Em Debate Especial O setor de Telecom no Brasil em 2008
Publicado em: 28/01/2008
O setor de telecomunicações no Brasil em 2008
Raul Aguirre
Managing Partner, AT Kearney Latin America
Algumas semanas atrás, ouvi um renomado economista falar a respeito do que está acontecendo de mais relevante no mundo. A minha surpresa não foi pouca quando essa pessoa começou a falar de duas mega tendências mundiais que, na minha visão, tem grande aderência com as principais forças que bem poderiam descrever o que deve acontecer com o nosso querido setor das telecomunicações no Brasil nos próximos anos.
As duas mega tendências mundiais seriam, por um lado, a revolução tecnológica em que vivemos, principal e justamente nas telecomunicações mas certamente também na computação, na engenharia genética e no surgimento da inteligência artificial. Por outro lado, a segunda mega tendência seria a incorporação acelerada de bilhões de pessoas na economia global, representando o maior choque de oferta - e diria eu de demanda - desde a primeira revolução industrial.
Revolução tecnológica e incorporação de pessoas ao mercado consumidor. Tudo a ver com o Brasil e também com as telecomunicações.
Pensava eu que no Brasil, e especificamente nas telecomunicações, certamente a evolução e revolução tecnológicas irão continuar, com diversos vetores, como o das redes IP, crescimento da penetração da banda larga, implantação das redes de 3G, consolidação do Wi-Fi/WiMAX, TV digital e o ressurgimento da fibra óptica sendo alguns dos mais representativos.
Mas ao mesmo tempo, essa revolução tecnológica irá impor a questão de como melhor aplicar e explorar os benefícios dela aos consumidores e portanto, ao desenvolvimento da sociedade e do pais.
Aqui entra a questão da inclusão digital, que no fim das contas refere-se também a incorporação de milhões de pessoas a um mundo de informações e interatividade que em última instância não conhece nem parece respeitar muito classes sociais ou noções de poder aquisitivo. Daí a minha surpresa com a similaridade entre as duas mega tendências e o que, certamente em outra escala, pode vir a acontecer com as telecomunicações no Brasil.
A consolidação da indústria é um fenômeno extremamente interessante, com as forças de mercado finalmente corrigindo e convergindo os players para formar mega grupos ou poucos e grandes provedores interados de serviços. Certamente, a criação da super tele Brasileira finalmente parece pronta a acontecer, dando ao Brasil a oportunidade de participar do jogo da expansão e ou alianças internacionais, jogo no qual estava inexplicavelmente ausente.
Será um dos eventos do ano. Os próximos passos? Por que não expandir em países como a Colômbia, que ainda tem players independentes que podem ser comprados? Não da mais para pensar localmente em telecomunicações.
Os benefícios da consolidação para os clientes são, em geral e na teoria, inquestionáveis, principalmente pelos ganhos em eficiência advindos das economias de escala. O provedor poderá e deverá reduzir os custos unitários variáveis, enxugar quadros duplicados e ganhará ainda mais força com os seus próprios fornecedores.
A escala também deverá ser precificada pelo mercado financeiro e o capital devera ficar mais acessível. Certamente e o esperado de uma super tele como a que está nascendo. Mas também não podem ser ignorados os seguramente enormes desafios de integração no front-end e no back-end.
Eu me preocuparia bastante com as interfaces com os clientes e com a equalização de tratamentos comerciais a cliente homogêneos, por citar um par de temas. Caberá também aos reguladores manter a isonomia com os outros players de mercado depois do que sem dúvida configura uma mudança nas regras do jogo. Por último, os sofridos consumidores sabem que maior não necessariamente significa mais ágil...
Agora bem, é a questão de um fabricante brasileiro de equipamentos de telecomunicações? Por que não? Talvez tarde demais em equipamentos tradicionais mas, e tecnologia para redes NGN, tecnologia wireless (Wi-Fi, WiMAX) e até handsets com design brasileiro? Por que não? Outros países como a Índia e a China tem feito avanços incríveis em indústrias que outrora pareciam reservadas a outros players.
Li recentemente sobre a possível compra da Jaguar e Land Rover pelo grupo Tata e pensava que as coisas realmente estão mudando aceleradamente...
Qual o papel do Brasil na indústria de equipamentos? Qual o papel do governo em fomentar a indústria Brasileira? Em diversas regiões do Brasil existem pólos tecnológicos que seriam capazes de competir internacionalmente com os incentivos adequados. A super tele Brasileira poderia ser o parceiro perfeito da indústria brasileira de equipamentos. Soa bem.
Telefonia móvel, sempre na frente... e não pára de surpreender
O mercado de telefonia móvel não para de surpreender. Acabo de receber do site Teleco os fatos, o Brasil encerrou 2007 com 121 milhões de celulares ou penetração de 63%. Ainda estão frescas na minha cabeça as caras de incredulidade de diversas audiências quando ainda em 1999/2000 projetávamos 50% de penetração em 2010 e éramos tidos como, no mínimo, inconscientes.
Lembro do discurso oficial: a renda per capita do Brasil simplesmente não permitirá esses níveis... O Brasil é assim, o quinto maior país do mundo em número de celulares, sendo que no último ano foram 21 milhões de adições liquidas, ainda segundo o Teleco. Surpreendente.
Um dos fatos mais relevantes, na minha visão: a Oi finalmente chega a São Paulo, como quarto entrante, com uma Vivo faminta por recuperação e com a Claro e Tim com a moral do bom desempenho dos últimos trimestres/semestres. Será uma briga digna de se ver, pois as participações de mercado estavam convergindo para um certo equilíbrio conhecido como “fair market share”.
Queriam competição? Certamente vamos vê-la e os consumidores podem esperar grandes benefícios na minha opinião. Estimulante mais ainda se considerarmos que provavelmente o mercado brasileiro, em particular em regiões como São Paulo, já e um mercado de “churn”. Além disso, tipicamente quartos entrantes tem que ter uma estratégia muito agressiva e dispõem de uma janela relativamente curta para fazer um grande “splash” nos mercados que atacam.
Já para a Oi nem precisa falar disso, mas as incumbentes terão as vantagens das marcas e redes de distribuição estabelecidas. Uma briga para acompanhar, só falta o condimento da portabilidade numérica para que o prato seja ainda mais apetitoso. Talvez no início o mercado financeiro penalize o acirramento da competição, mas não será possível evitar isso.
Revolução Tecnológica, convergência, ameaças e oportunidades
No que se refere a revolução tecnológica, finalmente, não poderia deixar de abordar a mudança para as comunicações multi-mode, multi-access, viabilizadas principalmente pela tecnologia IP.
A emergência de redes IP multi serviços e multi acessos, com a conseqüente “portalização” de serviços separadamente da própria rede, pode ainda empurrar as teles ao temido papel de “bit pipes”, particularmente se a regulamentação forçar o unbundling das redes, com o conseqüente ataque de information e media players.
Até chegarmos lá, questões como a excelência operacional, foco no cliente (customer centricity), migração para IP, next generation networks, e o sempre presente desenvolvimento de produtos e serviços inovadores estarão na agenda dos tomadores de decisão do setor.
Enfim, vejo um setor que novamente parece estar tomando um forte dinamismo e papel central no desenvolvimento e progresso da Nação Brasileira. Muito trabalho ainda por fazer na construção de um grande setor a serviço dos consumidores de todos os tipos e regiões. Vale a pena acompanhar.
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