Seção: Tutoriais Operação

 

Privatizações e Produtividade I: Preços e Tarifas

 

Segundo Intven et alli (2000) a regulamentação de preços no setor de telecomunicações é normalmente justificada quando o mercado falha em produzir preços competitivos. Uma boa regulação de preços imita os resultados de uma competição eficiente e os objetivos da regulação de preços podem estar agrupados em três grupos: Financeiros que visa a garantia de que as operações reguladas permitam o ganho suficiente de receita para financiar o dia-a-dia das operações e investimentos futuros; Eficiência que busca a garantia da eficiência na prestação dos serviços de telecomunicações e o Eqüitativo com garantia do equilíbrio imparcial para a distribuição dos benefícios de bem-estar para todos os membros da sociedade.

 

Uma das formas de regulação de preços é através do Preço-Teto (Price cap [2]). Esta utiliza uma fórmula para determinar o incremento de preço máximo permitido para um serviço regulado para um número de anos. Este é o modelo utilizado pelo Brasil, conforme legislação vigente sobre tarifas de telecomunicações [3].

 

A fórmula para o cálculo do Preço-Teto tem a seguinte expressão:

 

[4] [1]

 

Onde: PI é o preço inicial, C é a variação do custo (previsto pela inflação do setor, no caso brasileiro o IST a partir de 2006) e X é fator de transferência.

 

O fator de transferência (também chamado de fator X) repassa para as tarifas parte da redução de custos oriunda dos ganhos de eficiência dos serviços (variação da produtividade). A metodologia de cálculo aplicada na regulação de tarifas de telefonia no Brasil é determinada pelo anexo à resolução número 418 de 18 de novembro de 2005. A metodologia está em vigor desde Janeiro de 2006.

 

Anterior a este período, o fator X era pré-determinado pela Anatel desde a privatização, durante o ciclo público os ajustes de tarifas eram propostos pela Telebrás e submetidas à aprovação do Ministério das Comunicações conforme artigo 151 da constituição de 1946, que tratava das tarifas. E no ciclo privado, antes da estatização do setor, as tarifas de telefonia eram definidas de forma não padronizada e sem regulamento definido pelo governo.

 

Algebricamente podemos resumir o fator X, ou fator de transferência, ou ainda fator de produtividade (∆TFP) como:

 

[2]

 

Onde Q é o índice agregado da variação de produtos e Z é o índice agregado da variação de insumos.

 

A literatura econômica sugere que a privatização e o incentivo à competição provocam o crescimento da produtividade. Intven et alli (2000) afirma um incremento de produtividade entre 0,5% a 1% ao ano após a privatização e o incentivo à competição. Exemplos são os países que utilizam o plano de Preço-Teto que têm incremento no fator de produtividade.

 

A British Telecom (BT) no Reino Unido foi a primeira operadora de telefonia sujeita a regulação do plano de Preço-Teto, o fator X teve incremento médio de 3% no período de 1984 à 1989, período de maior mudança na regulação dos serviços prestados pela BT.

 

Nos Estados Unidos o fator de produtividade do setor de telecomunicações sempre se apresentou maior do que o crescimento da economia, em média o incremento da produtividade calculado em vários estudos citados na tabela abaixo foi de 3,3%.

 

Tabela 1: Comparação entre a produtividade do Setor de telecomunicações e a economia americana.
Estudo Período Indústria de
comunicação (%)
Economia
americana (%)
Diferença
Nadiri-Schankerman 1947-76 4,1 2,0 2,1
Jorgenson 1948-79 2,9 0,8 2,1
Christensen 1947-79 3,2 1,9 1,4
AT&T 1948-79 3,8 1,8 2,0
A.P.C. 1948-87 4,0 1,7 2,3
Christensen 1951-87 3,2 1,2 1,9
Crandall 1960-87 3,4 1,3 2,1
DRI 1963-91 3,0 0,2 2,8
Christensen 1984-93 2,4 0,3 2,1
Fonte: Intven et alli (2000), adaptado pelo autor.

 

A expectativa da taxa de incremento médio anual da produtividade para o setor de telecomunicações é de 3% à 3,5%, de 2% à 2,5% superior ao crescimento da economia de um país [5]. Abaixo segue tabela com as expectativas de benchmark de variação média anual da produtividade do setor de Telecomunicações e o patamar médio de crescimento em relação ao a economia. Fatores de ajustes na regulamentação, como privatização e incentivo à competição, permitem ainda um aumento estimado de 0,5% a 1% de produtividade ao ano.

 

Tabela 2: Expectativas de benchmark regulatório para a produtividade em telecomunicações.
% Fator X
  Direto Em relação ao crescimento
da economia do país
Fator básico
de incremento
3,0 a 3,5 2,0 a 2,5
Fatores de Ajuste
Incentivo da
regulação
0,5 - 1,0
Competição 0,0*
Privatização 0,5 - 1,0
* O valor pode ser incrementado de 0,5 se a competição está combinada com a privatização.
Fonte: Intven et alli 2000, adaptado pelo autor.

 

Na América Latina, Meitzen et alli (2001) apresenta os fatores de produtividade aplicados por diversos países latino-americanos na regulação das tarifas de telefonia. Abaixo é apresentada a evolução do Fator X para a Argentina nos diversos estágios de regulação de preços das tarifas de Telecomunicações. Em 1990 foi inaugurado o plano de Preço-Teto de preço naquele país:

 

Tabela 3: Fator de transferência de produtividade do setor de telecomunicações na Argentina.
Estágios Condições Fator X
(%)
Transição
(1991 - 1992)
Preços ajustados para atingir 16% de taxa de
retorno do capital fixo no fim do período
0%
Exclusividade
(1993-1997)
Privilégios são concedidos a provedores em
seus territórios de prestação de serviços
2%
Exclusividade
Estendida
(1998- 2000)
Privilégios a provedores que prestam serviços em seus
territórios podem ser prorrogados por mais 3 anos se o
mercado ainda não for competitivo
4%
Fonte: Meitzen et alli (2001), adaptado pelo autor.

 

Com a privatização em 1990, o plano de Preço-Teto teve inicio no México com a Teléfonos del México S.A. (Telmex) e sua subsidiária Telefonos del Noroeste S.A. (Telnor). Segue evolução:

 

Tabela 4: Fator de transferência de produtividade do setor de telecomunicações no México.
Fases Serviços Fator X
(%)
1991-1996 Instalação
Custos do cliente
Longa Distância Nacional
Longa Distância Internacional
0,0%
1997-1998 Instalação
Custos do cliente
Chamadas Locais
Longa Distância Nacional
Longa Distância Internacional
3,0%
1999-2002 Instalação
Custos do cliente
Chamadas Locais
Longa Distância Nacional
Longa Distância Internacional
4,5%
Fonte: Meitzen et alli (2001), adaptado pelo autor.

 

Na Colômbia o método de Preço-Teto foi implantado em 1997 passando a 2% para o período de 1998-2000.

 

No Brasil, o Preço-Teto foi implantado em 1998 em conjunto com a privatização do setor. Abaixo o fator X de produtividade alocada nos ajustes das tarifas para os principais serviços de telecomunicações:

 

Tabela 5: Fator de transferência de produtividade do setor de telecomunicações no Brasil.
Períodos Serviços Fator X
(%)
1998-2000
2001-2005
Serviço Básico Local 0,0%
1,0%
1998-2000
2001
2002
2003
2004-2005
Uso de rede Local 0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
1998-2000
2001-2003
2004-2005
Serviço Básico de Longa Distância Nacional 2,0%
4,0%
5,0%
1998-2000
2001-2003
2004-2005
Uso de rede interurbana 2,0%
4,0%
5,0%
1998-1999
2000-2005
Serviço de Longa Distância Internacional 5,0%
15,0%
Fonte: Meitzen et alli (2001), adaptado pelo autor.

 

 

[2] Esse regime tarifário foi aplicado originalmente no Reino Unido, em meados dos anos 80, para a regulação de uma série de setores de infra-estrutura e ficou conhecido pela fórmula RPI – X (Retail Prince Index menos o fator X de produtividade estipulado pelo regulador). Dentre outras, suas vantagens são maior transparência das regras, maior liberdade de gestão e maiores incentivos para a eficiência produtiva, visto que a firma apropria-se de qualquer redução de custos superior ao fator X, Pires (1999).

 

[3] A regulação de preços de telefonia no Brasil teve início com a Lei Geral das Telecomunicações (LGT). As regras de reajuste de tarifas ressaltavam a adoção de um novo índice (IST – Índice de Serviços de Telecomunicações), composto a partir de outros índices existentes, em substituição ao IGP-DI.

 

[4] Ainda existe o fator +/-Z que é corresponde a exogeneidade aplicada pelo órgão regulador nos preços de acordo com o mercado e suas variações decorrentes de fatores externos ao mercado (ex: incremento nos custos dos equipamentos de Telecomunicações decorrentes de alguma nova determinação do governo).

 

E existe também o fator +/-Q que neste caso corresponde a um fator de qualidade dos serviços prestados. Esta medição é mais adequada ao mercado monopolista ou quando um operador é dominante, onde o nível de seus serviços não está sujeito à pressão competitiva de outras operadoras.

 

[5] Fonte Intven et Alli (2000): Estimativas de natureza geral baseada nas experiências de Teto de preços em países desenvolvidos. O autor recomenda que cada país estime seu próprio fator de produtividade ou utilize benchmarkings baseados nas condições nacionais específicas do país.