10/10/2007
Em Debate
Publicado: 08/10/2007
O papel dos pequenos provedores de Internet e de serviços de telecomunicações no contexto da oferta de banda larga na competição na última milha
Parte 2
Ricardo Lopes Sanchez
Presidente da ABRAPPIT
O Brasil realizou estudo técnico da aplicação dessa tecnologia para as áreas rurais, com técnicos da ANATEL – demonstrando o potencial técnico brasileiro, porém não foi suficiente para motivar a regulamentação de tal recurso tecnológico. No entanto, outros países, como o Peru, se utilizaram desse estudo brasileiro para implantar infra-estrutura de telecomunicações nas áreas rurais. Conforme demonstrado na apresentação do Vice-Ministro do Peru, realizada no seminário da CDG em 25/05/2006 - 2006, em São Paulo no Hotel Transamérica, o agronegócio do Peru ganhou competitividade com o acesso a recursos de telecomunicações. Confira-se abaixo:
O cenário de telecomunicações das áreas rurais do Peru:
Nuestra brecha de Infraestrutura Rural en Telecomunicaciones
Para encontrar a solução desse cenário – foi feita uma oração:
E as referências para prover serviços de telecomunicações foram encontradas:
Dos Referencias
As comunidades rurais contam hoje com serviços de telecomunicações:
O pequeno provedor tem investido em infra-estrutura de telecomunicação para suprir demandas como a da Embrapa e também devido à falta do compartilhamento das redes. Esses investimentos têm garantido precariamente o acesso aos conteúdos e serviços dos pequenos provedores.
É um caminho perigoso e de difícil volta. Estamos prestes a perder a diversidade e regionalização do conteúdo da Internet, pelas conseqüências geradas pelo monopólio na infra-estrutura.
Dois cenários foram apresentados, o primeiro ocasionado pela concentração de recursos de telecomunicações, e o segundo ocasionado pela falta da disponibilização de novos recursos de telecomunicações. Nos dois casos estamos diante de barreiras para o desenvolvimento socioeconômico e, seus reflexos são mais extensos do que imaginamos. Vejamos a principal vocação do pequeno provedor de Internet, que está se perdendo devido às barreiras imposta pela monopolização ou falta de infra-estrutura de telecomunicações.
O principal papel dos pequenos provedores de Internet e telecomunicações, antes de pensar na competição na última milha, pois ela efetivamente não acontece, é o trabalho de aplicar no mercado a tecnologia da informação e comunicação – Internet - nas localidades e nichos de mercado onde atuam, possibilitando criar condições favoráveis para o desenvolvimento socioeconômico.
Aplicar as inovações tecnológicas é tão importante quanto promover a inovação tecnológica propriamente dita, pois de nada valem inovações tecnológicas se elas não são aplicadas em sua plenitude e disponibilizadas rapidamente para o maior número de usuários. A história tem dado testemunhos nesse sentido. Por volta do ano 1.400, a China possuía, a pólvora, a imprensa, o ferro, o arado e a bússola, enquanto a Europa vivia o período medieval com seus habitantes plantando para sua própria subsistência. Fazendo um paralelo para reforçar a importância da aplicação da inovação tecnológica, podemos crer que faltou à China provocar a correta e ampla aplicação das tecnologias que detinha àquele tempo. A China deveria ter fomentado a aplicação das tecnologias que dominava, pois era sem dúvida, a maior potência mundial daquela época.
É importante ter claramente definido qual é a transformação que a inovação tecnológica acarreta na nova ordem econômica e social. Precisamos saber que transformação a inovação tecnológica está promovendo e, principalmente, como será feita a aplicação dessa inovação em sua plenitude, com rapidez, para o maior número de usuários. Somente dessa forma é que a inovação tecnológica proporcionará o desenvolvimento.
Segundo KRANZBERG [1], “A tecnologia não é boa, nem ruim e também não é neutra”, tal afirmação, reforça a importância da aplicação da tecnologia. Com efeito, é no contexto da aplicação da invenção contemporânea – a Internet - que o pequeno provedor de Internet e telecomunicações está inserido e vem desempenhando seu principal papel.
Uma vez que a Internet – inovação tecnológica - está consolidada no mundo, a diferença se dará no processo de aplicação dessa tecnologia na sociedade. A sociedade que melhor aplicá-la ganhará diferencial competitivo em relação às outras. Isto também se aplica às empresas, às escolas, aos governos e às pessoas. Aquele que melhor aplicar a Internet terá mais benefícios.
Não há dúvida que a maior transformação que a Internet permite é a redefinição das noções de espaço, tempo e simultaneidade. Essa redefinição deve ser aplicada plenamente no desempenho das tarefas cotidianas das empresas, das escolas e dos diversos atores sociais, de forma ampla, de sorte a atingir o maior número de usuários, proporcionando-se com isso alicerces sólidos para o desenvolvimento.
Não é possível imaginar um banco iniciar suas operações sem fazer uso da Internet, disponibilizando aos seus clientes o maior número possível de transações que possam ser feitas no escritório ou em casa. O banco pela Internet está promovendo diversas transformações significativas, como:
O banco pela Internet é um exemplo de aplicação da tecnologia que tem trazido enormes ganhos de competitividade. Tendo compreendido a aplicação da inovação tecnológica, os bancos se lançaram aos novos conceitos de redefinição de tempo, espaço e simultaneidade. Com efeito, de 1995 para cá os bancos reduziram consideravelmente o número de empregados por agência, não obstante terem aumentado o número de clientes.
A mesma questão se coloca para as pequenas empresas. É de se indagar se elas têm usufruído das novas tecnologias em sua plenitude, se estão se beneficiando no seu negócio desses conceitos, como os bancos fizeram. Infelizmente, a resposta em boa parte é negativa.
Isto porque uma pequena empresa, em geral, usa a Internet principalmente para acessar o serviço de seu banco e realizar suas movimentações bancárias. Quando perguntado ao dono da pequena empresa se a Internet lhe trazia benefícios, respondia que sim, pois não necessitava mais de ir até o banco para realizar várias operações, principalmente pagamentos. O mais interessante neste caso é que foi transferido para o cliente todo o investimento para acessar o banco pela Internet, desde o computador, passando pela conexão, até a impressora e papel, entre outros itens. Além disso, são os clientes que realizam parte dos trabalhos que antes eram realizados pelos caixas dos bancos, como a impressão do extrato da conta, por exemplo. Enfim, as empresas fazem investimentos para acessar o banco, mantém a conexão à Internet e executam o trabalho que antes era desempenhado pelo funcionário do banco, pagam a tarifa de manutenção de conta e ainda se sentem satisfeitas por realizar essas operações. Isto também ocorre com o cidadão comum.
Assim, o maior benefício da inovação tecnológica acaba sendo do banco, já que a pequena empresa não usa plenamente a tecnologia, à medida que não aplica os referidos conceitos ao seu negócio para melhorar sua competitividade.
A partir desse raciocino é fácil perceber que o principal papel do pequeno provedor de Internet e telecomunicações é aplicar a inovação tecnológica – Internet – na sua localidade, em seu nicho de mercado, atuando para as pequenas empresas dos mais variados segmentos da economia.
Aplicar plenamente a tecnologia vai muito além da conexão Banda Larga; é necessário criar redes, configurar roteadores, criar sistemas de comunicação, configurar e personalizar serviços de e-mail, criar websites, enfim desenvolver sistemas de comunicação para a melhoria da competitividade das pequenas empresas, a partir da inserção desses novos conceitos nos negócios dessas empresas, independentemente do setor em que atuem: metalúrgico, manufaturados, prestação de serviços, dentre outros.
Somente essa aproximação entre o pequeno provedor e a pequena empresa poderá produzir os benefícios da inovação tecnológica para esta, caso contrário, a inovação tecnológica se tornará mais um obstáculo a ser enfrentado pela pequena empresa.
Com efeito, a concentração do mercado de provedores retira do mercado da pequena empresa a possibilidade de acesso à aplicação da tecnologia, fazendo com que elas sejam meras usuárias, mas nunca aplicadoras (aplicação plena) da inovação tecnológica em seus negócios. Outra conseqüência nefasta da concentração é a eliminação do conteúdo regional, que tornará inviável a publicidade de uma pequena empresa, que não tem como arcar com os custos da mídia concentrada nos sítios de abrangência nacional, já que, em geral, estão capacitadas para atender apenas uma determinada área geográfica.
Não é desconhecida a importância da pequena empresa para o desenvolvimento econômico. Países como a Alemanha e a Itália, por exemplo, têm boa parte de suas exportações realizadas por pequenas empresas. O Brasil não pode manter-se alheio a esse cenário e não deve se iludir com os alegados, mas nunca provados, benefícios da concentração econômica para a sociedade. Ao contrário, a experiência de outros países está a demonstrar que a concorrência é a pedra angular da economia de mercado. Em geral, não é a concentração econômica que melhora a oferta e a qualidade dos produtos e serviços, mas sim a concorrência, sendo certo que em mercados de serviços que se caracterizam pela concentração ocorre, muitas vezes, uma significativa transferência de renda dos consumidores para as empresas.
A situação do banco e da pequena empresa, acima exemplificada, nos leva a refletir como será a aplicação da inovação tecnológica para a pequena empresa se a figura do pequeno provedor de Internet e telecomunicações desaparecer. Quanto tempo levará para as milhares de pequenas empresas brasileiras usufruírem a aplicação plena da inovação tecnológica, vale dizer, da utilização da Internet em seus negócios?
O certo é que um grande provedor nunca será onipresente, nunca estará aplicando a inovação tecnológica de forma plena e ampla em todos os segmentos. Não será um 0800 terceirizado que proporcionará à pequena empresa a plena aplicação da Internet nos negócios. Como, então, se poderia aplicar a inovação tecnológica – Internet - de forma plena, ampla e rápida ? Certamente estimulando a competição no setor e promovendo uma maior integração entre as grandes empresas do setor com o pequeno provedor. Isto sem contar o indispensável cumprimento das normas e princípios que se encontram na Constituição Federal, na Lei Geral de Telecomunicações, no Código de Defesa do Consumidor e na Lei de Defesa da Concorrência, pois a não obediência à legislação gera insegurança nas relações jurídicas e incerteza nos investimentos e na continuidade na prestação dos serviços pelo pequeno provedor.
Telecomunicações é insumo para qualquer atividade econômica, desde uma pequena propriedade rural até uma grande industria, os exemplos aqui citados demonstram que o agronegócio brasileiro – a força da nossa economia, e a pequena empresa – a grande empregadora, necessitam que sejam disponibilizados recursos e ou soluções em telecomunicações adequadas para atender suas reais necessidades, criando assim alicerce sólido para o desenvolvimento brasileiro. Esse foi o propósito da privatização, afinal, “Brasil um país de todos”.
[1] Melvin Kranzberg, (22/09/1917 a 06/12/1995) foi professor da história da tecnologia, doutorado em Haward, e é reconhecido como o historiador da tecnologia.
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Uma matéria que realmente reflete o momento histórico que vivemos, e que poderá fazer a transformação do Brasil no setor de telecomunicações. É preciso que o governo brasileiro faça cumprir a lei, as operadoras ou suas coligadas, não estão autorizadas em nenhum documento a prover a ultima milha, estas empresas não podem se transformar pelo simples fato de acharem que pode, serem provedores de internet.
Tenho uma curiosidade pessoal, sem resposta sobre o que acontece com a internet discada, as operadoras aplicam exatamente o que diz a LGT, fornece os meios de acesso e os provedores realizam os serviços de venda do conceito de internet, instalação de modens, autenticação e conteúdo, mas quando o assunto é banda larga, elas burlam a lei e o governo com o silêncio da ANATEL aprova esta prática. Porque esta diferença se os serviços são os mesmos ?
Parabéns ao Ricardo da ABRAPPIT pela matéria e a TELECO pela coragem de publicar um texto tão importante, mas que contraria muitos interesses.
Engenheiro Agrônomo, Chefe Geral da Embrapa Pecuária Sudeste.
Parabenizo pelo artigo, e seus esforços visando sensibilizar as autoridades quanto às dificuldades com comunicação na zona rural.
O artigo é oportuno, e lembramos que somente com seu auxílio e o apoio da Universidade Federal de São Carlos conseguimos implantar internet de alta conexão via RNP em 2006, na Embrapa Pecuária Sudeste.
Quanto à telefonia , ainda não conseguimos ter acesso ao DDR, apesar dos esforços dispendidos e através dos inúmeros contactos já realizados com a EMBRATEL, A falta de infraestrutura em telecomunição no campo, é prejudicial ao desenvolvimento do agronegócio em muitos aspectos, como informações em tempo real, acessos aos mercados nacionais e internacionais, etc.
Um abraço, e continue nesta luta, que muito contribuirá para possibilitar acesso à informação pelo homem do campo.
Vice Presidente Agroceres
O artigo do Ricardo Sanches não me surpreende, pois conheço o seu poder de argumentação e sei que é grande. Com certeza foi aqui na Agroceres, bem como na Embrapa, que ele percebeu mais claramente as dificuldades que o Agribusiness brasileiro enfrenta com problemas de comunicação.
A necessidade da de fato inclusão digital do pessoal de campo é uma necessidade urgente e séria. As dificuldades de alguém que tem base nada mais que 2 quilômetros da cidade para acessar a internet é incrível, a ginástica, engenharia e custos que as empresas que correspondem por 95% do superávit comercial do país passam é uma coisa absurda.
Pelo que se apresenta no artigo e pelas conversas que pessoas ligadas a área de telecomunicações soluções tecnológicas existem e nós as aguardamos ansiosamente.
Diretoria Técnico Comercial
O Ricardo está de parabéns, esta materia é realmente exclarecedora, pena que MINISTROS, ANATEL, PRESIDENTE DA REPÚBLICA... e outras autoridades não deem ouvidos.
A WKVE leva hoje links IPs a mais de 50 cidades no leste mineiro, tentando amenizar custos para os provedores locais. Investimos mais de dois milhões de reais em infra para que isto ocorra. Só que, continuamos sem visibilidade perante as autoridades e, o que é pior, a própia ANATEL não nos dá a mínima. Acho que fomos a sexta empresa a tirar a licença SCM e um dos poucos que tem a concessão da 3.5 Ghz em algumas áres de numeração.
Fizemos investimentos sem futuro... infelizmente. Espero que o Ricardo e outros mais continuem conoscco nesta luta.
Professor doutor do Departamento de Computação da UFSCar
Parabenizo ao Ricardo pela forma brilhante com que aborda neste artigo a questão da exclusão digital de quem vive foram dos grandes centros urbanos e sua relação com os pequenos provedores de telecomunicaçoes e internet e à TELECO pela oportunidade de sua publicação.
Ricardo é feliz quando coloca a questão da não regulamentação, ou necessidade de atualização desta para o momento atual onde as demandas têm nova natureza e onde existe espaço para pequenos provedores, e que a princípio não interessa às grandes operadoras mas, que é estratégico para o país.
A analogia com serviços bancários, onde hoje soms tarifados para trabalhar para os bancos (mina de ouro!), mostra claramente quem são os beneficiários da inovação tecnológica neste país. Cabe de fato ao governo um olhar mais amplo e mais patriótico a estas questões.
É notório que os grupos que mais faturam hoje no país são as multnacionais, em áreas estratégicas, em detrimento de nossas empresas.
Incluo neste contexto de inovação a participação das universidades como parceiras neste processo.
Considero o artigo um importante ponto de discussão e quem sabe um referencial para uma mudança estratégica no país, tanto na área das telecomunicações e internet quanto em outras áreas onde a inovação se apresenta como fator determinante de progresso.
GSA - Tecnologia e Sistemas
Sobre a exclusão digital! É impressionante que num país com tanto potencial como o nosso ainda existam cláusulas de barreiras políticas acertadas entre quatro paredes e à meia luz e que beneficiam apenas os grandes grupos e alguns políticos em detrimento das pessoas e empresas que trabalham e que realmente desenvolvem esse país.
A questão da exclusão digital no meio rural, onde atuamos e onde está o nosso cliente, tem inviabilizado inúmeros negócios da nossa empresa, pois muitas vezes não podemos atender a demanda existente, não por falta de capital, nem por falta de vontade e muito menos por falta de determinação de determinação, mas sim por falta de infra-estrutura de comunicação.
A nossa empresa poderia realmente estar contratando mais pessoas e investindo muito mais se o governo tomasse algumas medidas simples no sentido de liberar o uso de tecnologias já existentes para esse fim.
É triste pensar assim, mas tudo indica que grandes lobs não querem o desenvolvimento desse setor, sem antes estarem preparados para explorá-lo predatoriamente.
Mas uma luz no fim do túnel surge quando empresas com a SAP e outras grandes do setor, começam a enxergar e focar no agronegócio nacional. Quem sabe agora os cachorros grandes se entendam?
Vamos continuar lutando!
Professor UFSCar
Oportuno e pertinente o artigo. Qualquer esforço no sentido ampliar a hoje tímida competição que existe em vários segmentos das telecomunicações é muito bem vindo. Isso terá reflexos na cidadania pela inclusão digital, e no ambiente dos negócios, dado ser o uso da internet fator cada vez mais crítico para a inserção competitiva global de nossas empresas em qualquer setor do agronegócio, da indústria, ou dos serviços.
Deputado Federal Lobbe Neto
Parabenizo Ricardo Sanchez pelo artigo, em primeiro lugar, pela clareza na descrição das dificuldades enfrentadas pelos pequenos provedores da Internet no Brasil, mas também pela determinação em buscar que as reivindicações do setor ganhem espaço e voz.
New York City
Mr. Sanchez could not be more correct. I have worked in Brazil as a Telecom Engineer and consultant for the last six years so I am well aware of the need for telecom services and access in rural areas.
In addition, I cannot understand why, and am very dissapointed that the Brazilian telecom regulatory environment has not changed to allow for competition in this sector, as well as, the introduction of new technologies such as WIMAX.
It is time to get off the horse and do what's right for the country!!!
"Ponto de vista interessante!" Mas... Ah! se não fossem os lobbys poliqueiros!!! Ah! se a vontade do mais forte não prevalecesse!!! Ah! se houvesse vontade e eficácia política!!!
Parabéns Ricardo, a exemplo seu, esses pequenos provedores Brasil afora, enfrentam dificuldades mas, apontam caminhos, são criativos, e tb corajosos... É preciso permitir que o desenvolvimento seja impulsionado por um "distribuir" e não por um "concentrar".
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