| EGP II:
Planejamento e Execução do Projeto para Implantação
do EGP |
Uma vez que a implantação
de um Escritório de Projeto procura ser um veículo
de mudança organizacional, deve-se estabelecer
as condições para que esta mudança
ocorra de forma bem sucedida.
Englund et al. (2003) dividem a
jornada de implantação em três
etapas. Na primeira etapa, há um descongelamento
da situação atual, ou seja, são
criadas as condições para a mudança.
A etapa seguinte consiste da mudança em si,
ou seja, os agentes de mudança implementam a
mudança. A terceira e última etapa é a
do "recongelamento" da nova situação,
onde é necessário estabelecer a motivação
para que a situação pós-mudança
seja a nova realidade.
A primeira etapa pode ser entendida
como uma etapa de planejamento e é crítica
para o sucesso do projeto. Englund et al. (2003) propõem
os passos a serem percorridos pelos agentes da mudança
nesta primeira etapa:
- Estabelecer, junto aos membros
da organização, a importância
da mudança e a razão pela qual deve
ocorrer nesse momento. Há diversas maneiras
de estabelecer este senso de urgência, como
a apresentação das taxas de insucesso
em projetos ou a comparação das práticas
da organização às práticas
de outras empresas ( benchmarking ). Outra
maneira de justificar esta mudança está em
mostrar o valor adicionado à organização
com a implantação.
- Determinar quais grupos podem
resistir à implementação do
EGP e mostrar como podem se beneficiar com a implementação.
- Desenvolver coalizões
com membros da empresa, bem como um patrocinador
poderoso.
- Estabelecer a visão do
futuro da organização e a estratégia
do Escritório de Gerenciamento de Projetos
para atingir essa visão. Muitos Escritórios
de Gerenciamento de Projetos iniciam desenvolvendo
práticas de gerenciamento de projetos para
a organização.
- Elaborar o plano de implantação
e comunicá-lo à organização.
Concepção do Projeto
A Fase de Concepção
deve identificar o patrocinador do Projeto, assim como
os principais facilitadores, o que depende da área
onde a iniciativa de implantação do EGP
originou. Cabe ressaltar que o nível do organograma
onde será implantado o EGP é fator crítico
de sucesso, pois, caso esteja em um nível muito
baixo, a tendência é que fique focado
no micro-gerenciamento dos projetos, perdendo abrangência
e poder de atuação.
Por outro lado, se
estiver no mais alto nível organizacional, fica
muito distante da realidade dos projetos e com dificuldade
de atuar nos projetos. Desta forma, o ideal é começar
em um nível intermediário e, conforme
a iniciativa se tornar sustentável, expandi-la
aos demais níveis de forma integrada.
O Projeto de Implantação
do EGP deve ser o primeiro projeto a utilizar a metodologia
proposta, mesmo que ainda em elaboração,
garantindo o formalismo necessário ao projeto,
além de funcionar como validador.
O primeiro documento a ser elaborado é o "Project
Charter" do projeto, cuja função principal é reconhecer
a existência do projeto. Assim, deve conter as
seguintes informações:
- Título do Projeto;
- Designação do
Gerente do Projeto e de suas responsabilidades e
autoridades;
- Descrição do produto
do projeto;
- Estimativa de custo e prazo;
- Recursos necessários
na fase inicial;
- Necessidade de suporte pela
organização;
- Assinatura do executivo responsável
pelo documento.
Outro documento a ser emitido na
Fase de Concepção é a Declaração
de Escopo, que visa registrar os trabalhos que serão
desenvolvidos no projeto. Segundo VARGAS (2003), o
documento geralmente contém:
- Título do Projeto;
- Identificação
do Patrocinador;
- Designação do
Gerente do Projeto e de suas responsabilidades e
autoridades;
- Definição da equipe
do projeto;
- Descrição do projeto;
- Definição clara
dos objetivos do projeto, como por exemplo:
- Criar uma metodologia Básica de Gerenciamento
de Projetos;
- Criar um modelo para o EGP;
- Implantar
uma ferramenta básica
para a gestão dos projetos;
- Implantar o modelo de EGP;
- Divulgar o modelo de EGP, incluindo
a metodologia de gerenciamento de projetos,
para os principais stakeholders;
- Preparar o EGP para realizar
a gestão dos projetos, fornecendo
suporte aos gerentes de projeto e informações
para tomada de decisão pelos
níveis
organizacionais superiores, subsidiando
os Gerentes de Projeto a garantir que
os projetos sejam realizados dentro
do prazo, orçamento
e atinjam os objetivos propostos.
- Descrição do(s)
produto(s) do projeto, como por exemplo:
- Modelo de funcionamento para
o EGP, incluindo funções, estrutura
organizacional, papéis e responsabilidades,
processos internos, interfaces externas e definição
de rotinas para entrada em funcionamento;
- Abrangência
do EGP (quais projetos farão parte do
portfólio
do EGP);
- Metodologia de gerenciamento
de projetos;
- Site para divulgação
da metodologia e do Modelo do EGP;
- Escritório em si (espaço
físico, equipe, atividades de
rotina, treinamento e definição
do portfólio
de projetos);
- Rotinas estabelecidas para o
EGP.
- Justificativa do projeto;
- Expectativa do cliente/patrocinador;
- Fatores de sucesso do projeto;
- Formalização das
premissas e restrições assumidas para
o projeto:
- Itens que não estão
no escopo do projeto;
- Principais atividades e deliverables do
projeto, com plano de entregas;
- Orçamento do projeto
(baseline do Budget);
- Definição dos
Critérios de Aceitação do Projeto:
deve ser identificado, na Fase de Concepção,
quem será o responsável por dar o "aceite" no
modelo proposto, incluindo a metodologia de gerenciamento
de projetos.
Planejamento e Execução
do Projeto
Para ilustrar o projeto de implementação
de um Escritório de Gerenciamento de Projetos
(EGP), tomou-se como referência o exemplo proposto
por VARGAS (2003), onde sugere a divisão do
escopo do projeto nas seguintes fases, conforme a seguir:
- Diagnóstico:
verificação
da abrangência do EGP;
- Software:
fornecimento das licenças
de software necessárias ao funcionamento do
EGP;
- Hardware:
fornecimento de microcomputadores e servidores
necessários
ao funcionamento do EGP;
- Treinamento:
sobre software e metodologia de gerenciamento de
projetos;
- Padronização:
desenvolvimento dos processos e ferramentas do EGP;
- EGP Piloto: implantação
inicial de um EGP para análises e correções
necessárias;
- Resultados:
análise dos resultados
e fechamento do projeto do EGP, entregando o produto
do projeto (o próprio EGP) para a operação.
Na figura 1 é apresentada
uma sugestão
de cronograma macro, com duração de
aproximadamente 6 meses, considerando que algumas fases
possam ser planejadas e executadas em paralelo. A figura
apresenta destaques até o segundo nível
do WBS (Work Breakdown Structure).
As atividades e fases de maior
esforço normalmente
são as relacionadas à Padronização,
uma vez que incluem a definição da metodologia
e a identificação e implementação
das customizações nas ferramentas escolhidas.
Estas atividades geralmente garantem a consistência
do EGP.
|
Figura
1: Cronograma macro do Projeto de Implantação.
Fonte: VARGAS (2003). |
Aqui neste tutorial será feito
o detalhamento de algumas das sete etapas apresentadas
no cronograma de implantação do EGP.
Ficaram de fora o detalhamento das etapas de definição
da infra-estrutura de SW e HW, assim como do treinamento
de pessoal.
Fase 1: Diagnóstico
Nesta etapa, através de um comitê responsável, é proposto
o portfólio de projetos do EGP.
Cabe ressaltar que o EGP deve
começar com um
portfólio restrito, se tornando mais abrangente
após a maturação do EGP e aceitação
total pela organização. Para facilitar
este processo, indicamos que seja definido, para a
etapa piloto, um portfólio ainda mais restrito.
Entretanto, é importante escolher projetos que
sejam importantes para a organização,
pois isto garante maior comprometimento do EGP com
os objetivos da companhia, facilitando sua sedimentação.
Caso Real:
Dentro do portfólio, os projetos podem ser agrupados
sob duas dimensões. A primeira sob a perspectiva
de coordenação e liderança,
baseada na distribuição dos projetos
de acordo com estrutura organizacional (figura 2).
A segunda dimensão pode ser baseada nas características
técnicas e de negócio de cada projeto
(figura 3).
 |
Figura
2: Programas agrupados com base na estrutura
de coordenação. |
 |
Figura
3: Programas agrupados com base nas características
de negócio e técnicas. |
Fase 5: Padronização
Esta etapa consiste na definição dos
métodos, técnicas, ferramentas e na organização
interna do EGP. Algumas atividades importantes a serem
executadas encontram-se descritas a seguir:
- Desenvolvimento de processos e procedimentos
de gestão dos projetos - Metodologia de Gerenciamento
de Projetos;
- Definição
da estrutura organizacional do EGP;
- Definição de procedimentos
de comunicação a serem adotados durante
a Fase de Execução do EGP.
- Na definição da metodologia, desde o
início deve ser obedecida a diretriz de mantê-la
simples. A proposta deve ser bem resumida, de forma
a implantar somente os principais métodos
de gerenciamento.
Desta forma, também deve ser estabelecido o
escopo da metodologia a ser desenvolvida, limitando-a às
disciplinas de gerenciamento de projetos com maior
retorno à empresa, como por exemplo:
- Gerenciamento
de Riscos;
- Gerenciamento
de Cronogramas;
- Gerenciamento
de Objetivos / Escopo;
- Gerenciamento
de Custos;
- Gerenciamento de Comunicação.
Eventualmente, apoiando-se
nos processos já existentes
na companhia, algumas áreas de gerenciamento
podem ser implementadas numa segunda etapa.
Como principal produto desta macro atividade, cada
processo de gerenciamento deve ser detalhado passo-a-passo
e, para cada processo, devem ser elaborados os modelos
a serem utilizados como ferramenta de trabalho.
Para facilitar a utilização
da metodologia, como ferramenta de apoio, pode ser
elaborado um manual encadernado, contendo:
- Um guia de referência rápida,
referenciando somente os processos e os produtos
que deveriam ser elaborados em cada etapa do processo;
- Uma apresentação
detalhada de todos os processos;
- Uma cópia
de todos os modelos da metodologia.
Além da metodologia a ser aplicada nos projetos
constantes do portfólio do EGP, também
está no escopo desta macro atividade, a definição
dos processos internos do próprio EGP, com foco
nas funções do EGP.
Isto incluiu a definição
das atividades do EGP, dos produtos que devem ser produzidos
pelo EGP e de suas métricas. Entretanto, esta
parte da metodologia somente pode ser concluída
após a definição da estrutura
organizacional do EGP.
As responsabilidades definidas para
o EGP devem incluir:
- Alinhar as metas
dos projetos para cumprir as metas globais da
companhia
- Desenvolver e
difundir a metodologia de gerenciamento de projetos:
- Identificar e monitorar
as melhores práticas
de gestão de projetos;
- Escolher e implantar ferramentas
de gestão
dos projetos;
- Realizar auditoria na
utilização
da metodologia nos projetos, buscando "feedback" com
os gerentes funcionais e de projetos;
- Manter o site
sobre gerenciamento de projetos atualizado;
- Divulgar a metodologia
de Gerenciamento de Projetos.
- Comunicação
- Gerir o Plano de Comunicação;
- Promover o envolvimento
dos Líderes
para cumprir os objetivos globais da companhia;
- Divulgar informações
sobre os projetos à organização.
- Desenvolver cultura
de gerenciamento de projetos:
- Realizar coaching conforme
demanda;
- Criar e manter
base de dados de gerenciamento dos projetos.
Também deve ser elaborada
a estratégia
de comunicação a ser adotada pelo EGP.
A definição deste Plano de Comunicação
deve obedecer às seguintes etapas:
- Identificar público-alvo da comunicação;
- Identificar canais de
comunicação;
- Definir mensagens a
serem distribuídas;
- Validar estratégia de comunicação
com o Patrocinador e Facilitadores.
Dentre os diversos eventos
de comunicação
que podem vir a ser utilizados, destacam-se:
- Reuniões
com o patrocinador;
- Relatório de status:
relatório
apresentando o status dos indicadores de cada projeto;
- Reuniões
de status do projeto;
- Site na Intranet exclusivo
para o EGP, no qual possam ser divulgadas informações
sobre a equipe do EGP e dos projetos, gerentes de
projeto, portfólio, relatórios de
status, dentre outras;
- Publicação mensal,
por ex.: jornal, com informações sobre
os projetos e dicas sobre a metodologia.
Caso Real:
Na organização
interna do EGP ( figura 4 ), os principais pontos
a destacar são:
- As atividades
de controle de custos e as atividades de
comunicação podem
ser tratadas de forma consolidada no EGP, a
partir das informações obtidas
em cada projeto. Com isso é possível
otimizar recursos, principalmente, para a frente
de comunicação,
assim como dar uma visão integrada do
orçamento
dos projetos, o que normalmente é uma
necessidade.
- O Analista
de Comunicação
deve ser responsável pela implantação,
execução e gerenciamento das ações
de comunicação estabelecidas para
o EGP, garantindo que todas sejam cumpridas com
a periodicidade e conteúdo planejados.
 |
Figura
4: Organização interna do
EGP. |
-
A Analista de Consolidação
Econômica deve ser responsável por
estabelecer os padrões para controle orçamentário
e análise de viabilidade, suportando os
gerentes de projetos e coordenadores de programa
na utilização destes padrões,
além de realizar a análise orçamentária
de todo o portfólio.
- Deve ser implantada uma função
específica de qualidade, para garantir
a manutenção e evolução
da metodologia, formação das equipes
dos projetos e do EGP, utilização
da metodologia nos projetos e manutenção
e suporte das ferramentas de gestão utilizadas
pelo EGP.
- Quando
os gerentes de projeto não fazem parte da
equipe própria
do EGP, deve ser introduzido o papel
do "Coordenador
de Programas", que atua diretamente com
os gerentes dos projetos, dando o suporte
necessário à utilização
da metodologia. Com esta função,
os coordenadores ajudam o gerente de
projeto na definição do
escopo, elaboração
dos cronogramas, e identificação
de riscos. Além disso, a atualização
da realização das atividades
no cronograma (status) se mantém
centralizada sob a responsabilidade do
coordenador, já que
os gerentes de projeto, podem, num primeiro
momento, não possuir o conhecimento
avançado
na ferramenta escolhida.
- A maioria dos colaboradores designados
como gerentes de projetos devem participar das
ações de treinamento em Gerenciamento
de Projeto. Sendo assim, podem estar em processo
de formação e ainda não
possuir o conhecimento suficiente para aplicar
a metodologia de forma estruturada aos projetos.
Desta forma, os coordenadores de apoio aos programas,
devem atuar também como mentores, com
o apoio do Analista de Qualidade do EGP. Como
resultado, os gerentes de projeto podem se dedicar
a perseguir o cumprimento dos objetivos, sem
perda do foco por estarem sobrecarregados com
a implantação da metodologia, ao
mesmo tempo que percebem a vantagem de ter uma
metodologia estruturada. Com isso, nos próximos
projetos, a aplicação da metodologia
se torna uma necessidade, agilizando o processo
de mudança de cultura esperado.
- Outra
função importante
que pode surgir através da
estrutura do EGP é a do "Facilitador".
As pessoas que assumem essa função
podem não
ser dedicadas ao EGP e nem aos projetos.
Devem ser gerentes funcionais das áreas
internas e indicados pelos membros
do Comitê Diretivo.
Através do trabalho destes
facilitadores, é possível
obter a legitimidade do alto escalão,
que nem sempre, estão disponíveis,
mas precisam participar das decisões
nos projetos. Além disso,
também podem
atuar como âncoras na disseminação
da metodologia e da cultura, ao mesmo
tempo em que apóiam os gerentes
de projeto na resolução
de problemas que geram impacto ao
sucesso dos projetos. Posteriormente,
com a evolução
do EGP e com a sedimentação
da metodologia, os facilitadores
podem deixar de integrar formalmente
a estrutura do EGP, mas normalmente
continuam a atuar da mesma forma
com relação aos projetos.
Fase 6: Piloto do EGP
A partir do portfólio de projetos já aprovado,
o primeiro passo é escolher os projetos que
serão escopo da implantação piloto
e definir os respectivos gerentes de projetos. Com
isso, o público-alvo do EGP pode ser identificado
e podem ser iniciadas as ações de apresentação
da estrutura e da metodologia. Estas ações
podem ocorrer, para o nível executivo, em formato
de reuniões.
Para as equipes de projetos e facilitadores,
em formato de mini-treinamento. Para os gerentes de
projeto devem ser utilizadas sessões de coaching ,
durante as quais os projetos são inseridos nos
padrões da metodologia, até que seja
possível inseri-los na rotina de atividades
de acompanhamento do EGP.
Fase 7: Resultados
O projeto do EGP está quase
chegando ao seu final. O projeto antes de ser considerado
encerrado deve passar por uma análise final
dos resultados alcançados, e registro de todo
o histórico
do projeto. Nesta etapa deve ser feita uma verificação
criteriosa dos resultados do projeto piloto, verificando
se há algum aspecto que mereça ajuste
final.
Os registros finais do projeto devem contemplar
uma discussão e um relatório das lições
aprendidas do projeto de implantação
do EGP. Projeto encerrado (close out); o
EGP entra na sua fase de operação.
|