Seção: Tutoriais Infraestrutura
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Nesta seção são apresentadas questões sobre como as operadoras de telecomunicação estão inseridas no mercado de Computação em Nuvem, quais os problemas que os usuários enfrentam atualmente e como as operadoras poderiam utilizar o sólido conhecimento em serviços que possuem e suas infraestruturas de rede para se diferenciarem nesse mercado. Também é apresentada uma breve análise de complexidade dos modelos de serviços – apresentados tutorial parte I desta série – onde se evidencia a menor complexidade do modelo Infraestrutura como um Serviço (IaaS).
Visão Geral do Mercado de Serviços em Nuvem
A Computação em Nuvem representa uma mudança fundamental na maneira com que serviços de TI são inventados, desenvolvidos, atualizados e vendidos (Marston, Li, Bandyopadhyay, Zhang, & Ghalsasi, 2011). A tendência da computação se tornar cada vez mais pervasiva leva a um aumento da complexidade de gerenciar toda a infraestrutura existente dentro de uma organização, o que tem tornado a computação cada vez mais cara (Roehrig, 2008). Neste sentido, a promessa da computação em nuvem é de prover todas as funcionalidades dos serviços de TI existentes, reduzindo dramaticamente os custos envolvidos em gerenciar uma infraestrutura de computação. Tal promessa tem gerado expectativas elevadas no mundo de TI. A Gartner publicou uma pesquisa que aponta uma previsão de que a computação em nuvem seja um mercado de 150 bilhões de dólares em 2014 (Gartner, 2010) e, de acordo com a AMI Partners, estima-se que pequenas e médias empresas invistam cerca de 100 bilhões de dólares em computação em nuvem em 2014 (Hickey, 2010). Barry X. Lynn, CEO (Chief Executive Officer) de uma provedora de serviços na nuvem, justifica essa migração das empresas para serviços em nuvem fazendo a seguinte indagação, em tradução livre:
Imagine, por exemplo, que no jornal da manhã esteja a notícia de que a Overstock.com [loja de departamento americana] decidiu não mais utilizar os serviços de entrega de terceiros e comprou caminhões, começou a alugar contêineres nos aeroportos e fará, por conta própria, as entregas de seus produtos. Diriam que isso é uma loucura. Então, por que isso é mais insano do que uma companhia de plano de saúde gastar 2 bilhões de dólares por ano com tecnologia da informação? (Knowledge@Wharton, 2009)
E numa época onde serviços de telecomunicações e de TI estão em expansão, os provedores de serviços estão começando a prospectar novos clientes que queiram aproveitar as vantagens da convergência de serviços e tecnologia (Roehrig, 2008). Nesse sentido, as operadoras de telecomunicações estão investindo ativamente na cadeia de valor da computação em nuvem. A Verizon investiu em 2011 cerca de 2 bilhões de dólares em computação em nuvem, a France Telecom investiu 750 milhões de euros em 2011 em seu backbone para que pudesse oferecer serviços na nuvem, e a Telstra planeja investir 800 milhões de dólares australianos nos próximos cinco anos e declarou que 25 a 30% de sua receita total virá de serviços na nuvem (Ericsson, 2012). Ainda nesse contexto, outras empresas estão fazendo esforços e alianças para entrar nesse mercado, como as alianças entre a Alcatel-Lucent e a Hewlett-Packard (Alcatel-Lucent, 2012), e entre a IBM e a AT&T (Bradley, 2009).
A figura 1 ilustra a divisão entre os tipos de serviços que foram lançados em 2011 por operadoras de telecomunicações ao redor do mundo.
Figura 1: Tipos de serviços na nuvem lançados em 2011 Fonte: Informa Telecoms & Media, 2012
No Brasil, a Oi anunciou que investiu 30 milhões de reais na construção da plataforma de computação em nuvem e planeja investir mais 30 milhões de reais para incrementar seu portfólio de produtos (Soares, 2012). No segundo trimestre de 2012, a Telefônica Vivo anunciou o lançamento dos seus serviços na nuvem e espera que um terço de todo o crescimento de TI da empresa seja advindo deste mercado (Kohn, 2012). A Embratel anunciou que oferecerá, a partir de 2012, serviços na nuvem, mas não apresentou previsões de quando as vendas serão iniciadas (Ferrer, 2012).
Os Problemas Atuais da Nuvem
Apesar de todos os benefícios que a nuvem pode trazer, uma das principais razões para que diretores de TI relutem em contratar serviços na nuvem se deve ao fato de que os provedores de serviços simplesmente não podem entregar tudo que as empresas necessitam como, por exemplo, desempenho e segurança fim-a-fim (Alcatel-Lucent, 2011). Os serviços em nuvem oferecidos atualmente têm deficiências significativas, dentre elas:
Quando se trata de aplicações críticas para o pleno funcionamento dos negócios de uma empresa, a disponibilidade dos serviços é uma preocupação crucial. Até mesmo pequenas interrupções podem ter consequências desastrosas financeiramente. Uma pesquisa realizada pela Alcatel-Lucent entrevistou quase 4 mil diretores de TI em sete países e descobriu que as interrupções de serviço eram as principais preocupações com serviços na nuvem (Alcatel-Lucent, 2011).
Os Diferenciais das Operadoras
As operadoras têm a possibilidade de entrar no mercado de serviços em nuvem com ampla experiência no provimento de serviços, com fortes relações com seus clientes e a infraestrutura certa para prover serviços na nuvem.
Muitas operadoras tornaram-se, ao longo dos anos, importantes parceiras dos seus clientes empresariais e uma fonte confiável para serviços de comunicação empresarial. A Nuvem é uma oportunidade para vender novos produtos para uma base de consumidores muito bem estabelecida. Os serviços na nuvem podem ser considerados também uma extensão natural das leased lines, das redes virtuais privadas (VPNs) empresariais e serviços de rádio já providos para as empresas clientes (Alcatel-Lucent, 2011).
De uma perspectiva de modelo de negócios, a nuvem pode ser definida como a oferta serviços de TI multi-inquilinos. As operadoras já possuem o conhecimento de como vender serviços de comunicação multi-inquilino. Algumas importantes vantagens para as operadoras podem surgir da habilidade que possuem em entregar serviços que reúnam a rede juntamente com processamento e armazenamento. A infraestrutura de redes torna-se efetivamente uma nuvem distribuída que ajuda a reduzir os custos e aumentar a diferenciação do serviço.
As operadoras podem oferecer serviços de processamento e armazenamento bem como recursos de redes que garantem o desempenho da aplicação na nuvem. Além das capacidades técnicas, as operadoras podem oferecer uma única linha de suporte tanto para os serviços de rede quando os serviços na nuvem. Podem, também, potencialmente prover uma única fatura por intermédio de planos que agregam serviços na nuvem e os tradicionais serviços de redes. Esta combinação de nuvem e rede pode ajudar a proporcionar economia para os clientes na hora de investir. Ao mesmo tempo, proporciona às operadoras uma maneira de agregar receita. Esta pode ser considerada uma vantagem do modelo de negócios em relação aos datacenters centralizados que possuem apenas conhecimento para vender seus serviços sobre a Internet.
Para as operadoras móveis, a capacidade de oferecer mídia online, serviços de mídia social e jogos a partir da nuvem ajudarão a aumentar o consumo do seu principal recurso – a rede sem fio. Quanto mais interessantes forem seus serviços em nuvem, mais leais os clientes tendem a se tornar. As operadoras multi-play têm a oportunidade de dar às empresas a qualquer hora e em qualquer lugar acesso a seus aplicativos empresariais e serviços de comunicações através de redes móveis e fixas. Para essas operadoras, a qualidade da experiência na nuvem móvel será crucial para a diferenciação.
A infraestrutura é uma enorme vantagem natural para as operadoras (Alcatel-Lucent, 2011). Com recursos centrais e distribuídos que cobrem amplos territórios, as operadoras podem colocar os serviços no local que oferece a melhor relação custo benefício. Por exemplo, adicionando componentes de infraestrutura em seus escritórios centrais distribuídos, as operadoras podem levar a Nuvem para mais perto de seus clientes. Dessa maneira, a latência diminui, os custos com banda larga também diminuem e os clientes podem facilmente visitar e inspecionar o datacenter onde seus dados estão localizados sempre que necessário.
Em alguns casos, a utilização dos recursos distribuídos para fornecer serviços de nuvem fará mais sentido. Em outros casos, a utilização dos recursos centralizados será a melhor abordagem. A chave é que as operadoras podem alinhar de forma inteligente seus ativos e custos com as demandas de seus clientes e a disposição de pagar por desempenho garantido. Devido a também serem proprietários da rede de acesso, as operadoras podem garantir a qualidade de serviço e desempenho desde a máquina virtual no datacenter até as instalações do cliente.
Análise de Complexidade dos Modelos de Serviço
As operadoras de telecomunicações que iniciam no mercado de computação em nuvem oferecem primeiramente serviços de infraestrutura, que permitem que os clientes comprem poder computacional baseados na quantidade de uso desses recursos (Hanna, 2010). Tal fato pode ser explicado pela familiaridade que as operadoras comumente têm com serviços similares aos que são oferecidos no modelo IaaS e pela menor complexidade de implantação desse modelo (figura 2).
Figura 2: Gráfico de complexidade dos modelos de serviço da Computação em Nuvem Fonte: Cisco, 2009
A tabela 1 resume algumas das principais diferenças entre os modelos de serviços da Computação em Nuvem. A partir dessa tabela, pode-se verificar que o modelo IaaS possui a menor complexidade de implantação e manutenção em relação aos outros dois modelos, pois o único requisito para o provedor do serviço é que a infraestrutura esteja disponível. O cliente fica responsável, portanto, por configurar a plataforma e as aplicações.
Tabela 1: Comparativo entre IaaS, PaaS e SaaS (Loeffler, 2011)
Os modelos PaaS e SaaS aumentam a responsabilidade do provedor. Visto que o provedor, ao oferecer PaaS e SaaS, ainda necessita prover as mesmas características de elasticidade e entrega sob demanda para preencher os requisitos básicos da nuvem, torna-se evidente que implementar primeiramente IaaS pode, devido às características intrínsecas deste modelo de serviço, aumentar a capacidade de prover de maneira mais adequada PaaS e SaaS. Apesar de não significar que seja obrigatório oferecer SaaS e PaaS sobre IaaS, isto permite que tais serviços possam ter uma melhor escalabilidade.
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