15/06/2020

Em Debate

 

 

 

A transformação digital em ambiente de pandemia

 

Juarez Quadros do Nascimento

Engenheiro Eletricista, ex-presidente da Anatel e ex-ministro das Comunicações

 

No cenário atual, um grande desafio é saber como será o novo ambiente. As organizações, públicas ou privadas, estão aprendendo que necessitam ser mais resilientes para superar essa difícil situação.

 

No Brasil, com 220 milhões de habitantes, 47 milhões deles nunca tiveram acesso à internet (Cetic.br/2019). Entre os que têm acesso, 58% o fazem por telefone celular. Do total de domicílios, 72% deles têm internet, quase metade por rede fixa. Porém, o acesso não chega a 47% das propriedades rurais nem a 43% das pessoas entre as faixas "D/E".

 

As tecnologias emergentes que asseguram a automatização e a robotização, e por isso permitem a indústria 4.0, são incipientes na América Latina. No momento, na região, somente o Uruguai tem uma rede 5G, a 28 GHz, para o serviço Fixed Wireless Access (FWA), com velocidades entre 2 Gbps e 250 Mbps.

 

Segundo os fabricantes, 63 operadores oferecem 5G comercialmente em 28 países, entre eles: Alemanha, China, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido, Uruguai e outros, sendo o Brasil ausente.

 

Os dados (Anatel/abril/2020) mostram as telecomunicações no Brasil (quando o número de acessos de banda larga fixa supera o de telefones fixos):

 

 

A pandemia causada pela Covid-19 tem perturbado a vida nacional. Os 216 países do planeta Terra não estavam preparados para enfrentar a pandemia que chegou de uma maneira terrível, matando milhares de pessoal e afetando a economia mundial. A Covid-19 está acelerando a automatização do mundo mais rápido do que antes, diante das consequências socioeconômicas a curto, médio e longo prazo.

 

Foi imposta uma transformação digital que provavelmente não voltará atrás. A resistência ao mundo digital foi superada e se acelerará a adoção da inteligência artificial. Os serviços de conexão à internet agora se tornam mais essenciais que antes da pandemia, apesar do fato de que a desigualdade digital, na América Latina e outras regiões, seja um desafio para superar estes obstáculos.

 

O mundo está passando pela evolução de uma surpresa inevitável. É a nova realidade. Em algumas horas, as pessoas mudaram sua forma de viver. Se não fosse pela tecnologia disponível, grande parte da rotina diária não estaria funcionando. Em uma situação normal, colocar empregados de organizações em teletrabalho levaria de dois a três anos.

 

A adoção do distanciamento social reduziu esse tempo em aproximadamente dois a três dias. No Brasil, o tráfego aumentou 30% na rede móvel, 70% na rede fixa e na internet o pico diário de tráfego passou de 7,5 Tbps (Terabits/segundo) para 11 Tbps (segundo as operadoras e o CGI.br).

 

Na pandemia 12,8 milhões de brasileiros enfrentam o desemprego (segundo o IBGE). Há mais pobreza, falências comerciais e infraestrutura precária de saneamento em muitos domicílios. Não há como fazer a higiene pessoal onde falta água. Temos que superar isso rapidamente, com resiliência, e será preciso muito dinheiro, mas de maneira inteligente.

 

A crise persistirá por um tempo imprevisível. Uma agenda pós-pandemia requer políticas públicas sociais dirigidas ao emprego, à luta contra a pobreza e, também, políticas públicas transversais em diversos setores, incluídas as telecomunicações.

 

Para enfrentar essa e outras pandemias futuras, o mundo necessita uma forte cooperação internacional. Necessita ser mais científico e mais tecnológico. Necessita planejamento estratégico. Necessita, também, ser consciente que o papel das telecomunicações é essencial para refletir sobre quanto precisa ser feito, porque a conectividade ainda não está disponível para todos.

 

No setor de telecomunicações, é necessário que os países tenham uma agenda política digital, transversal e realista, apesar da incerteza atual do cenário econômico mundial prejudicar a análise de viabilidade dos investimentos para inovações em ciência e tecnologia.

 

As redes com 5G formam parte do contexto tecnológico porque, entre outras coisas, podem fazer frente à pandemia, com as vantagens:

 

 

Para que as pessoas e as máquinas funcionem nesse ambiente, as políticas públicas de telecomunicações transversais são também de importância fundamental para toda a economia de desenvolvimento empresarial e de governos, especialmente na América Latina.

 

As redes 5G formam parte do contexto tecnológico porque podem fazer frente à pandemia. Entre outros, este argumento serviria de justificativa aos governos para uma política pública e também para leilões que, infelizmente, têm como principal objetivo captar recursos financeiros.

 

Portanto, com ciência e tecnologia, teríamos soluções para a telemedicina, a educação a distância, a internet das coisas e para outras áreas importantes, nas quais é melhor que o ser humano seja o beneficiário.

 

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