02/05/2012
Em Debate
Satélites para acesso à banda larga
Juarez Quadros do Nascimento
Sócio da Orion Consultores Associados e ex-ministro das Comunicações
As soluções via satélite visando o acesso à internet em banda larga contam com inúmeras iniciativas concretas em vários países, o que resulta em lançamentos de avançados satélites HTS (Higt Throughput Satellite) incorporando banda Ka.
A norte-americana Viasat utiliza esses satélites para cobrir com banda larga os Estados Unidos e Canadá. O sistema lançado em 2011 se antecipa à demanda de banda larga e oferece serviços para cerca de um milhão de assinantes.
Também nos Estados Unidos, a Hughes iniciou em 2007 a prestação de serviços na banda Ka para 400 mil assinantes com o satélite Spaceway 3 (capacidade de 10 Gbps). O serviço permite acesso a mais de 600 mil assinantes, e cobre entre 10 e 15 milhões de domicílios.
Na Europa, a Skylogic, subsidiária do Eutelsat, iniciou serviços em 2011 com o satélite KA-SAT e oferece banda larga a 13 milhões de assinantes com o nome comercial de Tooway, cobrindo a Europa e a área do Mediterrâneo no continente africano. Atende dois milhões de domicílios nas áreas rurais e montanhosas, além de empresas de barcos e trens.
No Oriente Médio, em 2011, a Star Satellite Communications contratou com a Hughes um satélite com banda Ka focando acesso à internet em banda larga. A cobertura será o Oriente Médio, África e Sudeste da Ásia.
Na Rússia, a empresa Rscc e Rtcomm, subsidiaria da Rostelecom, entra com serviços na banda Ka, após contrato para fornecimento do sistema e terminais para o novo satélite.
Na Austrália, o governo investe 37 bilhões de dólares, ao longo de oito anos, para levar acesso à internet de alta velocidade (100Mbps) a 100% das pequenas e médias empresas, a 93% dos domicílios e para os outros 7% restantes prevê uma cobertura preferencial com conexões via satélites a 12Mbps.
E no Brasil? Aqui, 44 satélites de telecomunicações estão operando e o fornecimento de banda larga por satélite é realizado em banda Ku. Tais satélites não foram projetados para o provimento de banda larga residencial, o que enseja um custo maior para o provimento do acesso (em banda Ku), tornando a oferta praticamente inviável ao usuário final sob o ponto de vista econômico.
A comparação da capacidade entre um satélite com banda Ka (100Gbps) e com banda Ku (2,5Gbps) demonstra o potencial da tecnologia, ensejando que o custo por Mbps em satélites de alta capacidade em banda Ka, várias vezes menor do que o custo atual de sistemas em banda Ku.
Segundo a Anatel, ao final do primeiro trimestre de 2012, o Brasil tinha 68,5 milhões de acessos em banda larga, sendo 16,5 milhões fixos e 52 milhões móveis. Já os acessos (fixos) à banda larga via satélite eram apenas 50 mil ao final de 2010 (em 2009 eram 46 mil) e dados mais recentes são esperados.
Em 2011, visando aumentar a capacidade satelital e incrementar a competição, a Anatel licitou o direito de exploração de satélite de quatro posições orbitais, cujos segmentos espaciais precisam cobrir 100% do território nacional, para atender tanto banda Ku (principalmente para DTH), quanto Ka (que possibilita a oferta de banda larga via satélite).
Os especialistas sabem que nas florestas, a chuva afeta a disponibilidade da banda Ka (e também Ku), mas com o avanço da tecnologia, esse efeito foi atenuado (com a modulação adaptativa e o controle de potência no link de retorno). De todo modo, para o usuário, é melhor eventualmente por alguns momentos ficar sem internet, do que continuar não tendo nenhum acesso a ela.
O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), instituído pelo Decreto 7.175/2010, objetiva massificar o acesso a serviços de conexão à internet em banda larga, acelerar o desenvolvimento econômico e social, promover a inclusão digital, e reduzir a desigualdade social e regional. Nesse contexto, a recém editada Medida Provisória 563/2012 (art. 24) inclui as estações terrenas satelitais, que contribuam com o PNBL, no Regime Especial de Tributação.
Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD/2009), do IBGE, existiam no Brasil cerca de oito milhões de domicílios na área rural, dos quais, só a metade tinha telefone. Na área rural, o mercado potencial para as telecomunicações é estimado pela Anatel, entre três milhões e quatro milhões de domicílios. Esse número pode ser maior dependendo do estímulo que possa ser dado pelo governo.
Lançar infraestrutura de telecomunicações em áreas remotas de florestas, cerrados ou caatingas, não é usual e pode ser economicamente inviável. O satélite é a solução eficaz e barata para conectar muitos brasileiros, como já é feito pelo Governo Federal com o Gesac. Pesquisa contratada pelo Sindisat, em 2010, constatou que a área brasileira mais carente é o Nordeste (com 48% da população rural) seguido da região Norte (com 11%).
Ainda que se empregue tecnologia celular e que as fibras ópticas dos setores de telecomunicações e elétrico cheguem às capitais e a algumas outras sedes municipais, do Norte, Nordeste e Centro Oeste, muitas outras ficarão de fora e dependerão da solução por satélite para o acesso à internet com banda larga. As autoridades setoriais brasileiras sabem disso.
Por fim, em muitos municípios brasileiros; considerando a extensão territorial, dificuldade de acesso e baixa concentração populacional; em complementaridade a outras soluções tecnológicas, a tecnologia com o emprego de satélites será a única solução viável para incentivar a disseminação de banda larga em todo o País, principalmente nas suas áreas rurais.
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