Desagregação de Rede: o que é e quais seus benefícios

Por Luiz Spera do CPQD

 

Recentes avanços tecnológicos no setor de telecomunicações têm trazido novos paradigmas na implementação de redes, e um exemplo é o das redes desagregadas. Embora o conceito não seja necessariamente novo, pois já era explorado no início do desenvolvimento da redes definidas por software (SDN), o tema ganhou grande importância nos últimos anos, especialmente com o apoio de grandes operadoras e fabricantes que trabalham em comunidades abertas para o fomento da inovação, padronização e diversificação de fornecedores para estas redes.  

 

Quando falamos em redes desagregadas e seus benefícios é importante contextualizar do que se trata esta desagregação.  Em termos básicos, estamos nos referindo à desagregação vertical quando há uma separação, sem perda da interoperabilidade, entre SW e HW, mesmo que sejam componentes de diferentes fornecedores. Já a desagregação horizontal pode ser compreendida como a separação de funções monolíticas em subsistemas menores, desde que haja interoperabilidade entre as componentes dos diferentes fornecedores.

 

Implantar e operar um sistema com uma infraestrutura de rede eficiente, escalável e, principalmente, automatizada, é o grande desafio dos provedores de serviços de telecomunicações atualmente.

 

Para estar pronto a oferecer serviços com alta confiabilidade, agilidade, implantação célere, que viabilizam novos serviços, tanto economicamente quanto tecnicamente, os provedores deverão versar em uma combinação de diversas tecnologias, arquiteturas e desenvolvimentos, tais como: redes definidas por software (SDN), virtualização/containerização de funções de rede (NFV/CNF), computação em nuvem e na borda , automação, orquestração, além da desagregação das redes.


Apesar da complexidade de todas estas tendências, é consenso que a viabilização de novos serviços no novo ambiente de rede (em especial com o 5G) abrirá novas oportunidades de modelos de negócios e receitas, demandando das operadoras e dos fornecedores estratégias que permeiam todos estes componentes.


Um ponto positivo na evolução recente destes ecossistemas é o surgimento de um grande número de novos fornecedores e/ou especialização de fornecedores, tanto em hardware como em software, trazendo uma maior competitividade para o setor. Entretanto, devemos ficar atento aos desafios que temos na padronização de interfaces, definição de API’s e KPI’s de desempenho, que serão insumos importantes para se atingir os ganhos esperados, e para habilitar possibilidades de adoção de metodologias como Devops, com foco em processos automatizados para habilitar Integração Continua e Entrega Contínua (Continuous Integration/Continuous Delivery).


E mesmo que a estratégia em curto prazo de um operador não englobe diretamente o 5G, as redes cresceram a uma taxa anual superior a 20% com as mudanças nos padrões de uso, aumentadas devido à pandemia do COVID-19. Com isso, os provedores de serviços precisam fazer grandes investimentos para dimensionar suas redes em apoio à crescente demanda por capacidade, apesar de sua receita por usuário muita das vezes não vir acompanhada de um significativo crescimento. Assim, todos estes componentes deverão ser considerados para minimizar custos operacionais e aumentar a flexibilização da rede.


Com relação às arquiteturas de redes abertas e desagregadas, alguns provedores de serviço de maior porte já começaram a se movimentar e estudam a adesão em maior grau da desagregação das redes FTTH/Broadband, DWDM e mais recentemente RAN. É importante considerar na avaliação do uso de redes abertas, os custos da estrutura operacional, o gerenciamento e as integrações necessárias para se obter os ganhos desta estratégia, no entanto,  se vislumbra reduções significativas de OPEX e CAPEX trazendo uma operação mais efetiva da rede e seus serviços.


Em uma pesquisa recente, foi levantado como um ponto de grande preocupação para implantação efetiva das redes abertas, a necessidade de expertise interna das empresas ou de integradores para realização destas atividades.


O CPQD vem atuando dentro do contexto de Redes Abertas, especialmente em OpenRAN, DWDM e FTTH, em  diversas iniciativas. Atualmente é um dos laboratórios da comunidade global Telecom Infra Project  com objetivo de acelerar o ritmo da inovação no setor de telecomunicações,  com um portfólio de soluções implantadas nas operadoras de Telecom e potencializando suas soluções em iniciativas de integração das plataformas do CPQD, como a Suite OSS, Inteligência Artificial e Blockchain.

 

Podemos também destacar um caso prático, o projeto Open Optical & Packet Transport (OOPT), onde foram demonstrados os resultados dos testes feitos com os equipamentos Cassini e DCSG em um setup de comunicação óptica em até 2000km de distância a 100 Gbps dentro do community Lab do CPQD. Setups como o do OpenRAN que já operam no CPQD desde 2019, e novos projetos como Open WiFi e Open Core estão programados para operação ao longo do ano de 2021, permitindo que operadoras e provedores de Internet possam conhecer na prática as características destas redes.