14/05/07

Em Debate Especial: 3G

 

 

 

3ª Geração
O caminho para a universalização das comunicações móveis no Brasil

 

 

Roberto Oliveira de Lima

Presidente da Vivo

 

A telefonia celular apresentou grande evolução nas últimas duas décadas. O Brasil deu um salto fantástico, passando de pouco mais de 800 mil terminais, no final de 1994, para mais de 102 milhões de aparelhos, em março de 2007, segundo dados da Anatel.

 

São números que confirmam a marcha acelerada da universalização dos serviços de comunicação móvel no país e comprovam que essa indústria conseguiu realizar a maior façanha desde a privatização das telecomunicações: incluir o cidadão brasileiro na era digital e colocá-lo no mundo da tecnologia da informação e do conhecimento, viabilizando o acesso a todos os setores – comunicação, educação, saúde, segurança, entre outros.

 

No início dos anos 90, o celular era um artigo de luxo, que dava status ao seu portador. Pouco mais de 15 anos depois, o telefone móvel está massificado em todo o país, com aplicações que vão do uso profissional ao lazer. Integram-se à telefonia celular os mais diversos tipos de clientes como o pescador do Mato Grosso, o fazendeiro do Rio Grande do Sul e o povo indígena do Amazonas.

 

O celular alterou a forma de se comunicar ao criar novos comportamentos. Poucas atividades podem se equiparar ao trabalho realizado pela telefonia celular no âmbito da inclusão social. Foi o telefone móvel que, de fato, cumpriu a função de levar as comunicações a todas as camadas da população, transformando-se num poderoso instrumento de inclusão das parcelas mais carentes da sociedade.

 

Dependendo de onde a pessoa mora, o celular é o principal elo com a comunidade, pois ela passa a ter um “endereço”, podendo ser encontrada a qualquer momento.

 

Inúmeras profissões ganharam uma nova dimensão a partir do uso do telefone móvel. Ao adquirir um aparelho, o eletricista, encanador ou motorista de táxi, entre centenas de atividades, obtiveram um ganho real de escala, na medida em que esses profissionais podem ser contatados facilmente, ampliando sua base de clientes e, por conseqüência, sua renda.

 

Novo Desafio: 3G

 

A Vivo tem um papel relevante no avanço das telecomunicações móveis em direção à Terceira Geração. A partir da implantação da rede EV-DO da Vivo, em outubro de 2004, criou-se a possibilidade de oferecer ao mercado brasileiro a banda larga móvel e consequentemente conteúdos multimídia, como transmissão de TV aberta em tempo real, vídeos desenvolvidos no formato do celular, músicas, acesso a internet e serviços de localização e navegação muito mais eficientes.

 

As redes 3G são uma realidade na Europa, Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão, tendo alcançado, no fim de 2006, mais de 150 milhões de terminais. Os aparelhos de Terceira Geração também caminharam para preços mais baixos, devendo ficar a níveis inferiores a US$ 100, na medida em que aumenta a escala mundial e o leque de fornecedores.

 

O debate sobre a Terceira Geração só tende a aumentar, uma vez que o Governo Federal sinaliza a intenção de promover em breve o leilão de novas licenças de 3G, na faixa de freqüência em 1,9 MHz.

 

A questão chave que se coloca é sobre o modelo de negócio que será apresentado à iniciativa privada pela agência reguladora. O governo brasileiro deve estabelecer como premissa que a Terceira Geração é muito mais do que uma simples atualização tecnológica.

 

A 3G deve ser tratada como uma política de Estado, pois se implantada corretamente possibilitará um novo salto de qualidade nas comunicações e proporcionará novas oportunidades em termos de desenvolvimento econômico ao País e acesso de novas camadas sociais a serviços essenciais, como educação e saúde.

 

Um fator importante a ser considerado é que, ao mesmo tempo em que a telefonia móvel expandiu a taxas elevadas nos últimos anos, o mercado está longe de ter atingido uma escala que permita ao setor trabalhar com uma rentabilidade razoável, suficiente para financiar seu desenvolvimento contínuo e evolução tecnológica.

 

Temos hoje mais de 102 milhões de celulares e uma densidade de apenas 54,2%, muito inferior aos 89% de taxa de penetração dos países desenvolvidos. Com o agravante de que 60% dos usuários do sistema são de baixa renda, o que explica que mais de 80% dos usuários utilizam aparelhos pré-pagos, gerando uma receita mensal média pouco expressiva.

 

Assim, temos de encontrar uma fórmula que possibilite fechar a seguinte equação: manter o crescimento da telefonia celular nos próximos anos, com a entrada da Terceira Geração e a conseqüente oferta de produtos e serviços multimídias em alta velocidade de transmissão. Não apenas para as faixas de consumidores de alta renda, mas capaz também de incluir neste processo as demais classes sociais da população brasileira.

 

Esse é o desafio que os agentes participantes dessa indústria têm de enfrentar: aproveitar o ciclo da 3G para promover a universalização do serviço no país. Não podemos esquecer que 45% dos municípios brasileiros ainda não contam com cobertura dos serviços de telefonia celular – na maioria dos casos porque a relação investimento - retorno financeiro é negativa para as operadoras.

 

Neste contexto, a Vivo foi pioneira ao apresentar proposta de compartilhamento de infra-estrutura. A idéia seria criar uma empresa para administrar as redes compartilhadas, cujos acionistas seriam as próprias operadoras. Além da evidente redução dos custos, essa solução possibilitaria que as operadoras tivessem condições de investir e levar comunicação móvel aos 15% da população brasileira que vive nas áreas sem cobertura.

 

Não apenas estaríamos abrindo um novo front para os nossos negócios, mas também levando a mais pessoas os benefícios do celular em termos de comunicação e de inclusão sócio-econômica, além de todos os benefícios relacionados ao meio ambiente.

 

Essa sugestão deveria ser mais amplamente discutida e aperfeiçoada, pois poderia ser uma alternativa viável a ser incorporada no processo de licitação das faixas de 3G, realizado pela Anatel.

 

A Terceira Geração poderá revolucionar o sistema educacional brasileiro e, consequentemente, acelerar o processo de inclusão digital no país. O celular 3G permite, por exemplo, o acesso à Internet em banda larga, criando condições para que todas as camadas da população - especialmente os jovens – utilizem programas como e-learning e teleducação, para melhorar sua formação.

 

Sabemos que o principal fator para reduzir a distância entre a participação brasileira no PIB mundial (10º) e nossa classificação no Índice de Desenvolvimento Humano (69º) é a educação. Em áreas de baixa densidade populacional, o ensino tradicional, com um professor e vários alunos é inviável. Somente novas tecnologias darão as condições de acesso ao ensino às populações isoladas.

 

Nesse ponto, a telefonia móvel em 3G abre inúmeras possibilidades, já no curto prazo, de favorecimento tecnológico para dinamizar a relação entre professores e alunos. No longo prazo, e com medidas efetivas de universalização, pode ser protagonista em provocar a tão necessária revolução na educação brasileira.

 

Sem dúvida, a Terceira Geração abre um mundo novo de idéias e aplicações. Não apenas no campo da educação, mas em muitos outros, como a saúde, onde permitirá a transmissão de exames médicos, radiografias e ressonâncias magnéticas a altas velocidades, acelerando diagnósticos e contribuindo efetivamente para que vidas sejam salvas.

 

Sem falar nas mudanças de hábitos que a 3G representará no dia-a-dia, criando novas atividades profissionais, além de viabilizar o direito das pessoas desenvolverem atividades quando em deslocamento e distante dos grandes centros urbanos, já que elas estarão conectadas via celular, em Internet banda larga. Por tudo o que representa a Terceira Geração é que temos a obrigação de aprofundar o debate sobre o modelo a ser implantado no Brasil.

 

 

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