02/06/2020

Em Debate

 

 

 

A urgente necessidade do Planejamento Estratégico

 

Ronaldo Sá

Engenheiro, professor, ex-presidente da Telebrás e consultor sênior

 

No momento em que vivenciamos as consequências de uma pandemia que atinge de forma indiscriminada toda a população mundial, creio que chegou a hora de aproveitarmos esta triste experiência para nos tornarmos mais fortes. A enorme corrida para obter equipamentos, produtos e insumos, a ausência de estruturas de produção verticalizadas em quase todos os países e a falta de atuação eficaz dos organismos multilaterais propiciaram o surgimento de ações de rapinagem, onde países usaram e abusaram de algum de seus atributos para leiloar produtos médicos e até sequestra-los quando em trânsito. A conclusão é que pouquíssimos países estavam preparados para enfrentar a crise.

 

A situação que o Brasil está passando demonstra claramente a necessidade do Planejamento Estratégico e a falta que ele nos fez. Com a única finalidade de simplificar e unificar a compreensão do processo, o Planejamento Estratégico consiste na elaboração e na contínua atualização de um plano que deixe claro as ações que (pessoas, empresas ou países) devem tomar no presente para garantir suas sobrevivências no futuro.

 

O gradativo crescimento do processo de globalização criou modelos de produção mundial onde as empresas, mesmo aquelas que não fazem parte de cadeias produtivas globais, passassem a buscar produtos, partes e peças e insumos em fornecedores que oferecessem as melhores condições de preço e financiamento, com o objetivo de tornar seus produtos nacionais competitivos nos mercados doméstico e internacional.

 

Tal procedimento faz todo o sentido sob os aspectos econômico e de comércio internacional, mas deixa o fabricante sem opções num momento de crise. Decorre daí a urgente necessidade de Planejar Estrategicamente para minimizar os indesejáveis mas previsíveis impactos na cadeia produtiva nacional em um momento de carência global de qualquer insumo. Tenho certeza que o Brasil dispõe de um poderoso e diversificado parque industrial e de excelentes especialistas para conduzir tão importante e necessária missão. Sem nenhuma intenção de esgotar o assunto e tendo em vista a necessidade de iniciar o debate, vou propor um princípio que julgo fundamental para o início do processo: adquirir no exterior partes e peças, produtos e insumos para a produção nacional deve ser uma decisão comercial dentro do processo produtivo mas, ter condições para produzi-los localmente em um momento de crise, é uma decisão estratégica.

 

O plano deve abranger todas as áreas julgadas indispensáveis para a sobrevivência do país e, a partir dessa escolha, elaborar a relação de produtos que são essenciais para garantir o mínimo funcionamento da área escolhida. O primeiro segmento estratégico a ser escolhido pode ser o do agronegócio, pois o Brasil é um dos maiores e tem tudo para ser o maior produtor de alimentos do mundo.

 

A pergunta que dá início ao trabalho é: do que precisamos dispor, no mínimo, para continuarmos produzindo em um momento de grave crise? As máquinas agrícolas, por exemplo, devem manter suas condições técnicas e operacionais para continuarem prestando serviço. Assim todos os componentes dessas máquinas devem estar completamente identificados, especificados e detalhados para permitir um emergencial suprimento pelos produtores nacionais em caso de desabastecimento no mercado mundial. A ação complementar deve ser a busca de fabricantes nacionais que tenham a capacidade produtiva para o insumo necessário, sendo que os executores das ações previstas no Plano Estratégico devem estar alertas ao eventual desconhecimento das próprias indústrias já instaladas sobre sua real capacidade de suprir alguma demanda de outros setores com seu maquinário e processos existentes.

 

O plano deve prosseguir englobando as demais necessidades do setor agropecuário, tais como adubos, produtos veterinários, defensivos, armazenamento e outros. Em decorrência da necessidade de se efetuar a avaliação da capacidade dos produtores nacionais em fabricar os equipamentos, partes e peças e produzir os insumos necessários ao atendimento das demandas estratégicas poderemos aproveitar a oportunidade para expandir e fortalecer a produção da indústria nacional, ampliando a sua participação no PIB. O produto que não fosse passível de produção nacional deveria passar por uma avaliação da necessidade de se estimular a criação de nova indústria ou, em último caso, dimensionar eventuais estoques estratégicos. "Just in time" e outros processos produtivos com baixo estoque terão que sofrer profunda reavaliação.

 

A elaboração do plano terá que abranger todos os outros setores julgados fundamentais para a manutenção do funcionamento, mesmo que precária, de nosso país em momento de crise aguda. O Plano deverá incluir como estratégicos os setores de transporte, energia, comunicações, tecnologia digital, saúde, segurança pública e defesa nacional, dentre outros. Para reforçar a urgência na elaboração e aplicação do Planejamento Estratégico quero lembrar que os sinais emitidos pelos países mais afetados pela crise indicam que a globalização sofrerá um forte baque e o protecionismo voltará a ter forte protagonismo mundial. Espero que os especialistas na área de Planejamento Estratégico aceitem a forma simplificada que adotei, mas o objetivo do artigo é chamar a atenção dos órgãos da administração pública e do setor privado, especialmente as federações de indústria, para a necessidade do urgente início do processo e na execução do imenso trabalho que dele vai decorrer.

 

Por fim quero lembrar que apenas um País no mundo estava preparado para a crise: ele foi se tornando, ao longo do tempo e de maneira estratégica, o indispensável produtor de insumos, equipamentos, partes e peças para quase todos os segmentos das necessidades humanas. Hoje faz uso desse poder.

 

 

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