Seção: Tutoriais Banda Larga

 

PLC/BPL: Interferências 2

 

Interferências nas ciências do rádio

 

O HF apresenta uma propagação de rádio que é reflexo direto do comportamento geomagnético na sua interação com as radiações solares. Matriz de vários estudos clássicos de telecomunicações, é no espectro de HF que ocorrem as mensurações de meteorologia especial (space weather), dinâmico campo de pesquisa da aeronomia, geofísica e astrofísica.

 

No Brasil há ionosondas de MF/HF localizadas em Cachoeira Paulista, Fortaleza, São Luiz e Santa Maria para prover informações sobre as alturas das camadas ionosféricas, MUF, foF2, foEs, toda uma sorte de dados fundamentais para a compreensão dos fenômenos físicos e das condições que afetam, por exemplo, o comportamento de satélites durantes tempestades solares, inclusive da constelação GPS.

 

O gráfico 4 apresenta os ionogramas recebidos de digisondas em MF/HF localizadas Cachoeira Paulista e Fortaleza pelo DAE/INPE em março de 2009 (33).

 

Gráfico 4: Ionogramas em MF/HF de Cachoeira Paulista (SP) e Fortaleza (CE).

 

Pelo HF também ocorrem observações radioastrômicas, tanto que a NASA há anos promove com sucesso em todo o mundo o projeto Rádio JOVE, a distribuição de kits receptores, antenas para monitoramento de Júpiter em HF (bandas decamétricas). Considerando a facilidade na aquisição dos kits e equipamentos gerais estas faxias, a atividade se tornou pioneira para projetos educacionais em radioastronomia, para fomento e divulgação científica, com formação de uma rede de observadores estudantis, futuros profissionais de comunicação e da ciência do rádio. A NASA destinou mais de 10 receptores ao Brasil, segundo o coordenador do programa, o físico James Thieman. Por meio de oscilador local comum dos receptores, foram desenvolvidos interferômetros de baixo custo em HF apenas utilizando dipolos em fase (34).

 

A foto 4 apresenta estudantes no México, Porto Rico e Estados Unidos montando kits de receptores HF e antenas Radio JOVE (NASA).

 

Foto 4: Estudantes montando kits de receptores HF e antenas Rádio JOVE.

 

Com o apoio de instituições científicas internacionais, algumas faixas de Ondas Curtas (13 MHz, 25 MHz, 38 MHz) foram selecionadas pela ITU para o uso da radioastronomia. Obviamente qualquer aumento no nível de ruído nesses segmentos significa comprometimento no trabalho de pesquisa.

 

O Comitê Especializado da Fundação Européia para Ciência (ESF), por meio do Comitê de Freqüências em Radioastronomia (CRAF) lembra que as freqüências de HF: (...) são muito importantes para pesquisa de radiação vinda de Júpiter (...) Júpiter é o único rádio-planeta observável do solo terrestre e seu estudo é uma maneira única de desenvolver modelos teóricos de rádio emissões de todos os outros planetas. As 3 bandas também são utilizadas para observações solares (...) O Sol é a estrela mais próxima e seu estudo nos habilita a um entendimento aprofundado dos mecanismos de rádio emissão de todas outras estrelas (35).

 

Os cientistas também utilizam radares de pesquisa geofísica no VHF baixo. Esse é o caso do INPE com equipamentos próximos dos 50 MHz, a exemplo do Rádio Observatório Jicamarca, captado no Brasil em 49 MHz. (36)

 

Gráfico 5: Júpiter captado no final de 2008 em HF com equipamentos do Rádio JOVE (NASA).

 

No entanto, todas essas faixas estão na mira das interferências PLC. O radioastrônomo John Fielding escreveu acerca da atual Consulta Pública no Brasil: “(...) Os níveis propostos [pela ANATEL] sãodesastrosos para todos os modos de comunicação que envolvem sinais débeis, como a radioastronomia. Os níveis propostos irão causar interrupção geral em quaisquer comunicações nessas bandas para sinais com níveis menores que S7. Os níveis são dados em uV/metro e são geralmente mensurados com antena com 1 metro de comprimento para calibração do receptor na distância requerida da fonte interferente PLC que gerará 30uV de sinal no receptor.  Se a antena mudar para o comprimento de 2 metros o sinal esperado é de 60 uV, S9+10dB. Com 3 metros o sinal será aproximadamente de 90 uV. Com uma antena com um quarto de onda para a banda de 40 metros, o sinal esperado a 30 metros da fonte interferente PLC será de 600uV ou ao redor de 30 dB sobre 9!

 

A figura 11 apresenta o sinal horário do Observatório Nacional transmitido no Rio de Janeiro no início de 2009, freqüência aproximada de 10 MHz.

 

Figura 11: Sinal horário do Observatório Nacional transmitido no Rio de Janeiro.

 

Acrescentam-se ainda serviços de operação espacial, auxílios meteorológicos e freqüências-padrão da ITU. No total são12 bandas a serem expostas ao PLC, em plena utilização pelas estações-baliza horárias, inclusive do Observatório Nacional em 10 MHz que reativou seus serviços no final de 2008 (37).

 

O PLC Interfere e é Interferido

 

Assim como as redes de energia elétrica com PLC atuam como “antenas” gerando RF interferente, elas também são receptoras e todo sistema é suscetível a interferências “externas”. Qualquer emissão de RF nas proximidades de uma conexão PLC/BPL vai diminuir a velocidade de conexão e causar instabilidades.

 

Como a mesma rede está conectada a outros dispositivos, eles poderão atuar como reprodutores de interferência e desestabilizar o PLC. Isso inclui as lâmpadas, eletrodomésticos, fontes chaveadas, carregadores de celular, secadores de cabelo, toda sorte de conexão elétrica, dimmers, interferentes por ruído impulsivo síncrono e motores, enquanto aspiradores de pó e barbeadores como ruídos impulsivos de alta freqüência.

 

A situação deplorável na manutenção de algumas redes e a clandestinidade com o roubo de energia elétrica pública com perigosas conexões piratas também são elementos depreciativos que afetarão o funcionamento real e não de propaganda do PLC no Brasil.

 

Já em 2009 a Revista Info realizou teste com um dos dispositivos PLC da Siemens (custo de 699 reais) que é diretamente conectado a tomada (outra vulnerabilidade física do produto: a exposição direta a raios, variações e picos de tensão). Além de atingir menos de 1/4 da velocidade teórica, o PLC interferiu em outros equipamentos elétricos como telefone sem fio, segundo o autor: “...algo comum quando juntamos um equipamento desse tipo com outros eletrônicos que usam radiofreqüência” (38).

 

O gráfico 6 apresenta os níveis médios de ruídos em zona industrial (linha vermelha superior), zona residencial (rosa) e rural ruidosa (pontilhada amarela). Os níveis de intensidade de campo PLC a 30 dBuV/m excedem todos os ruídos esperados e superam a escala do gráfico, degradando o espectro e alterando consideravelmente o ambiente radioelétrico (39).

 

Gráfico 6:  Ruídos em zona industrial (vermelho), residencial (rosa) e rural ruidosa (amarelo).

 

Quando engenheiros da ANATEL, em reunião no dia 07 de novembro de 2008, foram questionados pela LABRE sobre a disponibilização pública dos estudos técnicos do PLC a resposta foi: “os documentos produzidos possuem informações específicas dos equipamentos que estariam cobertas porsigilo (comercial), motivo pelo qual não estão, em princípio, à disposição”(40).

 

Ora, para imposição de um sistema interferente é advogado o interesse e demanda pública, no entanto na divulgação de resultados dos testes prevalece o interesse privado e o cerceamento ao acesso de informações.