e complementaridade de redes.

 

A discussão sobre a evolução da banda larga é muito oportuna e envolve diferentes segmentos da indústria: operadores de múltiplos serviços de telecomunicação (voz fixa e móvel; banda larga fixa e móvel; TV por assinatura em todas as plataformas); produtores de conteúdos em todas as mídias impressas e eletrônicas; provedores de internet; fornecedores de equipamentos; desenvolvedores de tecnologia, aplicativos e serviços  apenas para citar os mais representativos da cadeia.

 

O planejamento das redes de banda larga, portanto, tem que considerar o novo perfil de consumo na internet e não pode ignorar o fato de que se desenha uma nova cadeia de valor nos mercados de telecomunicações, mídia e tecnologia.

 

 

 

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Nota: As informações expressadas nos artigos publicados nesta seção são de responsabilidade exclusiva do autor.

 

 

Comentário de Renato Carneiro

Leila, Parabéns pela qualidade do texto. Os números são realmente impressionantes, porém conhecidos. O melhor do seu artigo é a clareza de que temos que trabalhar diariamente para ajudar a construir os novos modelos que viabilizarão e darão sustentabilidade aos novos negócios na Internet. Renato Carneiro Presidente 2S Inovações Tecnológicas

 

 

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