Seção: Tutoriais Rádio e TV

 

TVD: Desenvolvimento de um Serviço Interativo para TV Digital

 

Objetivo

 

Com base nos conhecimentos adquiridos nos itens anteriores e na pesquisa e análise de documentos disponibilizados na Internet e em banco de dados bibliográficos de instituições de pesquisa, comitês e órgãos normativos nacionais e internacionais, esta seção tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de um serviço para televisão digital interativa. Espera-se que este serviço venha a servir de base para futuros serviços comerciais que possam ser oferecidos pela televisão digital interativa no Brasil.

 

Nome do Serviço

 

O serviço proposto neste trabalho foi designado pelo nome de Serviço de Biblioteca Digital Interativa (SBDI) e ao longo deste artigo, as referências ao serviço aqui proposto se darão pelo acrônimo SBDI, em algumas passagens no decorrer do artigo, poderão ser feitas simplesmente pela expressão "o serviço".

 

Justificativa da escolha do SBDI

 

Os principais critérios considerados na escolha do SBDI, que foi desenvolvido, foram relevância social e a utilização por uma parcela expressiva de usuários. Além desses, considerou-se o fato de que este serviço deve servir de base para futuros serviços a serem disponibilizados pela televisão digital no Brasil, o que implica em que este tenha caráter funcional para os futuros usuários, tenham função social preponderante e também sejam rentáveis.

 

A partir dos critérios definidos anteriormente foi escolhido o "Serviço de Biblioteca Digital Interativa (SBDI)".

 

O Serviço de Biblioteca Digital Interativa atende plenamente aos critérios de relevância social e alcance por auxiliar na distribuição de informação para a população brasileira e por possuir uma abrangência nacional, devido à grande penetração da televisão no Brasil. Este serviço garante à população a facilidade e rapidez no acesso às informações, minimizando as necessidades de aquisição e acúmulo de livros (conteúdos em papel).

 

Ao final do desenvolvimento do SBDI, este serviço deverá estar disponível para uso em laboratório, com possibilidade de evoluir para serviços comerciais à medida que a tecnologia de televisão digital seja implantada no país.

 

Descrição do Serviço

 

O SBDI é definido como um serviço que tem como principal objetivo fazer com que a informação vá até o usuário por meio de uma plataforma de televisão digital terrestre. É o uso dessa plataforma de televisão digital e a forma de como o usuário acessa as informações o que torna o SBDI uma alternativa peculiar de Biblioteca Digital em relação aos serviços similares, baseados em outras tecnologias (como a Internet), já oferecidos no mercado.

 

Adicionalmente, pode-se caracterizar o SBDI como um serviço de acesso a uma base de dados, ou repositório, contendo os conteúdos para os usuários. Esse serviço é oferecido através de um aparelho televisor e um set - top box para receber sinais digitais transmitidos por radiodifusão terrestre.

 

Modelo de Negócio

 

Papéis e atores envolvidos

 

O modelo de negócio do SBDI envolve sete papéis principais, a saber: os usuários finais (residenciais e comunitários), clientes, provedor do serviço SBDI, provedor de rede de transporte, provedor de conteúdo, provedor de repositório e fornecedores de equipamentos e software. A Figura 5 mostra uma visão sistêmica genérica para o SBDI.

 

Figura 5: Representação sistêmica genérica para o SBDI.

 

Os atores possíveis para o papel de usuário final são: usuário residencial e usuário de centros comunitários.

 

Os atores possíveis para o papel de clientes são: governos municipais, governos estaduais, governo federal e organizações não governamentais.

 

Os atores possíveis para o papel de provedor do SBDI são: prestadoras de serviços de telecomunicações, geradoras públicas e privadas de televisão ou qualquer outro tipo de empresa.

Os atores possíveis para o papel de provedor de conteúdo são: editoras, bibliotecas tradicionais, geradoras públicas e privadas de televisão, produtores de conteúdo local, produtores de conteúdo pra a Internet e estabelecimentos de ensino.

 

Os atores possíveis para o papel de provedor de rede de transporte são: geradoras públicas e privadas de televisão, retransmissoras públicas e privadas de televisão, empresas prestadoras de serviços de telecomunicações.

 

Os atores possíveis para o papel de repositório são: geradoras públicas e privadas de televisão, retransmissoras públicas e privadas de televisão, empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, data centers ou qualquer outro tipo de empresa.

 

Os atores possíveis para o papel de fornecedores de equipamentos e de softwares são: fabricantes de equipamentos ( set - top box, tevisores, computadores, transmissores, etc.) e de softwares.

 

Cadeia de Valor

 

A criação de valor para entrega ao usuário encontra-se ilustrada na Figura 6. Conforme essa figura, para que o usuário possa usufruir do SBDI, basta ele estar na área de prestação do serviço, bem como adquirir um televisor, caso ainda não o possua, e também um set - top box dos fabricantes, os quais correspondem ao papel de fornecedores de equipamentos e software ou adquirir pelo próprio provedor do SBDI.

 

Igualmente, os fabricantes fornecem seus equipamentos e aplicativos a todos os demais atores presentes na cadeia de valor do SBDI. Não é necessária a contratação do serviço mediante o provedor do SBDI, pois o serviço será contratado em sua maior parte pelos governos municipais, estaduais e federal ou ainda por organizações não governamentais. No caso do acesso comunitário, vale o mesmo que para o acesso residencial.

 

O provedor do SBDI é um papel que pode ser assumido por qualquer prestadora de serviços de telecomunicações. Dessa forma, entidades como prefeituras, ONGs e geradoras ou retransmissoras de canais de televisão, poderão desempenhar o papel de provedor do SBDI caso possuam status de prestador de serviços de telecomunicações.

 

Figura 6: Fluxo de valor do SBDI entre os papéis.

 

O provedor do SBDI é o responsável pela integração do serviço a ser entregue ao usuário final. Para tanto, este papel é o responsável por garantir o transporte bidirecional dos dados, por meio da operação ou contratação da infra-estrutura de rede de transporte, pelo atendimento, pela divulgação do serviço e pela cobrança.

 

Além disso, também é de responsabilidade desse papel, contratar o provedor de conteúdo e a possível terceirização do provedor de repositório de conteúdo. Sempre é bom lembrar que o mesmo ator pode desempenhar mais de um papel. A Figura 7 mostra o fluxo de receitas entre os diferentes papéis do SBDI.

 

Figura 7: Fluxo de receitas do SBDI entre os papéis.

 

Requisitos preliminares

 

O SBDI requer a existência de um software composto por uma Interface de Navegação, para acessar o conteúdo do repositório, e uma Interface de Gerenciamento para o controle e operação pelo Provedor de Serviço. Na Interface de Navegação deverá ser possível o acesso através de mecanismo de busca por palavras-chave.

 

O conjunto de requisitos funcionais para a implementação da primeira versão do SBDI é descrito na seção a seguir de acordo com duas perspectivas:

  • Usuários;
  • Provedor do Serviço.

Requisitos funcionais

 

Usuários

 

Os requisitos a seguir tomam como base a existência de uma Interface de Navegação do SBDI a ser disponibilizada através do terminal de acesso.

  • O Serviço deve apresentar interface gráfica (Interface de Navegação) que seja facilmente assimilável, de preferência auto-explicativa, de maneira a usufruir da familiaridade dos usuários com o aparelho de televisão comum.
  • Deve ser possível utilizar o aparelho de controle remoto do set - top box para a inserção de caracteres para seleção de opções de Navegação.
  • O Serviço deve garantir acesso a todo o conteúdo apresentado na interface de navegação do SBDI;
  • O Serviço deve informar o usuário sobre a
  • indisponibilidade do conteúdo em tela apropriada, com previsão de prazo para a normalização do acervo.

Provedor de Serviço

 

Os requisitos a seguir tomam como base a existência de uma Interface de Gerenciamento do SBDI a ser disponibilizada através de um computador.

  • A Interface de Gerenciamento deve permitir a inclusão, exclusão de conteúdos do servidor;

Implementação do Protótipo do SBDI

 

Como prova de conceito, foram implementados apenas os requisitos descritos acima, ou seja, a Interface de Navegação do Usuário e um programa que faz o papel do Provedor de Serviço.

 

Caracterização do ambiente de desenvolvimento

 

Para a implementação e simulação da Interface de Navegação do Usuário e do programa que faz o papel do Provedor de Serviço do SBDI, são necessários um ambiente de programação e um emulador de set-top box, respectivamente.

 

Para o ambiente de programação, optou-se por utilizar o ambiente de programação Eclipse, uma vez que o protótipo do SBDI foi desenvolvido em linguagem javaTV. E para o emulador, foi escolhido o Espial.

 

Caracterização do ambiente de teste do SBDI

 

Para a realização dos testes do protótipo do SBDI foram selecionados dois computadores e uma televisão no laboratório de redes da PUC-Campinas. A Figura 8 ilustra o ambiente de testes. Existem dois computadores, um computador desempenhando o papel de Provedor de Serviço com o IP 10.0.1.1 e o outro desempenhando o papel do set - top box com o IP 10.0.1.2.

 

Existe também um aparelho de televisão que receberá, via cabo com interfaces RCA, a imagem da interface de navegação do SBDI, gerada pelo computador que desempenha o papel do set - top box . Além disso, tem-se a rede do laboratório simulando o canal de interatividade.

 

Figura 8: Ambiente de testes do SBDI.

 

Testes do SBDI

 

Depois de caracterizar o ambiente de desenvolvimento e o ambiente de testes, foram realizados dois testes.

 

Teste de funcionalidade

 

Este teste tem como objetivo principal acessar a uma base de dados, ou repositório, contendo os conteúdos para os usuários.

 

Para a realização deste teste de funcionalidade, foi instalado no computador que desempenha o papel de Provedor de Serviço, o programa do Provedor de Serviço. E foi instalado no computador que desempenha o papel de set - top box, a Interface de Navegação do Usuário. Além da instalação, é necessário que os softwares do protótipo estejam sendo executados, tanto no lado do Provedor do Serviço, quanto no lado do Usuário.

 

Neste momento, imagine você, por exemplo, numa tarde chuvosa de segunda-feira morrendo de dor nas amídalas e deseja consultar um livro de medicina alternativa a fim de encontrar um tratamento rápido para sua enfermidade. Imaginou? Basta você acessar o SBDI e diante da interface de navegação na tela inicial, pressionar o botão verde (CONSULTAR) no controle remoto. Neste momento a interface te levará para uma tela de pesquisa por palavra - chave, na qual você digitará a palavra - chave "medicina alternativa" e pressionará o botão verde novamente para realizar a pesquisa.

 

Desse modo, a interface de navegação estabelecerá um canal de interatividade com o Provedor de Serviço, que por sua vez receberá a palavra - chave, pesquisará em seu repositório de conteúdo a existência, ou não, do conteúdo desejado e retornará o resultado para a interface de navegação. Você está num dia de sorte hein? O resultado de sua pesquisa mostra sete livros a sua disposição na tela de resultados.

 

Agora, você deve escolher o livro que deseja consultar pressionando no controle remoto o número dele, e em seguida pressionar o botão verde (ABRIR). Neste momento é mostrada uma tela que contém o índice do livro selecionado, contento o nome das enfermidades. Nossa! Você realmente é uma pessoa iluminada, sua enfermidade é a primeira do índice (coincidência ou não?). Basta agora, você pressionar o número da enfermidade e novamente pressionar o botão verde. Eba!!! Sua enfermidade tem tratamento! Agora, toma logo esse chá e vá trabalhar, seu chefe deve estar furioso com você.

 

As figuras 9, 10 e 11 exemplificam o procedimento descrito acima, o qual foi realizado no ambiente de teste.

 

Figura 9: Tela Inicial.

 

Figura 10: Tela de Pesquisa
e de Resultados.
Figura 11: Tela Índice e Tela Final

 

O procedimento descrito acima é o objetivo principal do SBDI, que se caracteriza como um serviço de acesso a uma base de dados, ou repositório, contendo os conteúdos para os usuários.

 

Além disso, a Interface de Navegação disponibiliza diversas outras funcionalidades. Uma delas é a opção do usuário poder voltar sempre à tela anterior ou sair do serviço, o que resulta numa fácil navegabilidade sobre a Interface de Navegação do SBDI. Outra opção se dá na Tela Inicial, onde o usuário pode consultar uma tela de ajuda, que trás informações de como utilizar a Interface de Navegação.

 

Uma outra opção muito atraente é disponibilizada na Tela de Resultados, onde o usuário pode visualizar as sinopses dos livros, antes de realmente consultá-los. A figura 12 ilustra um diagrama de blocos de todas as possibilidades de interação entre o usuário e a Interface de Navegação do protótipo do SBDI. Por questões de visualização da figura, apenas a opção SAIR não foi ilustrada.

 

Figura 12: Diagrama de blocos de interações do usuário.

 

Teste de Análise de Pacotes

 

Este teste tem por finalidade analisar os pacotes que são transmitidos quando a Interface de Navegação estabelece o canal de interatividade com o Provedor de Serviço e faz uma requisição de conteúdo (momento em que o usuário digita a palavra-chave e pressiona o botão verde (PESQUISAR) do controle remoto).

 

Portanto, para a realização do teste de análise de pacotes, foi usado o mesmo ambiente do teste anterior. Porém, mais dois softwares (Analisador de Pacotes de Rede) foram instalados no computador que desempenha o papel de set-top box, denominados Ethereal [5] e WinCap [6]. Um analisador de pacotes de rede é um software que captura e exibe informações detalhadas sobre os pacotes que chegam a uma interface de rede.

 

Procedimento para Análise de Pacotes:

 

Primeiramente, foram iniciados os softwares do protótipo do SBDI e o Ethereal. Em seguida, foi configurado o modo de captura dos pacotes transmitidos, quando a Interface de Navegação faz uma requisição de conteúdo para o Provedor de Serviço.

 

Essa configuração consiste na escolha da interface de rede que será utilizada na captura dos pacotes. Além disso, foi configurado um filtro para "tcp port 1283", de maneira a capturar apenas os pacotes transmitidos pela Interface de navegação. Depois dessas configurações, foi realizada a captura dos pacotes.

 

A Figura 13 mostra a primeira tela obtida na captura dos pacotes. Pode-se observar que só foram capturados os pacotes TCP da porta 1283, portanto, o filtro configurado nos procedimentos descritos acima está funcionando corretamente.

 

Figura 13: Primeira tela de captura de pacotes.

 

Adicionalmente à primeira tela, foi apresentada a tela da Figura 14. Podem-se observar todos os pacotes transmitidos e recebidos pela porta (1283) configurada. Porém, apenas o pacote 4 (selecionado) é do interesse do teste, uma vez que este é o pacote que carrega a informação (palavra-chave) do conteúdo solicitado pela Interface de Navegação ao Provedor de Serviço. Observa-se também que o tamanho total do pacote é de 76 bytes, mas somente 22 bytes são realmente de informação, sendo o resto, bytes usados pelos protocolos de enlace, rede e transporte.

 

Diante dos resultados obtidos acima, pode-se concluir inicialmente que, pelo menos, o SBDI não exige uma grande quantidade de informações no sentido ascendente (do usuário ao provedor de serviço). Porém, vale a pena ressaltar, que o teste considerou apenas um usuário solicitando conteúdo ao Provedor de Serviço. E para obter uma conclusão mais robusta, seria necessário um estudo de modelamento de tráfego, que foge ao escopo do presente trabalho, mas que fica como proposta para um trabalho futuro.

 

Figura 14: Segunda tela de captura de pacotes.