19/12/05

Em Debate

 

 

 

A Internet dos Zeros

 

 

Yon Moreira

 

yon@intecst.com.br

 

 

 

A Riqueza da Internet "Popular" - Atrás dos bastidores

 

Dia 13 de dezembro é o dia da internet grátis.

 

Feito para comemorar a democratização da informação e a forte realização de receitas.

 

Aos números: dos mais de vinte milhões de internautas, cerca de dois terços deles são usuários de internet grátis.

 

A geração de tráfego discado está na ordem de sessenta bilhões de minutos por ano, configurando-se como o maior gap-filler da inexorável migração do tráfego fixo para o móvel.

 

A internet grátis gera mais minutos que toda a base de celulares em serviço no Brasil.

 

Milhares de sítios surgiram face ao interesse, telecentros proliferam, office e moto boys usam como ferramenta de trabalho.

 

A velocidade da internet nos permite escrever a história dos bastidores que ajudou a colocar o Brasil na vanguarda.

 

Em meados de 1999, a Telefonica decidiu implantar uma nova rede IP, nativa para acesso a internet. Sua oferta foi ampla, junto aos maiores provedores e a associações de classe, inlcuindo a Abranet.

 

O modelo de negócio de aluguel de portas (que perdura até hoje) que aliado ao conceito de datacenters, desobrigava os provedores a fazer fortes investimentos, eliminando barreiras de entrada de capital e de tecnologia.

 

Apesar disso, mesmo sendo uma boa oferta, ocorreu antes do tempo, que demorou para quebrar paradigmas de habitualidade do modus operandi dos provedores já existentes.

 

Vendo o mico na mão, a alternativa foi oferecer a rede IP para que organizações pudessem estreitar o relacionamento com seus clientes.

 

Três dos maiores bancos demonstraram razoável interesse, porém sem muito entusiasmo.

 

Numa conversa com o Odécio Grégio do Bradesco, amigo e citado no livro do Bill Gates, veio a sugestão: Odécio, por que você não oferece acesso grátis aos seus clientes?

 

Resposta imediata: em quanto tempo? Com a rede pronta, em uma semana.

 

Começava o furacão.

 

Manuel Garcia, Presidente da Telesp, homem de poucas palavras, muita ação e de palavra empenhada, perguntou: O que vai acontecer ? Respondi : vai ser um follón, mas vai dar muito retorno.

 

Bateu nos braços e me deu luz verde: adelante.

 

O anúncio (o único) feito em conjunto entre a Telefonica e o Bradesco, de página única, foi o gatilho.

 

As ações do banco subiram mais de cinco por cento em um único dia.

 

As reações vieram fortes em todos os sentidos.

 

Na mesma noite do anúncio, recebi na minha casa para jantar juntamente com minha esposa (que entende mais de telecom que eu.) executivos dos maiores provedores para discutir o tema. A profecia deles era de apocalipse, a minha era de que a maré levanta todos os barcos.

 

O Presidente institucional da Telefonica me chamou com um colega de trabalho e o veredito foi simples: ou consertam esta m. ou estão na rua amanhã.

 

Dividimos esforços. Odécio embarcou Marcos Wettreich para ajudá-lo.

 

Mitsuo Shibata foi para a Anatel e o Cade e proferiu uma aula magna de rede IP para uma platéia de alunos, que incluía técnicos da agência e executivos da concorrência, o quer mostra que a novação pegou de surpresa a sociedade como um todo.

 

O castigo continuou entre o Natal e Ano Novo, quando minha tarefa foi de me reunir com os associados da Abranet, no salão nobre da Fiesp para me intimidar (onde voltei como diretor alguns anos depois).

 

Enquanto o plenário era animado pela diretoria da Abranet, eu esperava em uma sala contígua, onde encontrei duas pessoas desconhecidas. Conversador, perguntei o motivo da presença e me disseram: Estamos aqui para adquirir portas para um provedor grátis. Alertei que o ambiente não era dos melhores, e expliquei que havia uma alternativa: a tal da rede IP.

 

Entraram antes de mim, e depois de uma chuva de moedas que receberam como apupo da platéia dos donos de provedores de internet que cobravam cerca de US$15 por vinte horas de acesso, decidiram sair antes da coisa ficar pior. Marcamos reunião para o período da tarde, entre Natal e Ano Novo.

 

O plano deles era audacioso, e após perguntar quando poderiamos entregar as primeiras portas, a data que me veio à cabeça foi o dia 9 de janeiro. Aniversário da minha filha. O iG nasceu neste dia.

 

Com um plano de fomento, assinei um contrato que parte da receita de tráfego (modelo que perdura para todos os provedores, pagos e grátis até hoje) era repassado aos provedores. De novo, o pioneirismo foi visto com reservas e mais uma vez, emprego em jogo!

 

A base de clientes discados alimenta o crescimento da banda larga, num fluxo mensal na ordem de cerca de cem mil novos clientes a cada mês. Estimativas mostram que tráfego discado representa cerca de dez por cento de todo tráfego local das operadoras.

 

Estes números colocam o país em um protagonismo internacional, permitindo que nossas colaborações em fóruns como ICANN, WSIS dentre outros sejam do mesmo patamar de países cujos índices de desenvolvimento estão à nossa frente.

 

Uma quantidade imensa de iniciativas empresariais, governamentais, pessoais, da sociedade civil encontraram guarida nesta enorme massa de conectados, permitindo um círculo que realimenta a maneira mais democrática existente de fazer negócios, amigos e de relacionamento do Estado com o cidadão/contribuinte.

 

Ainda em fase embrionária, a internet para serviços móveis limita a liberdade de atuação dos parceiros e inibe a criação de valor para todos, devido ao modelo verticalizado de fazer tudo dentro de casa, num claro contraponto entre arquitetura de negócios aberto (operadoras fixas) e fechada.

 

Fica mais uma vez a comprovação de que a maré levantou todos os barcos - gerando riqueza para as operadoras, dando oportunidade para incluir mais de dez milhões de novos internautas e permitindo a sociedade fazer negócios e amigos.

 

 

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