Em Debate Especial: 3G

Publicado: 04/06/2007

 

3G: Banda Larga para todos

 

 

 

Marco Aurélio Rodrigues

Presidente da QUALCOMM no Brasil

 

O Brasil vive um momento de definição e dúvida. Definição, pois é necessário tomar uma decisão rápida sobre o rumo dos novos investimentos no setor de telecomunicações. Dúvida, pois o que se discute aqui hoje, já não é mais discutido em mercados desenvolvidos da Ásia, Europa e Estados Unidos. Ao contrário do que se pensa, 3G não é privilégio apenas de países ricos, pois já é realidade em nações semelhantes ao Brasil em termos de desenvolvimento, como Indonésia, Sri Lanka, Grécia, Sérvia entre outras.

 

Na América Latina, Chile e Argentina já estão com suas primeiras redes 3G implementadas; outros países, como México, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia, Peru e Venezuela já têm projetos de redes 3G em andamento ou em fase de planejamento, alguns com expectativa para início das operações no 3º trimestre deste ano.

 

 

O mundo todo – desenvolvido ou em desenvolvimento – caminha rapidamente para a 3G. Em 2006, 75% dos novos assinantes na Europa eram 3G, fato que ajuda a explicar a forte queda das exportações de celulares para este e outros importantes mercados, que cada vez mais consomem aparelhos 3G e reduzem suas compras de modelos 2G.

 

Nossas exportações no ano de 2006, em relação a 2005, caíram 37% para os Estados Unidos e 72% para a União Européia. E a queda continua: somente de janeiro a abril de 2007, exportamos 28% a menos para os EUA e 89% a menos para a União Européia em relação a igual período de 2006. Este é um dos efeitos perversos do atraso da entrada do Brasil na Terceira Geração.

 

Impacto nas exportações de celulares
US$ Millhões 2005
Jan-Dez
2006
Jan-Dez
Variação
Venezuela 326 699 114%
Argentina 689 766 11%
EUA 787 497 -37%
Europa 191 54 -72%

 

US$ Millhões 2006
Jan-Abr
2007
Jan-Abr
Variação
Venezuela 279 216 -23%
Argentina 167 171 2%
EUA 172 123 -28%
Europa 18 2 -89%
Destinos que representaram 75% das exportações de celulares (Abr/07).
Fonte: MDIC/Teleco.

 

O volume de assinantes 3G no mundo tem superado as estimativas mais otimistas. O CDG (CDMA Development Group) reportou mais de 55 milhões de assinantes EV-DO no final de 2006 e a GSA (Global Mobile Suppliers Association) estimou que haverá cerca de 183 milhões de assinantes 3G WCDMA até o final de 2007 – número que tornou-se conservador, pois considerava menos de 1 milhão de assinantes da AT&T/Cingular, operadora que deverá ter pelo menos 10 vezes mais assinantes do que esta estimativa.

 

A 3G é uma evolução natural das redes celulares e traz, efetivamente, a Banda Larga Móvel para o usuário. Com a 3G, os usuários têm melhores serviços de voz e de dados, a custos decrescentes.

 

A queda do custo destes serviços é resultado da eficiência da tecnologia, da variedade cada vez maior de celulares com funções inteligentes e de dispositivos para conexão de computadores à Internet – como modems USB para uso em qualquer computador ou laptops com 3G embarcado no próprio aparelho.

 

A Terceira Geração é também alternativa extremamente interessante para inclusão digital e projetos de e-government. Assim como no Brasil, milhões de pessoas no mundo só terão acesso à Internet por meio do telefone celular. Gigantes como Google, Microsoft e Yahoo já reconhecem que o telefone celular será o principal veículo da Internet.

 

Isso se confirma nas palavras do presidente do Google, Eric Schmidt: “A Internet ficou pequena perto dos telefones celulares. Acreditamos que grande parte dos acessos à web, no futuro, vai acontecer pelos telefones móveis. Estamos trabalhando para esta realidade”.

 

Os telefones 3G, além de trazerem a Internet para aqueles que não teriam acesso a ela, também estão democratizando o acesso de classes menos favorecidas a câmera digital, MP3 player, filmadora, GPS, videogame e muito mais. Tudo por uma fração do preço de todos estes aparelhos se comprados individualmente.

 

 

Através das redes 3G é possível promover, a custos baixos e muito rapidamente, a inclusão digital de centenas de localidades. A grande variedade de terminais de acesso 3G (modems, cartões de dados e telefones) a preços cada vez mais acessíveis poderá suprir as mais variadas necessidades de conexão à Internet destas cidades.

 

Hoje já se discute, inclusive, a idéia do GEC (Good Enough Console), um console que funcionará como um acesso a jogos e multimídia e também como uma plataforma de computador nos lares dos países em desenvolvimento como China, Índia, Rússia e Brasil. Com a 3G, este console poderá trazer o acesso à Internet e à informática àquelas famílias que não têm condições de comprar um computador.

 

A 3G representa a inclusão digital AGORA. Outras tecnologias ainda não maduras precisarão de mais tempo para apresentar custos e performance satisfatórios, sem mencionar a extrema limitação da oferta de terminais.

 

Garantir que a população tenha acesso ao que há de melhor em serviços de telecomunicações e ao menor custo possível são objetivos permanentes de governo. Ao permitir que as concessionárias de telefonia celular atualizem suas redes, o governo garante o cumprimento destes objetivos.

 

Por outro lado, a desatualização das redes, ocasionada por falta de acesso às novas tecnologias, leva a um gradativo sucateamento, privando a população de melhores serviços a custos menores.

 

Não podemos e não devemos esperar mais. A terceira geração não é uma promessa, e sim uma tecnologia madura, com milhões de usuários em todo o mundo. É hora de colocá-la em prática.

 

Para isto, nossas autoridades devem tomar as iniciativas necessárias para que a 3G aconteça e beneficie não apenas a indústria e as operadoras, mas principalmente o país e sua população.

 

 

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